Название: A Lista Dos Perfis Psicológicos
Автор: Juan Moisés De La Serna
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Зарубежные детективы
isbn: 9788893988469
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“Pode ser que dê para ver melhor debaixo da luz”, disse para mim, enquanto o levantava na direção de um candeeiro, que a vários metros de altura, fazia os possíveis por manter a rua iluminada.
― Nada, assim também não dá para ver. ― Afirmei após tentar observá-lo de vários ângulos.
Estava entretido naquilo quando a rua se começou a iluminar e reparei que um carro se aproximava. Guardei depressa o pedaço de papel e fui tentar pará-lo.
― Táxi! Táxi!… ― Gritei, enquanto abanava as mãos no ar para que me visse.
― Precisa de um táxi, senhor? ― Perguntou o condutor, parando do meu lado.
― Sim, obrigado ― afirmei aliviado enquanto entrava para a parte traseira do carro.
― Para onde quer ir?
― Para o Hotel Plaza.
― Teve sorte de eu passar por aqui, não é uma zona muito recomendável.
― Pois, estou a ver que não ― eu disse, vendo que se tratava de um bairro negligente.
― Está cá de visita? ― Perguntou o taxista.
― O quê? ― Devolvi, enquanto observava o bairro que atravessávamos.
― É a sua primeira vez cá na cidade? ― Insistiu.
― Não, eu moro cá.
― Onde? No hotel? ― Perguntou o taxista num tom de brincadeira.
― Sim, isso mesmo. ― Afirmei decisivo.
― Desculpe, mas não estou a perceber ― disse o homem surpreendido.
― Há anos que vivo lá, e dessa forma posso concentrar-me no meu trabalho sem a necessidade de me distrair com coisas desnecessárias como as lidas domésticas.
― Que trabalho pode ser assim tão absorvente? ― Perguntou o taxista curioso.
― Sou psiquiatra ― respondi, enquanto baixava a gola do casaco.
― Psi… quê? Dos loucos? ― Perguntou, soltando uma gargalhada.
― Aquele que trata da saúde mental dos cidadãos desta cidade ― salientei sem me deixar afetar por aquele comentário jocoso, que nem sequer era dos mais ofensivos que já tinha suportado.
― Bem, não interessa, e isso dá-lhe para viver num hotel? Você deve ganhar bem ― ele disse, enquanto fazia um gesto com os dedos indicador e polegar, indicando dinheiro.
― Nem por isso, mas como não tenho outros gastos, posso-me dar a esse luxo.
― Ah! Sim, estou a ver! ― Afirmou o taxista, mostrando um sorriso brincalhão.
― Se você fizesse contas do que gasta com o aluguer ou hipoteca, mais os gastos de luz, água, seguros e comida, provavelmente optaria por uma solução como a minha ― afirmei, fazendo-o ver as vantagens daquilo.
― Se dissesse à minha mulher que íamos viver para um hotel, a primeira coisa que ela me perguntaria era se tinha ganhado a lotaria ― o homem brincou.
― E a segunda? ― Perguntei, seguindo a sua piada.
― O que faria com a minha sogra. ― Respondeu às gargalhadas.
― Tem uma família grande? ― Perguntei intrigado.
― Grande? Se contar com a minha mulher, a minha sogra, os tios e os primos, sim. Quando nos reunimos todos, somos dez. E vem outro a caminho. E você, não é casado? ― Perguntou divertido.
― Não. Quer dizer, já fui, mas ela abandonou-me.
― Ah, lamento ― afirmou o taxista, mudando de tom.
― Não lamente, ela fugiu com outro enquanto eu estava num congresso.
― Está a falar a sério?
E começamos os dois a rir daquela situação tão absurda. Até que se seguiu um momento de silêncio, quase tão desconfortável como o que senti quando voltei para casa naquele dia e encontrei o bilhete de despedida da minha mulher, a dizer: “Espero que consigas tudo o que queres, eu também vou tentar, por isso vou-me embora”.
Eu andava sempre com o bilhete na carteira, para todo o lado que ia, mas ainda não tinha chegado a mostrá-lo a ninguém, talvez por vergonha ou por medo de partilhar os meus sentimentos. Era óbvio que ela não era feliz comigo e que queria “explorar novos horizontes”.
Assim, quando cheguei a casa, e após dar-me conta da situação, peguei na mala que trazia comigo do congresso e fui para o Hotel Plaza, onde me deixei ficar até hoje.
Não me via a viver naquela casa sem ela. Tanto silêncio, tanta solidão, naquela casa que tínhamos comprado com tanta expectativa. Onde íamos ter os nossos filhos, vê-los crescer, e que seria a nossa morada até os últimos anos das nossas vidas. E com apenas dois anos de casamento, tudo acabou desta forma. Sem um único telefonema ou uma explicação, apenas com um bilhete de despedida.
É verdade que os últimos meses tinham sido bastante agitados para mim, centrados num novo projeto – ser um dos cofundadores de uma associação internacional de psiquiatras, onde pretendíamos oferecer uma nova perspetiva às pessoas alheias à nossa ciência; publicar uma revista trimestral; arranjar financiamento para projetos de investigação; atender os meus pacientes… – e com tudo isso, acabei por me descuidar daquilo que mais queria, mas para o qual não tinha recebido nenhum sinal.
Sempre que voltava para casa, ela parecia feliz e satisfeita. Falava-me sobre o seu trabalho como professora, das dificuldades que por vezes tinha, ou de como alguma das crianças lhe tirava do sério.
Lembro-me até de que já tínhamos feito planos para nas próximas férias passarmos umas semanas numa dessas ilhas tropicais, cheias de cocos e praias de areia branca, onde o mar se confunde com o céu, e onde pudéssemos estar os dois juntos, a partilhar daquele pedacinho de céu cá na Terra. E de repente, de um dia para o outro, restou apenas um bilhete.
― Chegámos! ― Disse o taxista ao parar em frente à entrada principal do hotel.
― Obrigado! ― Respondi, pagando-lhe pela corrida e saindo do carro.
― Boa noite! ― Saudou o porteiro do hotel.
― Boa noite! ― Respondi enquanto subia novamente a gola do casaco e entrava no hotel com alguma pressa, uma vez que o tempo tinha começado a arrefecer.
Depois de subir as escadas, cruzei a porta giratória e dirigi-me à receção.
― Boa noite, quarto 311. Tem correspondência para mim? ― Perguntei enquanto esperava que me dessem a chave do quarto.
― Não doutor, mas aqui tem os jornais de hoje, tal como pediu.
― Muito obrigada! СКАЧАТЬ