Название: O filho inesperado do xeque
Автор: Carol Marinelli
Издательство: Bookwire
Жанр: Языкознание
Серия: Sabrina
isbn: 9788413754802
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Era curioso que um aposento que pertencia a uma casa que ficava tão longe da sua pudesse conter tantas memórias. O globo terrestre de Jobe sempre exercera nele uma poderosa atração. Já era uma antiguidade quando o comprou e gostava de contemplar os países desaparecidos enquanto a sua ilha, longe do continente, permanecia.
E também ali, naquele mesmo bar caseiro, experimentara álcool pela primeira vez. Naquela mesa tinha sido feito o primeiro desenho do hotel Royal Al-Zahan e agora só faltava um ano para a inauguração.
Um sonho impossível que, porém, nasceu naquele escritório.
Agarrou um pesado pisa-papéis e recordou Jobe, estranhamente desconfortável, a passá-lo de uma mão para a outra quando ele abriu a porta do escritório. Voltou a recordar esse momento:
– Queria ver-me, senhor?
– Quantas vezes tenho de dizer-te que me trates por Jobe? Até os meus próprios filhos o fazem.
Mas ele tratava o seu próprio pai pelo título e tinha de inclinar-se quando este entrava ou saía, por isso era-lhe difícil aceitar a informalidade com que se tratavam uns aos outros na casa Devereux.
– Senta-te, filho.
Aceitou o convite, embora até tivesse preferido ficar em pé. Estava convencido de que iria receber uma reprimenda. Tinha dezasseis anos, estava há quase um em Nova Iorque, e ele e Ethan tinham descoberto como arranjar bilhetes de identidade falsos de adultos. E as raparigas.
– Não há um modo fácil de dizer-te isto – começou Jobe por dizer, depois de limpar a garganta. – Khalid, tens de ligar já para tua casa.
– Passa-se alguma coisa com os gémeos?
A sua mãe estava quase a dar à luz.
– Não. A tua mãe deu à luz esta manhã, mas houve complicações. Não conseguiram salvá-la, Khalid. Lamento muito ter de dizer-te isto, mas a tua mãe morreu.
Foi como se todo o oxigénio tivesse desaparecido da sala. E ele, apesar de esforçar-se para não o mostrar, sentiu que não conseguia respirar. Não podia ser. A sua mãe era uma mulher tão viva que, ao contrário do seu pai, estava sempre a rir e amava a vida… A rainha Dalila era a razão pela qual ele estava em Nova Iorque.
– Liga para casa – repetiu Jobe. – Diz ao teu pai que podemos ir agora mesmo ao aeroporto e que eu te acompanharei até Al-Zahan.
– Não – respondeu ele. Jobe não percebia que ele teria de chegar a bordo do avião real. – Mas obrigado pela oferta.
– Khalid – Jobe suspirou, exasperado, – permite-te sofrer.
– Com todo o respeito, senhor, sei bem o que me é permitido. Vou ligar ao rei agora mesmo.
Khalid esperava que ele o deixasse sozinho, mas, em vez disso, Jobe fez algo que nunca teria esperado: apoiou os cotovelos na mesa de mogno e escondeu a cara entre as mãos. Porque tinha sido duro para ele ter de dar-lhe a notícia e sentia a morte da sua mãe e a dor que ia sofrer Hussain, o seu irmão de dois anos, e os gémeos recém-nascidos.
Então, ouviu a voz do seu pai.
– Alab – disse, chamando-lhe pai. Um erro.
– Antes de ser teu pai, sou teu rei – recordou-lhe. – Nunca o esqueças, nem sequer por um instante, e sobretudo nos tempos difíceis.
– É verdade? A mãe morreu?
O rei confirmou-lhe a notícia, mas também lhe disse que encontrava consolo no facto de se ter salvo outro herdeiro.
– Celebramos esta manhã ter vindo ao mundo outro herdeiro ao trono de Al-Zahan.
– Ela teve um menino e uma menina?
– Exato.
– Chegou a vê-los? Pôde tê-los nos seus braços? Ela sabia o que tinha tido?
– Khalid, que tipo de pergunta é essa? Eu não estava com ela.
Que nem sequer se tivesse dado ao trabalho de averiguar aquilo deprimiu-o. E um estremecimento de agonia soltou-se dos seus lábios.
– Não vais chorar – avisou-o o pai. – És um príncipe, não uma princesa. As pessoas precisam de ver força, e não de verem o seu futuro rei a portar-se como se fosse um camponês que geme e chora.
Jobe aproximou-se dele e pôs uma mão no seu ombro. Desconhecia o que se estava a dizer, já que a conversa era em árabe, mas a sua mão continuou ali pousada já depois do telefonema ter terminado.
– Lamento, filho. Mas vais superá-lo. O Abe e o Ethan também perderam a mãe.
– Mas eles tinham-no a si.
– Tu também me tens, Khalid.
E ali, naquele escritório, chorou pela sua mãe.
Durante algum tempo andou assustado, desesperado e triste, e Jobe permitiu-lho. Ele foi a única pessoa que o viu chorar porque as lágrimas não lhe eram permitidas. Nem quando era uma criança.
Mas quando o avião real chegou para levá-lo, a máscara estava de novo no seu lugar e nunca mais voltou a deixar de o estar.
– Khalid?
Não tinha ouvido Ethan entrar, mas voltou-se para dar-lhe as condolências. Ele era seu sócio nos negócios e um amigo, embora não se pudesse dizer que fossem muito unidos.
Ele não estava muito unido a ninguém.
– Obrigado por vires, Khalid.
– Nunca teria deixado de comparecer ao funeral de Jobe.
– Refiro-me a esta noite. Agradeço-te. Quanto tempo vais ficar?
– Até depois de amanhã.
– Tens de partir tão depressa?
– Precisam sempre de mim em casa.
– Bom, fico contente por teres vindo.
– Deixa-te de simpatias e vai direto ao assunto. Que se passa?
– Muita coisa – admitiu Ethan. – E ninguém pode saber.
– Já sabes que dos meus lábios nada sairá.
A vida de Jobe Devereux tinha sido interessante, digamos, e a imprensa contara muitos detalhes. Os seus filhos, Abe e Ethan, já tinham visto de tudo.
Ou assim pensavam.
– Ele tinha uma conta da que não sabíamos nada.
Khalid ouviu o relato de como Jobe tinha um fraco pelo jogo e pelas mulheres dos cabarés. Aparentemente, aqueles longos fins de semana de ausência nem sempre eram passados nos Hamptons. Muitas vezes ia diretamente para Las Vegas, a Cidade do Pecado.
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