A Morgadinha dos Cannaviaes. Dinis Júlio
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Название: A Morgadinha dos Cannaviaes

Автор: Dinis Júlio

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежная классика

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СКАЧАТЬ style="font-size:15px;">      – Tanto não digo; mas não o entenderão; isso não.

      – Porém a minha doença não é só d'essas, que se não dão na aldeia, prima Magdalena; eu creio que verdadeiras desordens organicas…

      – Ah! tambem? – Com esse aspecto de robustez?!..

      – Se eu sei o que tu estás ahi a dizer Lena! – disse D. Victoria, que não tinha percebido bem o dialogo.

      – É que eu, minha tia, teimei em fazer perder ao primo Henrique todos os maus habitos da cidade, com que veio para aqui. Sem isso não pode curar-se.

      – Sujeitar-me-hei da melhor vontade a tão agradavel dominio.

      – Principia mal, se principia com uma fineza. Já o avisei ha pouco…

      – Será necessario tornar-me grosseiro, para me salvar? N'esse caso renuncio á cura.

      – Grosseiro, não; basta que seja razoavel e sobretudo…

      – Acabe.

      – Acabo? eu sei? Eu ás vezes sou sincera de mais.

      – Eu adoro as sinceridades.

      – Já que o quer… É preciso que seja razoavel e sobretudo… desaffectado.

      Henrique de Souzellas mordeu ligeiramente os labios, córando.

      – Então acha?..

      – Acho que está sempre a imaginar-se n'um salão; faz uns gastos de galanteria, desnecessarios e perdidos.

      – Ó meninos, eu não vos entendo – repetia D. Victoria.

      Magdalena sorriu.

      – Digo eu que…

      Um criado entrando com as cartas do correio não a deixou continuar.

      – Sempre chegou o correio! – exclamou Magdalena com vivacidade, recebendo as cartas. – Por que veio tão tarde?

      – A mulher contou-me lá umas historias de uma quéda, e…

      – Coitada! Aconteceu-lhe algum mal?

      – Esteja descançada, minha senhora. Ella partiu já e era um gôsto vêl-a a correr.

      Magdalena abriu com pressa a carta recebida.

      – É de meu pae – disse ella, olhando-lhe para a lettra e, depois de pedir licença, começou a ler para si.

      – Pois agora – dizia, n'este meio tempo, D. Victoria a Henrique – o que deve é aproveitar estes bonitos dias para dar alguns passeios. As pequenas acompanham-n'o. Aonde me dizias tu no outro dia que querias ir, Christina?

      – Eu! disse Christina, córando.

      – Tu, sim, menina. Inda hontem me falaste n'isso. Ora onde era?..

      – Á Senhora da Saude, mamã.

      – Ai, é verdade, á Senhora da Saude. Ahi está já um passeio bonito. Vê? Saem d'aqui uma manhã cêdo, levam alguma coisa para lá comer, porque o ar do monte abre o appetite, e a cavallo estão lá n'um instante…

      – A cavallo, mamã! d'aqui á Senhora da Saude? Ora! Vae-se muito bem a pé – notou Christina do lado.

      – Isso é por os açudes.

      – Pois por onde haviamos de ir?

      – Por a Granja, que é melhor.

      – Por a Granja! É uma legua!

      – Que tem? mas escusam de trepar como cabras por o lado dos açudes, que é até perigoso; e depois para que hão de ir a pé, se para ahi estão os cavallos sem fazerem nada? É vontade de se cançarem.

      – Mas appetece ainda mais n'este tempo. Só se… só se alli o sr. Henrique… – disse Christina, embaraçada ao continuar.

      – Eu o quê, minha senhora?

      – Perdão – interrompeu D. Victoria. – Por que não has de tu chamar primo ao primo Henrique? pois não chamamos tia á tia Dorothéa?

      – Por isso mesmo, mamã, – respondeu Christina – os sobrinhos da tia Dorothéa não são…

      – Não averiguemos d'esses parentescos, priminha, – acudiu Henrique – eu acceito a proposta da mamã, peço para ser considerado do numero de seus primos.

      Christina baixou os olhos, sorrindo.

      Henrique proseguiu:

      – Mas parece que receiava por mim, quando falou em ir a pé á Senhora da Saude. Não sei onde é o logar, mas desde já me comprometto a não cançar.

      – Não tem que saber – disse D. Victoria, caminhando para uma janella. – Ella lá está. Olhe que inda é necessario saber trepar.

      – Tendo duas tão galantes companheiras de viagem – tornou Henrique, depois de reparar no monte escarpado que ficava a alguma distancia d'alli, o mesmo que o almocreve lhe mostrou – parece-me que daria a pé uma volta ao globo e que subiria a correr o Pico de Tenerife.

      – O que eu lhe digo, primo – accrescentou D. Victoria – é que se acautele, porque se lhes vae a fazer todas as vontades, tem que vêr.

      – Inda que morresse em tão agradavel serviço, teria de agradecer a Deus a morte.

      – Cá me chegou aos ouvidos o cumprimento – disse Magdalena, que continuava a ler. – Logo ajustaremos contas.

      – É implacavel esta nossa prima, não acha? – perguntou Henrique, sorrindo, a Christina, que por unica resposta só soube sorrir tambem.

      – Pois então, é arranjarem, é arranjarem isso e quanto antes, que não ha que fiar no tempo. Eu se pudesse tambem ia, mas já não são passeios para mim, e depois estes criados…

      Henrique de Souzellas receiou nova divagação sobre o assumpto predilecto de D. Victoria; mas felizmente acudiu-lhe a morgadinha, que disse, terminando a leitura da carta:

      – Escreve-me o pae que tenciona vir passar comnosco as ferias do Natal e trazer Angelo comsigo. Promette demorar-se até o dia dos Reis.

      As creanças saudaram a nova com gritos de alegria, e saltos de causarem inveja a um clown de circo.

      D. Victoria zangou-se.

      – Então que pouca vergonha é essa? Parecem-me um bando de patetas! Ora vamos! Já quietos. A culpa tem a Ermelinda, que já vos devia ter levado para a quinta. Ó Senhor, esta praga de criados, que nunca ha de fazer a sua obrigação!

      As creanças reprimiram um pouco mais as expansões de seus jubilos, mas ainda ficaram cantando a meia voz, em musica de composição d'ellas, o seguinte:

      – Vem o primo Angelo! Vem o primo Angelo! Ora viva, viva! Ora СКАЧАТЬ