Arena Um: Traficantes De Escravos . Морган Райс
Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Arena Um: Traficantes De Escravos - Морган Райс страница 10

СКАЧАТЬ deixar tudo que conhecíamos para trás?

      E então, em nossa primeira manhã, eu acordei, abri a porta e me assustei ao ver, bem na minha frente, uma carcaça de um cervo. A princípio, tive medo. Encarei aquilo como uma ameaça, um aviso, supus que alguém estivesse nos mandando embora, que não éramos benvindas aqui. Mas, depois do susto inicial, entendi que não era nada disso, aquilo se tratava, na verdade, de um presente. Alguém, algum outro sobrevivente, esteve nos observando. Ele deve ter percebido como parecíamos desesperadas e, em um ato de extrema generosidade, decidiu nos dar essa caça, nossa primeira refeição, carne suficiente para durar por semanas. Não consigo imaginar o quão valioso isso devia ser para ele.

      Recordo-me de andar lá fora, olhando em todas as partes, para cima e para baixo da montanha, procurando em todas as árvores, esperando que alguém aparecesse e me saudasse. Mas ninguém apareceu. Tudo que eu vi foram árvores e, mesmo esperando por alguns minutos, tudo que eu ouvi foi silêncio. Mas, eu sabia, eu simplesmente sabia, que eu estava sendo observada. Sabia que havia mais gente aqui em cima, sobrevivendo, exatamente como nós.

      Desde então, senti um tipo de orgulho, senti que éramos parte de uma comunidade silenciosa de sobreviventes isolados que vivem por estas montanhas, sendo reclusos, nunca falando uns com os outros, com medo de sermos vistos, com medo de ficarmos visíveis a algum comerciante de escravos. Acredito que é assim que os outros sobreviveram até agora: não correndo nenhum risco. No começo, eu não entendia isso. Mas agora, eu agradeço. E, desde então, mesmo sem ver ninguém, nunca me senti sozinha.

      Mas isso também me fez mais vigilante; esses outros sobreviventes, se ainda estiverem vivos, devem, com certeza, estar com tanta fome e se sentindo tão desesperados como nós. Especialmente nos meses de inverno. Quem sabe se a fome, se a necessidade de defender suas famílias, os levou ao extremo do desespero, se seu jeito caridoso foi substituído por um instinto de sobrevivência? Eu sei que, pensar em Bree, Sasha e em mim mesma, morrendo de fome, às vezes, me levou a ter uns pensamentos bem desesperados. Por isso eu não quero correr nenhum risco. Vamos nos mudar à noite.

      O que funcionará perfeitamente, de qualquer forma. Eu preciso aproveitar a manhã para subir até lá, sozinha, explorar primeiro e me certificar uma vez mais que ninguém entrou nem saiu de lá. Também preciso voltar para o local aonde encontrei o cervo e esperar por ele. Eu sei que é um tiro no escuro, mas se eu puder encontrá-lo de novo e matá-lo, poderemos comer por semanas. Eu desperdicei o primeiro cervo que recebemos, anos atrás porque eu não sabia como retirar sua pele, nem como cortá-lo, nem como preservá-lo. Fiz uma sujeira com ele e consegui apenar aproveitar uma refeição antes de a carcaça inteira apodrecer. Foi um terrível desperdício de comida e estou determinada a nunca mais fazer isso. Desta vez, especialmente com a neve, vou achar um jeito de conservá-lo.

      Coloco a mão no meu bolso e tiro a faca que papai me deu antes de partir. Passo a mão pela empunhadura gasta, sentindo suas iniciais gravadas e o logo da Marinha estampado, tenho feito isso todos os dias desde que chegamos. Digo para mim mesma que ele ainda está vivo. Mesmo após todos estes anos, mesmo sabendo que as chances de vê-lo novamente sejam quase zero, eu não consigo deixar de pensar nessa possibilidade.

      Desejo toda as noites que meu pai não tivesse partido, que ele nunca tivesse se voluntariado para a guerra. Para começo de conversa, foi uma guerra idiota. Nunca realmente compreendi como iniciou e ainda não sei. Papai me explicou, várias vezes, e eu ainda não entendo. Talvez fosse por causa de minha idade. Talvez eu não tivesse idade suficiente para entender as coisas sem sentido que os adultos podem fazer um com os outros.

