Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV. Brandão Zephyrino
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Название: Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV

Автор: Brandão Zephyrino

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежная классика

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isbn: http://www.gutenberg.org/ebooks/32296

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СКАЧАТЬ juramento, com a condição de sua irmã não casar sem elle o consentir. Sacrificou d'este modo a propria honra e a da rainha, sua mulher, sendo injustamente postergados os interesses da innocente infanta, sua filha.

      Do juramento anteriormente feito a D. Joanna, foi absolvido o reino pelo legado pontificio, o qual não attendeo os protestos da rainha contra tudo quanto se accordou em opposição aos direitos de sua filha, porque havia recebido o encargo de apaziguar dois litigantes, e, sendo-lhe impossivel desatar um nó, julgou mais prudente corta-lo.

      Agora todo o ardor dos turbulentos se concentrou na escolha de marido para D. Isabel.

      O almirante de Castella queria, que a infanta se desposasse com o seu neto D. Fernando, para ter em Aragão um auxiliar poderoso; o marquez de Vilhena oppunha-se, não para obstar á união das duas corôas, senão para olhar pelo engrandecimento da propria casa, pois lhe haviam proposto antes o enlace d'aquelle principe com uma filha sua. De sorte que, ainda mal apagadas umas discordias, surgiam logo outras.

      Era esta a politica dos magnates rebeldes. Convinha-lhes ter sempre a corôa sob a sua influencia, por isso eternisavam as parcialidades, buscavam em tudo elementos de perturbação, e a auctoridade real era incessantemente um joguete em suas mãos.

      Podésse muito embóra a pusilanimidade de Henrique IV, ou a sua falta de previsão e dignidade no poder, fomentar o germen das sedições; nada d'isso, porém, as justificava: serviram unicamente de deixar na historia de um povo illustre uma pagina indecorosa.

      O casamento de Fernando com Isabel foi para o pae d'esse principe uma nova campanha, que tratava de vencer, comprando a pêso de ouro os grandes de Castella.

      Entretanto Henrique IV partia com o marquez de Vilhena para Andaluzia, afim de receber umas cidades, que se administravam por seu proprio arbitrio; e depois de ter feito jurar solemnemente a sua irmã, que não casaria, fosse com quem fosse, antes de elle regressar. A infanta, porém, aconselhada pelo arcebispo de Toledo, protestou secreta e intimamente, que faria o que bem lhe parecesse; e logo escreveo ao rei de Aragão, dizendo-lhe, que consentia em unir-se a seu filho, mediante certas condições, que seriam propostas pelos emissarios, de quem ella encarregára a negociação. Mui vexatorias para o decoro do reino e do principe as consideravam os conselheiros do soberano aragonez; com tudo o matrimonio realisou-se. Correo logo que não estava valido, por se ter celebrado sem a dispensa pontificia, tão reclamada pelo proximo parentesco dos conjuges; mas como não havia escrupulos, nem difficuldades para o arcebispo de Toledo, este não hesitou em faltar á verdade, affirmando, que a curia romana lhe enviára muito a tempo o breve indispensavel.

      Quando Henrique IV recolheo a Madrid, recebeu dos sublevados uma exposição, na qual lhe participavam o consorcio da infanta, e as condições, em que se effectuára; sem deixarem, para maior ludibrio, de solicitar o perdão do seu rei, por haverem, sem seu beneplacito, preparado e conseguido tão auspiciosa união. Ao mesmo tempo Isabel dirigio a seu irmão uma carta affectuosissima, em que lhe communicava a sua mudança de estado.

      Era o cumulo da insubordinação e da impudencia!

      O desforço de Henrique IV consistio em reunir um simulacro de côrtes no valle de Lozoya, onde, perante a rainha e sua filha, fez declarar solemnemente, que era irrito e nullo o acto de se haver jurado em Toros de Guisando, a infanta D. Isabel por herdeira do throno, em virtude de concessão feita por elle monarcha, pois lhe fôra esta arrancada á força, e offendia os direitos de sua legitima filha. Assistiram a essa assembleia alguns delegados de Luiz XI, que celebraram por procuração o casamento de D. Joanna com o irmão d'aquelle soberano. As cidades, que se prezavam de leaes, sendo Sevilha uma das primeiras, deram a tudo seu assentimento; mas o noivo da princeza não chegou a cumprir a palavra, que por meio de poderes especiaes havia empenhado.

