Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV. Brandão Zephyrino
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Название: Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV

Автор: Brandão Zephyrino

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежная классика

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isbn: http://www.gutenberg.org/ebooks/32296

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СКАЧАТЬ bom Perico! – exclamou affectuosamente Guzman. – Muito me custa deixar-vos cá; mas o senhor D. Affonso, que, dentro em pouco será rei de Castella, mostra desejos de ser vosso amo, e eu tenho-os de o bem servir; por isso entregar-vos-ei a elle, certo de que meu irmão assentirá ao meu proposito.

      No dia seguinte saiu D. Juan de Guzman para Sevilha. D. Affonso V dirigiu-se a Evora, levando no seu sequito a Pero da Covilhan, já escudeiro, servido de armas e cavallo, sem embargo de não ter completado ainda vinte annos.

      O rei antes da partida despachou o seu Arauto Lisboa com cartas para Luiz XI, a quem communicava a resolução que tomára, de receber por esposa a princesa D. Joanna, e de entrar em Castella com um grande exercito, pois a isso o estava convidando a maior parte da grandeza castelhana. E sob o pretexto de recear, que na jornada sobreviesse ao seu Arauto algum accidente ou enfermidade, que o retardasse, escreveu de novo ao rei de França, insistindo agora principalmente em demonstrar os legitimos e inauferiveis direitos da rainha D. Joanna. Ponderava habilmente, que o não ser d'elles esbulhada, era conveniencia de ambos os monarchas, por quanto, se Fernando se apoderasse de Castella, viria a ser um vizinho formidavel e perigoso, tanto para Portugal, como para França.

      Procurava assim conciliar com acertada politica as boas graças de Luiz XI, que mui interessado era, em que no throno de Castella estivesse um principe capaz de manter e conservar as antigas confederações e allianças d'esse reino com a França; mas contra todos em geral e sem excepção.

      N'este ponto offerecia-se a difficuldade de ser Portugal alliado da Inglaterra, antiga inimiga da França, e querer Luiz XI, que Portugal ficasse comprehendido no tractado a celebrar com Castella.

      De certo modo veiu o nosso monarcha a prestar-se ás vistas politicas de Luiz XI; o que determinou este a promulgar uma carta patente sobre o soccorro, que dava a D. Affonso V, nomeando sire d'Albret commandante de um exercito destinado a invadir Guipuzcoa e Biscaia.

      Com quanto o duque de Bragança tivesse já dado lealmente por escripto o seu parecer – que foi archivado a seu pedido, para constar no futuro – ácerca da entrada do exercito portuguez em Castella, D. Affonso, antes d'este se pôr em marcha, conversou ainda particularmente com o duque a respeito do assumpto.

      – Insistis na vossa opinião? – perguntou o monarcha ao duque de Bragança.

      – Certamente, meu Senhor – respondeu o duque.

      – Ora dizei-me: não deverei eu confiar nas declarações categoricas, que por Lopo de Albuquerque me enviaram os grandes de Castella?

      – Mais acertado fôra, Senhor, desconfiar d'ellas. Reparai bem, que esses mesmos, que vos chamam agora para sustentar os direitos de vossa sobrinha, são os que atraiçoaram a D. Henrique, seu rei natural, depondo-o do governo do reino.

      – Assim é. Mas não acreditais, que elles reconhecendo a justiça que assiste a minha sobrinha, queiram resgatar com uma nobre acção seus anteriores desatinos, sem embargo de esperarem tambem receber de mim grandes mercês?

      – O que me parece é, que a obediencia por elles jurada depende unicamente da sua ambição, e vem acompanhada de mais interesse, do que de fidelidade e constancia; por isso, se a sorte das armas começar a ser desfavoravel a voss'alteza, depressa abandonarão a vossa bandeira.

      – Sei, que como amigo me fallais; mas a vossa prudencia é agora descabida. Pois os nobres de Castella arriscar-se-iam por ventura a grandes perigos, offerecendo-me espontaneamente seus serviços, se duvidassem do seu e meu triumpho?!

      – De tudo são elles capazes, meu Senhor, que os não ha mais voluveis. Mas superiores em poder e em numero são-lhes os mais avisados e prudentes, tendo ao seu lado o povo, que unanimemente acclamou D. Isabel por sua rainha. E uma acclamação, como esta, é vantagem muito grande no começo dos reinados, servindo até de justificar as pretensões mais duvidosas.

