Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV. Brandão Zephyrino
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Название: Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV

Автор: Brandão Zephyrino

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежная классика

Серия:

isbn: http://www.gutenberg.org/ebooks/32296

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СКАЧАТЬ seria sómente esse o pensamento, que o levou a Castella?

      Se o leitor, em alguma hora de seu desenfadamento, compulsasse os codices da preciosa collecção pombalina, que possue a Bibliotheca Nacional de Lisboa, em um d'elles encontraria a seguinte lembrança muito instructiva:

      «Sendo antes destas tres escreturas atras contheudas trautado casamento delRei Dom Affonso o quinto, padre delRei nosso Senhor e sobre elle com a Rainha Dona Isabel, que na era presente reinava, foi com embaixada a Castella o Arcebispo de Lisboa Dom Jorge grandemente, que hoje he Cardeal de titolo de Sam Pedro Marceleni, e está em corte de Roma privado e amado do Papa Innocencio, que foi Cardeal malfetano, e asi outros embaixadores, e vindos outros de Castella ao dito Rei sobre o mesmo caso, esta senhora Rainha Dona Isabel se casou com elRei de Cecilia e Principe d'Araguam, filho delRei Dom João d'Araguam, que primeiro foi Rei de Navarra, o qual casamento fez por mão do Arcebispo de Tolledo dom Affonso Carillo, e do Almirante avoo do dito Rei da parte de sua mãi, e fique em memoria que o fez porque o dito Senhor Rei Dom Affonso a não quiz, querendo ella muito, e depois elle a quisera e ella como as molheres naturalmente sam vingativas o não quiz quando elle quisera, e folgou de lhe dar competidor e de o anojar, como na verdade foi, ca desta mesma causa naceo sua entrada em Castella com o titolo de sua sobrinha, filha delRei Dom Amrique per dar trabalho á Rainha Dona Isabel, e se vingar della, e como as cousas de sua entrada sobcederão fique do Coronista ao carguo.»

      Com effeito Henrique IV, annos antes do seu passamento, offerecera, como vimos, a mão de D. Isabel a D. Affonso V; e desejou igualmente, que o principe D. João casasse com a princeza de Castella, D. Joanna. D. Affonso dilatou a sua resolução, e sómente quando muito instado por seu cunhado, pelo principe seu filho, e pelas diligencias do marquez de Vilhena, mandou uma embaixada pedir a infanta. Os embaixadores esperavam pela resposta na aldeia de Cientpozuelos, e afinal foram despedidos, dizendo-se-lhes, que se trataria por meios brandos de reduzir a infanta a obedecer a seu irmão. O arcebispo de Toledo cuidou immediatamente de dissuadir D. Isabel d'este enlace, pondo em relêvo a dilação descortêz de D. Affonso, aconselhou-a, a que preferisse Fernando de Aragão, e entendeu, que, para frustrar as idéas dos adversarios, devia fazer secretamente os preparativos, precipitar os tramites do negocio, e de um modo ou outro verificar o matrimonio, para que, realizado e consumado, não désse lugar ao arrependimento da princeza. E maior préssa se deu ainda, quando soube, que de Roma havia sido enviada a Bulla de Paulo II, com data de 23 de junho de 1469, concedendo a dispensa a D. Affonso e D. Isabel. Fabricou então um breve apostolico, datado de 28 de maio de 1464 e com assignatura falsa de Pio II, pois se oppunha á execução do desposorio com Fernando o impedimento da consanguinidade dos nubentes, e não havia outro meio de velar o sigillo e realizar o negocio com promptidão.

      O atribiliario prelado toledano comprazia-se em forjar caballas e commetter torpezas.

      IV

       JORNADA INFELIZ

      Resolveu D. Affonso V entrar em Castella pela villa de Arronches, onde mandou reunir o exercito. Antes da marcha, e conforme prescrevia o Regimento de Guerra, não só o rei, mas todos os fidalgos, que tinham de acompanha-lo, receberam a Sagrada Eucharistia, indo depois toda a hoste assistir a uma missa solemne, e sendo pelo celebrante benzida a bandeira real mettida na funda.

