Arena Um: Traficantes De Escravos . Морган Райс
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СКАЧАТЬ Onda.

      Durante os primeiros dias, gestores de crise e facções governamentais tentaram reestabelecer a paz. Mas era um pouco tarde demais. Nada poderia deter a tempestade que estava por vir. Uma facção de militares de linha dura tomou o assunto para si mesmos, almejando glória, querendo ser os primeiros na guerra, querendo a vantagem de velocidade e surpresa. Pensaram que esmagar a oposição imediatamente era a melhor maneira de dar um fim a tudo aquilo.

      A guerra começou. Batalhas tomaram conta do solo americano. Pittsburgh virou a nova Gettysburg, com duzentos mortos em uma semana. Tanques iam contra tanques. Aviões contra aviões. Todo dia, toda semana, a violência aumentava. Limites eram colocados nas terras, militares e a polícia se dividiram e batalhas se espalharam por todos os estados da nação. Em todos os lugares, pessoas lutavam umas contra as outras, amigo contra amigo, irmão contra irmão. Chegou a um ponto em que ninguém mais sabia pelo que estavam lutando.  Foi derramado sangue pelo país inteiro, ninguém parecia ser capaz de parar essa situação. Essa época ficou conhecida como a Segunda Onda.

      Até este momento, sangrenta como era, ainda era uma guerra convencional. Então veio a Terceira Onda, a pior de todas. O Presidente, em desespero, operando de um refúgio subterrâneo secreto, decidiu que havia apenas um jeito de acabar com o que ele ainda chamava insistentemente de “a Rebelião”. Reunindo seus melhores oficiais militares, eles o aconselharam a usar os recursos mais fortes para sufocar a rebelião de uma vez por todas: mísseis nucleares dirigidos. Ele concordou.

      No dia seguinte, as bombas nucleares foram lançadas em estratégicas fortificações Republicanas por todos os Estados Unidos. Milhares morreram nesse dia, em lugares como Nevada, Texas, Mississippi. Milhões morreram no segundo.

      Os Republicanos responderam. Eles arranjaram seus próprios recursos, emboscaram a NORAD (Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte) e lançaram suas próprias bombas nucleares nas fortalezas dos Democratas. Estados como Maine e New Hampshire foram os mais afetados. Dentro dos próximos dez dias, quase todo Estados Unidos foi destruído, uma cidade atrás da outra. Era onda atrás de onda de pura destruição, aqueles que não morreram por ataques diretos morreram depois devido ao ar e água tóxicos. Dentro de um mês, não sobrou mais ninguém para lutar. Ruas e prédios se esvaziaram um por um já que as pessoas saíam para lutar contra ex-vizinhos.

      Mas papai sequer esperou pelo recrutamento – e é por isso que eu ainda o odeio. Ele foi embora muito antes. Ele havia sido um oficial da Infantaria da Marinha muito anos antes disso tudo acontecer, e ele sabia que essa guerra iria estourar antes que a maioria. Toda vez que ele assistia ao noticiário, toda vez que via políticos gritando uns com os outros de maneira desrespeitosa, sempre aumentando a aposta, papai balançava a cabeça e dizia: “isso vai virar guerra. Acreditem em mim”.

      E ele estava certo. Ironicamente, papai já havia cumprido seu serviço militar e estava aposentado da Infantaria há anos quando tudo isso começou a acontecer; mas, quando o primeiro tiro foi disparado, neste dia, ele se alistou de novo. Antes mesmo de haver se falado em uma guerra completa. Ele provavelmente foi a primeira pessoa a se voluntariar por uma guerra que ainda nem havia começado.

      E é por isto que eu ainda estou brava com ele. Por que ele teve que fazer isso? Por que ele não podia simplesmente deixar que os outros se matassem? Por que ele não ficou em casa, nos protegendo? Por que ele se importava mais com este país do que com sua família?

      Ainda me lembro, nitidamente, o dia em que ele nos deixou. Naquele dia, eu havia voltado para casa depois da escola e, antes mesmo de abrir a porta, eu ouvi gritos vindo de dentro. Eu me preparei. Odiava quando papai e mamãe brigavam, o que parecia o tempo inteiro, e eu achei que aquilo fosse apenas mais uma de suas discussões.