      Por conselho do marquez de Vilhena, Henrique IV voltou-se para D. Affonso V, a quem propôz o casamento com D. Joanna, a qual levaria em dote os reinos de Leão e Castella; porém, o monarcha portuguez, mais receoso dos artificios de Vilhena do que das difficuldades do assumpto, deo largas ao negocio, e Henrique IV entretanto tentou ainda procurar para genro o infante D. Henrique de Aragão, filho de outro, que, cincoenta annos antes, havia sido o primeiro perturbador de Castella.

      Começou o anno de 1474.

      Henrique IV estava em Segovia, e o alcaide d'esta cidade, Andrés de Cabrera, teve artes de fazer, com que o soberano se avistasse no alcaçar com a infanta D. Isabel. O rei, por sua natural bonhomia, recebeo a irmã, que não solicitou, nem esperou permissão para apresentar-lhe o marido. Era D. Isabel, na phrase de um legado de Sixto IV, sobradamente animosa e discreta, para deixar de conseguir o que desejasse, por isso não tratou de desculpar-se, senão de commover o irmão a ponto de lograr induzi-lo, a que no dia de Reis lhe désse e ao marido uma prova publica de affecto, indo á missa com elles, e voltando com grande comitiva ao alcaçar. Aqui tinha o alcaide farto e delicado almoço. O rei comeo com sua irmã e cunhado, e ao cair da tarde sentio-se tão mal, que foi mister leva-lo em braços para o palacio. Em quanto esteve de cama não cessaram as deligencias, para que declarasse sua irmã por herdeira do throno. Negou-se a isso constantemente. O marquez de Vilhena advogava a causa de D. Joanna, o arcebispo de Toledo a de D. Isabel; e ao passo que esta infanta se mostrava tranquilla e disposta a sustentar a todo o transe suas pretensões á successão, D. Fernando pelo contrario, não parava em parte alguma, como quem sentia na consciencia um pêso, de que não podia alliviar-se.

      Depois do almoço de Segovia, Henrique IV nunca mais gozou saude, até que falleceo em 12 de dezembro do anno a que nos estamos referindo. Dois mezes antes tinha morrido o marquez de Vilhena, a quem succedeo seu filho D. Diogo, que assistio com o cardeal Mendoza, o conde de Benavente e o prior de S. Jeronymo, fr. João de Macuelo, aos ultimos momentos do rei em Madrid.

      Apenas o prior confessou e ministrou a Sagrada Eucharistia ao monarcha moribundo, perguntou a este o cardeal:

      – V. A. deixa testamento?

      – Deixo – respondeo Henrique IV. – O meu secretario Juan de Oviedo o apresentará.

      – E quem são os vossos testamenteiros? – continuou o cardeal.

      – Á excepção do prior de S. Jeronymo, ficam nomeados os presentes e o conde de Plasencia.

      – E a quem deixa V. A. por herdeira do throno? – insistio ainda Mendoza.

      – A minha filha D. Joanna – replicou o monarcha serena e firmemente.

      Seria grave offensa á memoria de Henrique IV suppôr, que na hora tremenda, em que elle se preparava, conforme a sua fé, para dar conta das suas fraquezas ao Omnipotente, saisse de seus labios uma mentira!

      Ainda quentes os restos do mallogrado monarcha, D. Isabel fez-se acclamar, em Segovia, rainha de Castella e Leão, mandando celebrar um solemne Te-Deum, como se acabasse de alcançar o maior triumpho. Seguidamente foi áquelle mesmo alcaçar, onde havia entrado mezes antes em companhia de seu esposo e do rei defunto, sentou-se junto d'aquella mesa, em volta da qual os tres almoçaram, e prezenteou o alcaide Andrés de Cabrera com o mesmo copo de ouro, de que se servira D. Henrique.

      Parece um sarcasmo!

      Em geral os historiadores e chronistas hespanhoes defendem e exalçam a successão de Isabel a Catholica, servindo-se, para combater a legitimidade e o direito da princeza Joanna, dos mesmos pretextos, de que lançaram mão os rebeldes.

      Não é d'este modo, que deve comprehender-se a missão da historia.

      Póde o historiador alardear a sua erudição e os seus talentos; se o seu criterio, porém, não fôr imparcial e desapaixonado, sacrificará a verdade, СКАЧАТЬ