      Terminados estes actos, ao alvorecer de um formoso dia de maio de 1475, D. Affonso V

      ......«tocado de ambição

      E gloria de mandar amara e bella,

      Sai cometter Fernando de Aragão,

      Sobre o potente reino de Castella.»4

      Lá foram ajuntar-se com elle o duque de Guimarães, o conde de Marialva, Ruy Pereira e outros fidalgos, os quaes, atalhando pela Beira, chegaram a Piedra Buena, onde acampou todo o exercito, composto de cinco mil e seiscentos cavallos, e quatorze mil infantes. Alli mandou D. Affonso V, que tomou então o supremo commando, chamar á sua tenda o condestavel, o marechal, o ouvidor da hoste e o meirinho, bem como todos os fidalgos, cavalleiros e capitães, a quem recommendou obediencia em tudo aos quatro primeiros; verificou o numero da gente que havia, e deu as necessarias providencias no tocante á ordenança, que as tropas deviam conservar durante a marcha.

      Na frente saíu o adail-mór com um troço de ginetes, formando a guarda avançada; após elle o marechal, que era o aposentador e assentador do arraial; immediatamente o capitão de ginetes, seguido pelo capitão da vanguarda real, e logo a carriagem; na rectaguarda o rei, e, cobrindo-a, o condestavel, cujo cargo exercia em parte o duque de Guimarães. Formava as alas a fina flor da cavallaria portugueza, e entre a vanguarda e a rectaguarda não mediava mais de um tiro de bésta, a fim de poderem mutuamente soccorrer-se.

      Ao condestavel, que era o general da milicia, pertencia marchar na vanguarda. Na presente formatura as attribuições e preeminencias d'essa dignidade estavam repartidas por D. João, marquez de Montemór, filho do duque de Bragança D. Fernando I, e por seu irmão o duque de Guimarães.

      A cavallaria compunha-se de cavalleiros e escudeiros de geração nobre; de lanças, que os senhores de terras tinham obrigação de dar, acompanhando cada uma dois arqueiros, um pagem e um escudeiro; e de cavalleiros da ordenança dos povos do reino, sendo apurados conforme a contia, que devia possuir cada morador para ter cavallo e armas. Estes sómente eram reputados tropa regular e effectiva, e entravam na conta ou rezenha das praças, que constituiam os corpos chamados bésteria, denominando-se bésteiros do conto tanto os de cavallo, como os de pé.

      Dividia-se a cavallaria em pesada e ligeira ou á gineta. Na primeira, o homem era arnezado, e o cavallo bardado e encapacetado. Na segunda, os cavalleiros pelejavam armados de lança e adarga, usando de estribos curtos no apparelho do cavallo.

      A infanteria constava de bésteiros, espingardeiros e piqueiros de pé.

      Na bésteria differençavam-se os chamados de polé, por trazerem bésta, que se armava com uma roldana d'aquelle nome; os bésteiros da camara, que eram acontiados e fornecidos pelas camaras do reino; bésteiros de garrucha, mais abastados e considerados, que os de polé, armados com bacinete de camal ou de baveira, e tendo bésta com garrucha e solhas para arremessar virotões; bésteiros de fraldilha, por levarem uma fralda de couro, que lhes servia como de escudo contra as settas do inimigo; e bésteiros do monte ou caçadores.

      Notaremos que o numero das armas de arremesso se reduzia cada vez mais, á medida que as de fogo triumphavam da repugnancia, com que foi acolhida, durante muito tempo, a sua invenção, mórmente pela cavallaria, que considerava cobardes similhantes armas, com especialidade as portateis. No reinado de D. João II apparece já o cargo de anadél-mór dos espingardeiros, concedido a Payo de Freitas, cavalleiro da casa real, cabendo mais tarde ao rei D. Manoel a sua vez de extinguir em 1498 os acontiados e bésteiros, tanto de conto, como da camara, todos os cargos de officiaes móres e pequenos da bésteria, deixando unicamente os bésteiros do monte em alguns lugares da Beira Alta, Alemtejo e Algarve, com um anadél-mór, que era Pedr'alves, cavalleiro da sua casa, como consta da carta de 29 de maio de 1499.

      A segunda dignidade do exercito de D. Affonso V era a de marechal, a quem pertencia, além de outras obrigações e prerogativas: repartir os alojamentos; executar e fazer cumprir as ordens, que recebia do condestavel; e julgar as causas civeis e crimes das gentes de guerra, levando um ouvidor comsigo para esse fim.

      O alféres-mór levava a signa ou bandeira, a qual não estendia ou desenrolava sem especial determinação do rei, quando estivessem á vista do inimigo, e costumava ter um alferes pequeno, que o substituia. As bandeiras dos fidalgos não podiam tirar-se das fundas e estender-se, СКАЧАТЬ