      Eu abri a porta e sabia, de cara, que algo estava diferente. Alguma coisa estava muito, muito errada. Papai estava em pé, completamente uniformizado. Não fazia sentido. Ele não vestia seu uniforme há anos. Por que ele o estaria vestindo agora?

      “Você não é homem!” mamãe ralhou com ele. “Você é um covarde! Abandonando sua família. Para que? Partir e matar inocentes?”

      O rosto de papai ficou vermelho, como sempre acontecia quando ele se zangava.

      “Você não sabe do que está falando!" ele gritou de volta. “Estou cumprindo o meu dever para com meu país. É a coisa certa a fazer.”

      “A coisa certa a fazer por quem?” ela retruca. “Você sequer sabe por que está lutando. Por um grupo de políticos idiotas?”

      “Eu sei exatamente pelo que estou lutando: para manter nossa nação unida.”

      “Oh, puxa, desculpe-me, Senhor América!” ela grita com ele. “Você pode justificar isto do jeito que quiser na sua cabeça, mas a verdade é que você está partindo porque não consegue me suportar. Porque você nunca soube lidar com a vida doméstica. Porque você é muito idiota e não consegue fazer mais nada da sua vida depois da Marinha. E por isso você pega a primeira oportunidade para se livrar –”.

      Papai a interrompeu dando-lhe um tapa na cara. Eu ainda consigo ouvir o barulho em minha cabeça.

      Fiquei chocada, nunca havia visto meu pai bater em minha mãe antes. Fiquei sem respiração, como se eu tivesse recebido aquele tapa. Fiquei olhando para ele, mal o reconhecendo. Aquele era realmente meu pai? Fiquei tão atordoada que derrubei meu livro e este caiu com um baque.

      Os dois olharam para mim. Assustada, sai correndo pelo corredor para o meu quarto e bati a porta atrás de mim. Não sabia como reagir, eu simplesmente tinha que ficar longe deles.

      Um pouco depois, ouvi uma leve batida na minha porta.

      “Brooke, sou eu,” papai me chamou com uma voz baixa e arrependida. “Sinto muito por você ter visto aquilo. Por favor, deixe-me entrar.”

      “Vá embora!” eu gritei de volta.

      Um longo silêncio se seguiu. Mas ele não se retirou.

      “Brooke, eu preciso ir. Eu quero te ver uma última vez antes de partir. Por favor, saia e me diga tchau.”

      Eu comecei a chorar.

      “Vá embora!” eu retruquei de novo. Eu estava tão arrasada, tão furiosa por ele ter batido em mamãe e ainda mais furiosa por ele estar nos deixando. E, no fundo, eu estava com medo de que ele nunca mais voltasse.

      “Eu estou indo embora agora, Brooke,” ele disse. “Você não precisa abrir a porta para mim. Mas eu quero que saiba o quanto eu amo vocês. E que eu sempre estarei com vocês. Lembre-se, Brooke, você é a mais forte. Cuide desta família. Estou contando com você. Tome conta de todos.”

      E então eu ouvi os passos de meu pai, se afastando. Ficando cada vez mais e mais distantes. Momentos depois eu ouço a porta da frente se abrir e então se fechar.

      E depois, mais nada.

      Minutos – que pareciam dias – depois, eu lentamente abri a porta. Eu já sentia. Ele se fora. E eu já estava arrependida; gostaria de ter falado adeus. Pois eu já estava pressentindo, no fundo, que ele nunca mais voltaria.

      Mamãe sentou-se à mesa da cozinha, com o rosto entre as mãos, chorando baixinho. Eu sabia que as coisas haviam mudado para sempre nesse dia, que nada mais seria o mesmo de novo – que ela  nunca mais seria a mesma. Nem eu.

      E eu estava certa. Enquanto sento aqui, olhando as chamas do fogo fraco, com os olhos pesados, eu percebo que, desde esse dia, nada voltou a ser o mesmo de antes.

*

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