Название: Apenas os Dignos
Автор: Морган Райс
Издательство: Lukeman Literary Management Ltd
Жанр: Героическая фантастика
Серия: O Caminho da Robustez
isbn: 9781632917812
isbn:
E nessa cesta estava um bebé.
Um rapaz.
O seu choro perfurava a noite, ainda mais alto do que a tempestade, mais alto do que os estrondos dos trovões e relâmpagos. Cada grito do seu choro perfurava o seu coração.
Ela saltou para o rio caminhando pelas gélidas águas que pareciam facas na sua pele, apanhou a cesta e, lutando contra a corrente, voltou para a margem. Olhou para baixo e viu que o bebé estava meticulosamente enrolado num cobertor e que estava milagrosamente seco.
Ela observou-o mais de perto e ficou perplexa ao ver um pingente de ouro à volta do seu pescoço, com duas cobras circundando uma lua e um punhal entre elas. Ela suspirou; era um pendente que ela reconheceu imediatamente.
Virou-se para o seu marido.
"Quem faria uma coisa dessas?", perguntou ela, horrorizada, segurando-o com força contra o seu peito.
Ele só conseguia abanar a cabeça, atónito.
"Temos de ficar com ele," ela decidiu.
O marido franziu a testa e abanou a cabeça.
"Como?", retrucou. "Não nos podemos dar ao luxo de alimentá-lo. Mal nos podemos dar ao luxo de nos alimentar. Já temos três rapazes – para que é que precisamos de um quarto? O nosso tempo de criar crianças já acabou."
Mithka, pensando rapidamente, apanhou o espesso pingente de ouro e colocou-o na palma da mão do seu marido, sabendo, depois de todos aqueles anos, o que o iria impressionar. Ele sentiu o peso do ouro na mão, parecendo claramente impressionado.
"Aqui", ela retrucou, em repulsa. "Aqui está o teu ouro. Ouro suficiente para alimentar a nossa família até sermos velhos e morrermos", disse ela com firmeza. "Eu vou salvar este bebé – quer gostes quer não. Eu não vou deixá-lo morrer."
Ele continuava a fazer má cara, embora menos certo, quando se ouviu outro relâmpago. Ele observou o céu com medo.
"E achas que é uma coincidência?", perguntou. "Numa noite como esta, um bebé como este vir a este mundo? Tens alguma ideia de quem estás a segurar?"
Ele olhou para a criança com medo. E então levantou-se e afastou-se, virando as costas, por fim, indo-se embora, segurando o pingente, claramente desagradado.
Mas Mithka não cederia. Ela sorriu para o bebé e embalou-o contra o seu peito, aquecendo o seu rosto frio. Lentamente, o seu choro acalmou-se.
"Uma criança diferente de qualquer um de nós", ela respondeu a ninguém, segurando-o com força. "Uma criança que irá mudar o mundo. E uma a quem eu vou dar o nome: Royce."
PARTE DOIS
CAPÍTULO QUATRO
17 Ciclos Solares mais tarde
Royce estava no topo da colina, debaixo da única árvore de carvalho que existia naqueles campos de cereais. Uma coisa antiga cujos galhos pareciam chegar ao céu. Olhava profundamente para os olhos de Genevieve, profundamente apaixonado. Eles deram as mãos e ela sorriu-lhe. Aproximaram-se e beijaram-se. Ele sentia reverência e gratidão por estar de coração tão cheio. O dia amanheceu por cima dos campos de cereais e Royce desejava conseguir congelar aquele momento para sempre.
Royce inclinou-se para trás e olhou para ela. Genevieve era maravilhosa. Aos dezassete anos, tal com ele, ela era alta, magra, com cabelos loiros e olhos verdes inteligentes, com um punhado de sardas nos seus traços delicados. Ela tinha um sorriso que o fazia sentir-se feliz por estar vivo e um riso que o punha à vontade. Mais do que isso, ela tinha uma graciosidade, uma nobreza que superava, de longe, o seu estado de pobre camponês.
Royce viu o seu reflexo nos olhos dela e ficou maravilhado por parecer que se podia identificar com ela. Ele era muito maior, claro, alto mesmo para a sua idade, com ombros mais largos do que até mesmo os seus irmãos mais velhos, com um queixo forte, um nariz nobre, uma testa altiva, uma abundância de músculo que ondulava por debaixo da sua túnica desgastada, e feições ligeiras, como as dela. O seu cabelo loiro comprido caia pouco acima dos olhos e os seus olhos cor de avelã-esverdeados davam com os dela, embora um tom mais escuro. Ele tinha sido abençoado com uma força e com uma habilidade com a espada que combinava com a dos seus irmãos, embora ele fosse o mais novo dos quatro. O seu pai estava sempre a brincar dizendo que ele tinha caído do céu e Royce entendia: ele não compartilhava os traços escuros dos seus irmãos ou a estatura. Ele era como um estranho na sua própria família.
Eles abraçaram-se. Sabia tão bem ser abraçado com tanta força, ter alguém que o amava tanto quanto ele a amava a ela. Os dois eram, de facto, inseparáveis desde crianças, haviam crescido juntos a brincar naqueles campos, haviam jurado, mesmo naquela época, que no solstício de verão do seu décimo sétimo ano, se casariam. Enquanto crianças, tinha sido uma promessa verdadeiramente séria.
À medida que foram crescendo, ano após ano, não se foram afastando, como a maioria das crianças, mas sim aproximando-se mais. Contra todas as probabilidades, o seu voto passou de uma coisa infantil para algo mais forte, solene, inquebrável, ano após ano após ano. As suas vidas, ao que parece, nunca tinham estado destinadas a separarem-se.
Agora, por fim, incrivelmente, o dia tinha chegado. Ambos tinham dezassete anos, o solstício de verão havia chegado. Agora eles eram adultos, livres para escolher por si mesmo e, ali, debaixo daquela árvore, a ver o sol nascer, cada um deles sabia, com um entusiasmo vertiginoso, o que isso significava.
"A tua mãe está animada?", perguntou ela.
Royce sorriu.
"Acho que ela ama-te mais do que eu, se é que isso é possível", ele riu-se.
O riso de Genevieve atingiu a sua alma.
"E os teus pais?", perguntou ele.
O seu rosto ficou sombrio, só por um momento, e ele ficou desconsolado.
"Sou eu?", perguntou ele.
Ela abanou a cabeça.
"Eles amam-te", ela respondeu. "Eles só …", suspirou. "Nós ainda não somos casados. Para eles, nunca seria cedo de mais. Eles temem por mim."
Royce compreendeu. Os pais dela temiam os nobres. Camponeses solteiros como Royce e Genevieve não tinham direitos; se os nobres quisessem, poderiam vir e levar as mulheres deles, reclamá-las para si. Isto é, até eles serem casados. Depois, ficariam em segurança.
"Brevemente", disse Genevieve, com o seu sorriso a começar a brilhar.
"Eles estão aliviados porque sou eu, ou porque, uma vez casada, vais ficar a salvo dos nobres?"
Ela riu-se e bateu-lhe a brincar.
"Eles amam-te como o filho que nunca tiveram!", disse ela.
Ele agarrou-a pelos braços e beijou-a.
"Royce!", gritou uma voz.
Royce virou-se e viu os seus três irmãos a caminhar pela colina acima, num grande grupo, com as irmãs e primas de Genevieve juntamente com eles. Todos tinham foices e forquilhas, todos eles prontos para o trabalho do dia. Royce respirou fundo, sabendo que o tempo para as despedidas havia chegado. Eles eram camponeses e, afinal СКАЧАТЬ