      – Não ignoro quanto o poder de Castella excede o de Portugal; mas conto não só com os homens do meu reino, que são muito valentes, senão com outros tantos castelhanos, como de mais nações, que de boa vontade engrossarão o meu exercito.

      – E a D. Isabel não virão soccorros da Secilia, tanto em dinheiro, como em armas, navios de guerra, cavallos e provisões? Aragão dar-lhos-ha decerto; e até a Italia, pois são senhores d'ella, e primos dos reis da Secilia, o rei de Napoles D. Fernando, e o duque da Calabria, seu filho.

      – Sim, estão os meus adversarios bem aparentados; mas não os temo apesar d'isso, e eu tambem não nasci das pedras.3 Conto igualmente com amigos e parentes; tambem me não falta dinheiro, que é mais fiel que todos os parentes e amigos, e tenho sobretudo a Deus em meu auxilio.

      – Não pretendo demover voss'alteza do proposito, em que está; permitti, porem, que vos lembre ainda a reciproca aversão de Castella e Portugal, filha de um odio inveterado entre os dois povos; e o perigo de expôr a felicidade e a paz do vosso reino á inconstancia e capricho dos grandes de Castella. Não olvide tambem voss'alteza, que, durante a vida de seu cunhado, não queria ouvir fallar do casamento de voss'alteza com sua sobrinha, e que, acceitando-o agora, obriga o mundo, sempre prompto a desacreditar as acções dos principes, a murmurar e attribuir esta guerra a algum odio reservado…

      – Sem embargo d'isso, estou resolvido a entrar em Castella.

      – Acato a deliberação de voss'alteza, e peço-lhe me conceda licença, para ter em alguns lugares d'esse reino póstas prestes a salvar a real pessoa de voss'alteza e a minha, se necessario for.

      A vigorosa argumentação do duque de Bragança, para combater o designio de Affonso V, fez suspeitar o principe D. João, de que fôra inspirada por D. Isabel, proxima parenta do duque; suspeita essa, que dominou sempre o animo do principe, e foi mais tarde tão fatal á casa de Bragança.

      D. João oppôz-se apaixonadamente áquelle parecer, por estar convencido de que o senhor de Villa Viçosa pretendia atalhar, a que D. Affonso V aproveitasse o ensejo propicio, que se lhe offerecia, de dilatar os dominios da corôa, e unificar os reinos da peninsula. Era vivamente applaudido por alguns fidalgos portuguezes, que observavam o invariavel preceito, de não soffrerem os principes contrariedade a seus gostos. Preferiam por isso ser aduladores, especie de péste endemica das côrtes, para a qual se não descobriu ainda remedio.

      O duque de Bragança havia previsto, quanto ia passar-se em Castella; e os successos, como veremos, bem mostraram ser mais difficil illudir a prudencia, do que lisonjear um principe.

      Falleceu o duque, antes de se pôr em marcha o nosso exercito, e seu filho primogenito D. Fernando, duque de Guimarães, que lhe succedeu em suas grandezas, tomou parte na expedição com seus irmãos, vassallos e dinheiro, sem que lhe entibiasse o zelo e a generosidade, com que servia o seu legitimo rei, consideração alguma pelo parentesco, que tão estreitamente o ligava aos principes do partido contrario.

      Até aqui havia D. Affonso V reinado com muita gloria e auctoridade, sendo alvo da estima e veneração dos principes seus contemporaneos, alguns dos quaes consumiam seus patrimonios e forças em guerras civis e domesticas, em quanto elle as expendia em activar o influxo civilisador da religião catholica, e ampliar a soberania de Portugal, havendo passado tres vezes a Africa, onde seus cavalleiros mais acendraram a fama luzitana, e elle mostrou sempre a alteza de animo, de que era singularmente dotado.

      A inclinação e gosto, com que se occupava na conquista da Africa pela Barberia, faziam-n'o olvidar a grandeza dos descobrimentos do Oceano, iniciados pelo infante D. Henrique seu tio. Quem sabe, porém, se elle continuaria a obra do solitario de Sagres, uma vez que não fosse impellido pela generosa idéa СКАЧАТЬ



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