Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV. Brandão Zephyrino
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Название: Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV

Автор: Brandão Zephyrino

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежная классика

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isbn: http://www.gutenberg.org/ebooks/32296

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СКАЧАТЬ depois de viuvo, pretendido desposar-se com a princeza D. Joanna, por si só bastaria, para lavar a nodoa, com que macularam a reputação da mulher de D. Henrique.

      Mas a tumida onda sediciosa não envolveu unicamente os povos de Castella; saltou a fronteira portugueza, e arrastou na resaca o nosso D. Affonso V, que no conceito de Camões,

      Fôra por certo invicto cavalleiro,

      Se não quizera ir ver a terra Iberica.

      III

       NOVO ESCUDEIRO

      Após o passamento de Henrique IV, todas as esperanças dos partidarios de D. Joanna firmavam-se no heróe de Arzilla; e as de D. Isabel no apoio de Aragão principalmente. Estava préstes a travar-se a lucta, em que devia afinal decidir-se da sorte das duas contendoras, collocadas em circumstancias mui diversas.

      Isabel, ainda em vida de seu irmão, soube preparar-se a tempo; Joanna era uma creança inexperiente, filha de uma senhora sem prestigio, e sem a necessaria energia para collocar-se á frente do movimento, que se operava a favor da justa causa da princeza de Castella.

      Tambem a morte veiu surprehender a infeliz viuva no inicio das hostilidades, de sorte que sua filha, orphã prematura de páe e mãe, ficou inteiramente á mercê da versatilidade caracteristica de seus parciaes. Estes, mais por acudir á vingança de seus odios particulares, e ao accrescentamento de seus patrimonios, do que por zelo do bem publico, ou amor de justiça, trataram de comprometter D. Affonso V, para lhes saciar a cobiça.

      Estava o rei de Portugal em Extremoz, quando lhe chegou ás mãos o testamento, em que seu cunhado Henrique IV declarava ser a princeza D. Joanna sua filha, e a nomeava herdeira dos reinos de Castella e Leão, pedindo outrosim a D. Affonso V, que acceitasse a governança d'elles e casasse com a sobrinha.

      Ouviu D. Affonso sobre o assumpto o parecer de seu filho, bem como o dos grandes e principaes do reino, a quem consultou mais talvez pelo respeito ás praxes estabelecidas, do que resolvido a seguir qualquer conselho, que contrariasse o seu reservado intento. A fim de saber não só quantos e quaes eram os magnates castelhanos legitimistas, como de certificar-se da valia d'elles, enviou a Castella Lopo de Albuquerque, seu camareiro-mór, depois conde de Penamacor.

      A esse tempo chegava D. Juan de Guzman a Extremoz, onde foi recebido pelo monarcha.

      Não podia ser mais a proposito esta visita, e D. Affonso folgou muito com ella, dando ao seu hospede cordialissimo agasalho, como naturalmente pediam a lhaneza e affabilidade do rei, que captivava com o seu trato grandes e pequenos.

      Entregou-lhe o recem-vindo uma carta, em que o duque de Medina Sidonia o apresentava a D. Affonso, garantindo a approvação antecipada a quanto entre ambos ficasse assentado.

      Terminada a leitura do escripto, começou Guzman por dizer:

      – Não ignora voss'alteza, quanto é lastimoso o estado de Castella. O reino sem direcção, nem governo, combatido por todos os principios de dissolução, caminha rapidamente para uma ruina tremenda, e nas mãos de voss'alteza está o poder evita-la.

      – São esses os meus desejos; – replicou D. Affonso – mas, como sabeis, a empresa não é facil, por isso careço de inteirar-me da lealdade dos que se propõem pugnar pela justiça e direitos da princeza, minha sobrinha.

      – Da parte de meu irmão – tornou Guzman – venho eu prestar homenagem a voss'alteza, a quem elle jura servir em tudo, obrigando-se a auxiliar, tomar e reconhecer por seu legitimo rei e Senhor, se voss'alteza se desposar com a senhora D. Joanna, e fôr sem demora tomar posse do governo de Castella.