      Do jeito que papai explicou, foi a Segunda Guerra Civil – desta vez, não foi entre e o Norte e o Sul, mas entre partidos políticos. Entre os Democratas e o Republicanos. Ele disse que era uma guerra que estava por vir fazia tempo. Durante os últimos cem anos, ele disse, os Estados Unidos esteve à deriva em uma terra de duas nações: aqueles de extrema direita e aqueles de extrema esquerda. Com o passar do tempo,  as posições se firmaram tão fortemente que o país se tornou uma nação de ideologias opostas.

      Papai falou que o pessoal de esquerda, os Democratas, queriam uma nação dirigida por um governo cada vez maior, que aumentaria os impostos para 70% e estaria envolvido em todos os aspectos das vidas das pessoas. Ele disse que o pessoal de direita, os Republicanos, queriam um governo cada vez menor, que iria abolir todos os impostos, não perturbaria o povo e o deixaria a sua própria sorte. Ele disse que, com o tempo, essas duas ideologias diferentes, ao invés de se comprometerem, se distanciavam cada vez mais, ficando mais radicais – até que atingiram um ponto onde não concordavam com mais nada.

      Para piorar a situação, ele disse, os Estados Unidos estava populoso demais, se tornou difícil para qualquer político conseguir atenção nacional e os políticos das suas partes começaram a perceber que, para conseguir atenção, era necessário tomar posições extremas – que era o que precisavam para sua ambição pessoal.

      Como resultado, as pessoas mais importantes de ambas as partes eram os mais extremistas, cada um tentando superar o outro, tomando posições que eles sequer acreditavam, mas que se viam obrigados a tomar. Naturalmente, quando as duas partes debatiam, só podiam discutir um com o outro – e eles o faziam com palavras grossas e duras. No início, eram apenas insultos e ataques pessoais. Mas, com o passar do tempo, a guerra verbal foi se intensificando. E, então, um dia, chegaram a um ponto sem volta.

      Um dia, há uns dez anos atrás, um momento crítico chegou quando um líder político ameaçou outro com uma palavra profética: “secessão”. Se os Democratas tentassem elevar um centavo que fosse nos impostos, seu partido se separaria do sindicato e cada povoado, cada cidade e cada estado se dividiriam em dois. Não por terra, mas por ideologia.

      Não poderia ter sido em momento pior: nessa época, a nação passava por uma depressão econômica e havia descontentamento suficiente, o povo estava farto de perder o emprego à custa deste político ganhar popularidade. As mídias adoravam os níveis de audiência que estavam atingindo e lhe deram mais tempo no ar. Pronto, sua popularidade cresceu. Com o tempo, sem nada para detê-lo, com os democratas não dispostos a se comprometerem e, aproveitando o impulso que levava, sua ideia se fortaleceu. Seu partido propôs sua própria bandeira nacional e até mesmo sua própria moeda.

      Foi o primeiro momento crítico. Se alguém tivesse se levantado e o impedido, tudo poderia ter sido evitado. Mas ninguém o fez. E então ele foi ainda mais longe.

      Fortalecido, este político propôs que a nova união também tivesse sua própria força policial, seus próprios tribunais, suas próprias tropas estaduais – até mesmo seu próprio exército. Este foi o segundo momento crítico.

      Se o Presidente Democrata tivesse sido um bom líder nessa época, talvez ele pudesse ter detido as coisas antes. Mas ele agravou a situação ao tomar decisão ruim atrás de decisão ruim. Ao invés de acalmar as coisas, de atender às necessidades básicas que conduziram ao descontentamento, ele decidiu que o único jeito de anular o que ele chamou de “a Rebelião” era com uma atitude dura: ele acusou toda a liderança Republicana de sedição. Ele declarou a lei marcial e, no meio da noite, prendeu todos.

      Isso intensificou as coisas e juntou todo o seu partido. Também reuniu metade dos militares. Pessoas estavam divididas em cada casa, cada cidade, cada quartel militar; aos poucos, a tensão se acumulou nas ruas e vizinhos odiavam uns aos outros. Até famílias se dividiram.

      Uma noite, aqueles da cúpula militar leal aos Republicanos seguiram ordens secretas e organizaram um golpe, tirando-os da prisão. Houve confronto. E, nos degraus do prédio do Capitólio, o primeiro tiro fatídico foi disparado. Um jovem soldado achou que havia visto um oficial sacar uma arma e disparar primeiro. Assim que o primeiro soldado caiu, não havia mais volta. A linha final havia sido cruzada Um estado-unidense havia matado outro estado-unidense. Um tiroteio se seguiu, com dezenas de mortos. Os líderes republicanos foram СКАЧАТЬ