Название: A Lista Dos Perfis Psicológicos
Автор: Juan Moisés De La Serna
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Зарубежные детективы
isbn: 9788893988469
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Embora que para alguns aquilo pudesse ser enfadonho, para mim era enriquecedor ver como pensavam e atuavam em outras latitudes, com costumes e formas de expressão tão singulares e características. Mas bem, tudo isso tinha ficado para trás e tudo o que restava agora era algum álbum de fotos ou coisa parecida.
― Táxi! ― Gritei ao sair do edifício, depois de me ter despedido do porteiro, com o qual tinha desenvolvido uma boa relação, pois embora não me quisesse meter nos seus assuntos pessoais, vez por outra, procurava-me para o consultar a respeito disso.
Por vezes, custava-me manter a distância dos outros, principalmente quando tinham conhecimento da minha profissão e queriam consultar-me devido a algum caso pessoal ou de algum familiar.
A verdade é que não os podia censurar, embora por vezes fosse desconfortável ter que me negar a atendê-los no meio do corredor ou na rua, sem se darem conta de que existe todo um protocolo estabelecido para que cada paciente usufrua de um tempo, espaço e tranquilidade durante a sua consulta.
Jamais ocorreria a alguém pedir a um cirurgião que lhe operasse no meio da rua, pois era exatamente isso que me pedia, que “operasse a sua alma” em qualquer sítio.
― Táxi! ― Voltei a gritar, enquanto levantava a mão.
― Para onde quer ir? ― Perguntou o condutor quando entrei no seu carro.
― Ao balé, para ver esta obra ― referi, enquanto lhe mostrava o bilhete que tinha deixado fora da caixa, a qual eu levava comigo.
― Vai ser uma longa noite? ― Interrogou o taxista com um sorriso matreiro.
― O quê? ― Falei, estranhando o seu gesto.
― Esta noite vai engatar, de certeza ― respondeu, piscando-me o olho.
― Está a referir-se à caixa? ― Perguntei, reparando que não tirava o olho dela ― pois saiba que não é minha e que tenho que a devolver ao dono, embora não saiba quem ele é.
― Claro! Claro! ― Disse o motorista enquanto remexia na sua camisa ― Olhe, esta é a minha mulher, já estamos casados há dez anos e conhecemo-nos num sítio como esse. Quer dizer, foi numa ópera, embora não me agradem essas coisas, ela adora tudo isso de se aperaltar e ir a sítios elegantes. Estive quase três meses a poupar para poder ter uma noite inesquecível, e no fim, deu tudo certo. A única coisa que lhe disse foi para se vestir de forma elegante e tirar a tarde de folga no trabalho. E foi lá que lhe fiz a derradeira pergunta, e desde então, estamos juntos até hoje ― comentava o taxista enquanto olhava com ternura para a foto desgastada da sua mulher.
― Bom, eu vou fazer perguntas, mas não vai ser essa ― esclareci, embora sem sucesso.
― Chegámos. ― Disse o taxista com um largo sorriso no rosto. ― Boa sorte!
― Sim, obrigado ― respondi sem querer entrar em mais detalhes acerca daquela tarde anormal, em que tinha aceitado consultar de improviso uma mulher com uma caixa, que eu agora trazia comigo e que me levava até um espetáculo de balé que eu desconhecia.
Não é como se eu fosse fã desta arte, mas em certas ocasiões, sobretudo quando ia a congressos, organizavam-se eventos culturais lá perto, dignos de se contemplar pelo grande esforço feito por parte dos seus organizadores.
Estava diante da porta de um teatro, algo que me chamou à atenção, pois não era habitual haver uma apresentação de balé num lugar daqueles. E chegada a hora de entrar, apresentei o bilhete e o porteiro disse:
― Boa noite! Esperávamo-lo com algum nervosismo.
― A mim? ― Perguntei, surpreso com aquela saudação tão invulgar.
― Aguarde aqui, por favor, enquanto aviso os restantes.
E tendo dito isto, abriu uma porta interna e gritou:
― Já chegou! Preparem-se todos.
― Todos quem? ― Voltei a perguntar sem saber bem a que se devia aquela agitação.
― Venha, pode entrar! ― Disse uma jovem, abrindo uma porta lateral que impedia a passagem do lado da janela de acesso.
― Obrigado, mas não estou a perceber a que se deve tanta atenção ― eu disse com um ar de surpresa, misturado com cansaço.
― Venha comigo! ― Continuou a rapariga enquanto nos esgueirávamos por uma passagem estreita que ia dar a uma pequena sala.
― Chegue aqui, por favor ― disse outra pessoa, através de um dos assentos.
― Por onde é que posso descer? ― Perguntei ao ver que me encontrava no meio de um pequeno cenário, enquanto a rapariga se retirava.
― Lá ao fundo, do seu lado direito, há três degraus que não são muito grandes ― respondeu a pessoa que se levantava do assento.
Quando dei com o lugar, disse para a pessoa que me recebera com a palma da mão aberta:
― Qual é o meu lugar?
― Qualquer um! ― Afirmou com um largo sorriso.
― Como assim? ― Perguntei surpreendido com aquilo.
― Pode sentar-se onde lhe apetecer. Agora preciso retirar-me ― dizia enquanto subia para o cenário de onde tinha descido e desaparecia pelo mesmo lugar que a rapariga que me tinha trazido até ali.
― Senhoras e senhores! Boa noite, antes de mais nada, quero agradecer a vossa presença, espero que esta obra seja do vosso interesse. E sem mais demoras, comecemos. ― Disse o bilheteiro que agora envergava uma jaqueta verde e umas calças de malha da mesma cor.
Olhei em volta para ver se havia mais espetadores naquela sala, mas não consegui ver ninguém. Aquilo surpreendeu-me, pois não percebia o que é que se estava ali a passar. Tinha a certeza de que estava no lugar certo, que a morada e inclusive o bilheteiro, que tudo isso estava correto. À exceção do que se tinha passado das portas para dentro.
No palco, aquelas três pessoas apresentavam e dançavam sucessivamente, fazendo trocas constantes de roupa e de entoações.
De início custou-me um pouco perceber qual era a peça, mas logo dei-me conta de que estava diante de uma das obras mais representadas da história. Uma obra classificada como a mais dramática e a mais complexa. Repleta de amor, ódio, vingança e desejo, mas que era rapidamente conhecida pela famosa frase “Ser ou não ser! Eis a questão”.
Hamlet, uma das obras trágicas mais conhecidas de William Shakespeare, mas adaptada a um pequeno povo criado em palco, em vez de refletir a nobreza dinamarquesa das suas personagens originais.
O enredo não se distanciava muito dos dramas atuais, embora os bailarinos quisessem manter aquele traje medieval e linguagem aprimorada e pouco direta da obra original.
Além disso, como os atores-bailarinos eram poucos, eles próprios representavam várias personagens, sendo que a única coisa que os distinguia uns dos outros era a indumentária que usavam. Assim, СКАЧАТЬ