      – O duque é digno dos meus louvores, e mais ainda pela fórma, como procede, offerecendo-me occasião de conhecer-vos, para muito vos estimar.

      – Mercê a voss'alteza, meu Senhor. Em breve poderei talvez provar-vos a gratidão do meu animo, onde tambem o seu esforço mais se manifeste.

      – Praz-me ouvir-vos, e ver-vos tão deliberado!

      D. Juan de Guzman cortejou D. Affonso, e disse-lhe com aprimorados ademanes de cavalleiro:

      – Espéro, que meu irmão me confie o comando de dois mil cavallos, que desde já põe ao serviço de voss'alteza.

      – É contingente valioso esse – observou D. Affonso.

      A respeito das forças, com que poderemos contar devo em breve ser definitivamente informado pelo marquez de Vilhena.

      – Assim o creio. Talvez a demora dos seus esclarecimentos dependesse da resposta de meu irmão.

      – Porquê?

      – Á hora da minha partida para Portugal recebeu o duque uma carta de D. Diogo, na qual lhe perguntava com quantos cavallos concorria, pois desejava enviar a voss'alteza uma nota das tropas castelhanas, com que poderiamos entrar em campanha, e a Luiz XI a da totalidade do exercito.

      – E o marquez communicava tambem ao duque o computo dos já inscriptos?

      – Sim, meu Senhor. Anda por dezoito mil cavallos; devendo, porém, este numero elevar-se, quando constar a entrada de voss'alteza em Castella, pois muitos dos cavalleiros, que até agora não adheriram, o farão immediatamente.

      D. Affonso V não poude occultar o jubilo, que lhe causou esta nova de ter já por si em Castella tão importantes forças; e com a sua habitual familiaridade affirmou a D. Juan de Guzman:

      – Eu tenho muita confiança nos cavalleiros castelhanos. Não os ha mais briosos certamente.

      – Mercê por elles, meu Senhor.

      – Agora aqui vos deixo para serdes recebido pelo principe, que muito gostará de conversar comvosco.

      É fácil de presumir, sobre que versaria principalmente a palestra, sabendo-se do interesse, que mostrava o principe D. João em seu páe acceitar o papel, que Henrique IV lhe distribuira no testamento.

      D. Juan de Guzman poucos dias se demorou em Portugal; foi, porém, o tempo sufficiente para D. Affonso e seu filho conhecerem e apreciarem o pagem, que viera na comitiva. D'elle fizeram grandes gabos ao fidalgo sevilhano, o qual, mais talvez por alardear philaucias de familia, do que por enaltecer as qualidades do môço, ou por ambas as razões, referiu em resumo: que da Covilhan costumava ir a Sevilha o páe do pagem commerciar e conquistára grandes creditos. Tendo afinal estabelecido a sua residencia n'aquella cidade, onde era geralmente estimado, accedeu ao pedido, que lhe fez o duque de Medina Sidonia, de deixar-lhe educar o filho, então muito creança ainda, mas dotado já de singular viveza. Como fallecesse o mercador, pouco depois, e já viuvo, ficára o pagem inteiramente confiado ao amparo do duque. Possuia prendas muito estimaveis, poderia em breve ser um excellente cavalleiro, e chamava-se Pero da Covilhan, por causa da sua procedencia.

      Esta narrativa ainda mais aguçou a D. Affonso e ao principe o appetite de terem o pagem ao seu serviço; e D. Juan de Guzman já havia reconhecido isso na maneira como lhe fallavam d'elle.

      Na vespera do seu regresso a Sevilha, perguntou Guzman a Pero da Covilhan:

      – Quereis ser pagem do rei de Portugal?

      – Tudo quanto sou – respondeu Pero – devo ao senhor duque, por isso não tenho animo de separar-me d'elle.

      – Esperava essa resposta; – volveu Guzman – mas se eu vos pedir, que fiqueis?

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