Название: ¿Qué será de ti? / Como vai você?
Автор: Luis Angel Aguilar
Издательство: Bookwire
Жанр: Языкознание
Серия: Poesia
isbn: 9788412329360
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os teus olhos perdidos na neblina
(não sei se eram teus olhos que eu buscava
tampouco sei se era você)
teus olhos estavam voltados para dentro em uma acrobacia nunca vista
havia também os óculos e o suor havia os rasgos do teu rosto as rugas alguma ferida
havia alguma ferida mal cicatrizada
essas marcas o pó a brisa acinzentada que tingia os vidros o mofo nas páginas dos livros
tanta coisa preenchia o espaço entre a minha pele e a tua
(e eu nem sabia se eram teus olhos ou algo que estava por trás deles
por trás da acrobacia que teus olhos faziam)
tanta coisa prendia nossa respiração
que eu devia me fazer lúcida e aguardar
um banco a vontade de ir ao banheiro o café morno da garrafa
o cenário de uma vida em que os livros envelhecem antes dos corpos
eu não podia lamentar minha presença nem a dos papéis craft enrolados a coleção de papéis com as pontas amassadas
os arquivos de metal
era preciso ter algo por onde passear os olhos os meus olhos
(não sei se eram os teus que eu buscava
ou se buscava fugir)
passear os olhos no cartaz de uma peça da década de setenta o pôster de uma tourada espanhola o cardápio de um restaurante italiano em um vilarejo medieval
como fugir destes monumentos mínimos de uma vida
qual seria esta espera
teus olhos voltados para trás da cabeça e a minha pergunta reverberando entre as paredes entre o mofo das paredes
a minha pergunta grudada na umidade quente e abafada de um meio dia no centro da cidade
a minha pergunta que não chegava até você que não chegava em teus olhos voltados para dentro que não alcançava a acrobacia dos teus olhos e ficava pregada na fuligem dos ônibus nos ruídos que se misturavam com as palavras com as nossas palavras
nossas vozes que eram só fumaça e confusão algum pequeno fio que nos mantivesse ali que nos prendesse mesmo que momentaneamente entre aquelas estantes abarrotadas de livros caixas papelões objetos de acrílico de madeira jogos que já nem se fabricam mais
(e eu nem sei se era você que estava ali
por trás da minha respiração)
(2)
a imagem no aparador é mera alucinação
um meio nariz mal delineado a quarta parte de um olho
o queixo um pedaço de gola
a sombra de um tronco infantil
seria uma lembrança não fosse o fato
de não me reconhecer nestas unhas que saem de dedos compridos
no modo de cruzar as pernas
curvar o corpo inclinar o pescoço para a esquerda
para a direita
piscar nervosamente a quarta parte de um olho negro
cravado numa pele transparente
seria mera alucinação?
uma das mãos se mantém fechada
enquanto seguro o guarda-chuva e procuro
dentre os pedaços dispersos
o outro braço que alcançaria a maçaneta da porta a meu lado
Poemas
(1)
los libros la moqueta la pila de los libros en el suelo el estante repleto de libros
el espacio sin lugar para respirar
el polvo de los libros
yo me volvía lúcida en medio del humo del cigarrillo que se mezclaba con el polvo
la contaminación del centro de la ciudad al mediodía
la larga espera
y yo te miraba a la cara con una pregunta insoluble
que apenas sabía formular no podía hacer
tus ojos perdidos en la niebla
(no estoy segura si tus ojos eran lo que buscaba
tampoco sé si eras tú)
tus ojos se volvieron hacia el interior en una acrobacia nunca vista
había también las gafas y el sudor había los rasgos de tu frente las arrugas alguna herida
había alguna herida mal cicatrizada
esas marcas el polvo la brisa gris que teñía los cristales el moho en las páginas de los libros
tanto llenaba el espacio entre mi piel y la tuya
(y yo ni siquiera sabía si eran tus ojos o algo que estaba detrás de ellos
detrás de las acrobacias que hacían tus ojos)
tanto nos quitaba la respiración
que yo debía volverme lúcida y esperar
en un banco el deseo de ir al baño el café tibio de la botella
el escenario de una vida en la que los libros envejecen antes que los cuerpos
yo no podía lamentar mi presencia ni la de los papeles de estraza en rollo la colección de papeles arrugados en la punta
los archivos de metal
era necesario tener algo por dónde pasear los ojos mis ojos
(no estoy segura si eran los tuyos lo que yo buscaba
o si trataba de huir)
echar un vistazo a un cartel de una pieza de teatro de los años setenta el cartel de una corrida de toros española o un menú de un restaurante italiano en un pueblo medieval
cómo huir de estos monumentos mínimos de una vida
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