Название: A Lista Dos Perfis Psicológicos
Автор: Juan Moisés De La Serna
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Зарубежные детективы
isbn: 9788893988469
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Quando os três bailarinos ficaram de pé no palco, com os braços para cima após dobrarem o corpo numa vénia, baixarem a cabeça quase até aos joelhos e deterem-se a olhar para mim, tive que aplaudir.
― O que achou? ― Perguntou o ator-bailarino que tinha feito de bilheteiro.
― Pareceu-me bem ― eu disse, tentando recuperar da impressão que me causara.
― A sério que gostou? ― Perguntou nervosa a atriz.
― Bom, na sua essência pareceu-me bem, embora tenha faltado o mais importante ― referi sem querer desanimá-los.
― O mais importante? ― Perguntou um terceiro.
― Sim, toda a introspeção dos personagens, principalmente do príncipe Hamlet. Faltou mais um pouco de autodiálogo.
― Eu sabia! ― Falou o primeiro ator.
― Tem calma! ― Disse o terceiro.
― Como acha que poderíamos melhorar? ― Perguntou a atriz.
― Não sei, não é como se fosse um entendido no assunto, nem nada disso.
― Era isso que queríamos, daí o convite ― indicou a mulher.
― Não estou a perceber! ― Respondi, confuso com aquela afirmação.
― Deixámos um convite no parque para que, quem quisesse, pudesse assistir de forma anónima à nossa “ante-estreia”, para assim ficarmos a conhecer de antemão a impressão que a nossa obra causa no espetador. ― Esclareceu o primeiro ator.
― Bem, talvez eu não seja tão imparcial como desejariam, sou psiquiatra e devido à minha profissão, tenho o costume de analisar tudo aquilo que oiço e vejo. É um hábito profissional! ― Esclareci com um certo tom de resignação.
― Então! Gostou? ― Insistiu a mulher que estava vestida com um meias de rede e um tutu, ambos negros.
― Sim, achei interessante a abordagem que fizeram, mas pareceu-me demasiado curto, e faltaram algumas cenas importantes da obra.
― É essa a ideia ― afirmou o terceiro ator com um tom desafiante. ― Se queria ver uma obra clássica, enganou-se na sala. Nós somos ousados, inovadores, e não queremos repetir o mesmo que os outros.
― Apesar disso, creio que um pouco mais de introspeção seria bom para o público refletir sobre a natureza humana, tal como pretendia Shakespeare ― voltei a indicar.
― Reflexão? Não é isso que procuramos, queremos emocionar, impressionar, fazer perder o fôlego… que quando sair daqui, se lembre do que viveu como uma experiência única. Não queremos cá reflexões! ― Insistiu o terceiro ator com um tom aborrecido.
― Bem, apenas estou a dizer o que penso, creio que é um clássico e há que respeitar algumas coisas da obra original.
― Agradecemos o seu tempo ― afirmou a mulher enquanto descia os três degraus do palco. ― Já agora, isto é seu? ― Disse, entregando-me a caixa que me tinha conduzido até esta experiência tão imprevisível. ― Sim, é seu. ― Afirmou. ― Embora esperássemos que viesse acompanhado.
― Acompanhado? ― Perguntei surpreendido.
― Sim, mas suponho que não tinha ninguém com quem vir ― afirmou com um tom sarcástico o terceiro bailarino ao descer do palco.
― A verdade é que, se soubesse ao que vinha, poderia ter convidado alguém, mas como não dizia nada…
― Como nada? ― Perguntou o primeiro ator, que fizera de bilheteiro. ― Está escrito o lugar, a hora e até que era um espetáculo de balé.
― Sim, é verdade, mas não me imaginei num sítio como este, vi no jornal que anunciavam uma companhia de balé que atuaria hoje, e pensei que eram vocês.
― Antes fosse! ― Disse a mulher. ― Nem sequer somos uma companhia, apenas um grupo de amigos que resolveu oferecer um pouco de arte ao povo, mas isso sim, preferimos que seja de qualidade e que transmita emoção ao espetador.
― Ouviu bem? Emoção! E não diálogo! ― Afirmou o terceiro bailarino, enquanto se sentava do meu lado.
― Bom, parabéns, continuem assim. ― Eu disse, tentando acabar com aquela situação desconfortável, pois era a primeira vez que ia a uma dessas representações alternativas, ou lá como se chamava.
Raramente ia a lugares artísticos, mas quando o fazia, procurava sempre que fossem obras de companhias internacionais.
― Espere! ― Disse a jovem, segurando-me pelo braço do casaco. ― O que é isto?
― O quê? ― Perguntei surpreso.
― Este anel e este bilhete? O que quer isto dizer? ― Perguntou desconfiada enquanto o retirava da caixa.
― Não faço a mínima ideia, veio com a caixa ― afirmei sem saber o motivo da sua desconfiança.
― Deixámos a caixa no parque para que quem quisesse nos pudesse vir ver e assim ficarmos a saber a sua opinião, mas não colocamos isto lá ― referiu o primeiro ator.
― Pois posso garantir-lhes que isso já estava aí dentro quando recebi a caixa ― insisti.
― Tome! ― Disse a rapariga, entregando-me ambos os objetos.
― E o que quer que faça com isto? ― Perguntei contrariado ao ver que não lhes pertencia.
― Não sei, mas não é daqui. Agradecemos a sua visita e a sua opinião acerca da nossa representação ― afirmou a rapariga enquanto me indicava o palco com um gesto de mão.
― Acompanhe-me à saída ― falou o terceiro bailarino, enquanto caminhava diante de mim.
Segui-o até à saída, atravessando o caminho estreito e após cruzar a porta, voltei-me e a única coisa que recebi daquele homem foi:
― Mais diálogo? O que é que você sabe de balé?
Após dizer isto fechou a porta e deixei-me ficar ali por uns segundos a observá-la antes de me voltar e olhar à minha volta.
A rua estava quase toda às escuras, à exceção de alguns estabelecimentos de bebidas e de jogos, desses que ficam abertos vinte e quatro horas.
Olhei para ambos os lados e não vi um único carro. Olhei para o relógio e fiquei admirado ao ver que já tinha passado mais de uma hora desde que saíra do meu escritório.
“E onde é que encontro um táxi a estas horas?” Disse para mim próprio enquanto começava a caminhar rua acima, à espera de que passasse algum.
Como o ar começava a ficar mais fresco, subi a gola do casaco e meti as mãos nos bolsos, quando me apercebi de que trazia aquele anel. Retirei-o, e com dificuldade, reparei СКАЧАТЬ