A Revolução Portugueza: O 5 de Outubro (Lisboa 1910). Abreu Francisco Jorge de
Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу A Revolução Portugueza: O 5 de Outubro (Lisboa 1910) - Abreu Francisco Jorge de страница 8

СКАЧАТЬ o momento decisivo.

      CAPITULO VI

      A «ratoeira» do elevador da Bibliotheca insuccesso do «complot»

      Todo o dia 28, desde as primeiras horas da manhã, foi passado n'uma anciedade enorme indescriptivel. Os republicanos e os dissidentes, ainda então á solta, sabiam perfeitamente que a policia os não desfitava e que era uma questão de minutos, talvez, a perda da sua liberdade.

      Proximo das 11 horas da manhã, o sr. Alpoim, que estava no centro da dissidencia progressista, recebeu a ordem revolucionaria n'outro logar transcripta, e ás 2 da tarde foi para o elevador da Bibliotheca com os srs. João Pinto dos Santos, Egas Moniz, Cassiano Neves, Batalha de Freitas e outros mais. Encafuaram-se todos n'um cubiculo, tendo á porta uma vedeta que se revesava regularmente. Das 2 ás 4, nada occorreu ali de anormal. Ás 4, os dissidentes, já então acrescidos de Marinha de Campos e Alvaro Pope, esperaram que o chefe da grande orchestra movesse a batuta. N'outros pontos de Lisboa, a scena era quasi identica. Estava tudo a postos. Faltava apenas o signal combinado…

      Ao cahir da tarde, como se espalhasse o boato de que o movimento tinha de soffrer novo adiamento de horas, Marinha de Campos, Alvaro Pope e o visconde de Pedralva foram de automovel percorrer os quarteis, transportando ao mesmo tempo armas e munições. Pouco depois, entrou no elevador o tenente-coronel Amancio de Alpoim e communicou aos conjurados que a revolta gorara e que era conveniente que abandonassem o edificio, pois a policia já lhes andava no encalço.

      Debandaram. Mas d'ahi a uma hora voltaram novamente a reunir-se na casa do tenente Furtado, contigua ao elevador. Isso de nada serviu, porque Alvaro Pope, que ali appareceu já noite fechada, tinha informações identicas ás do tenente coronel Amancio de Alpoim. O movimento fôra mal succedido, as tropas tinham sido postas de prevenção, as guardas dos edificios publicos haviam sido reforçadas e o comité revolucionario ordenara definitivamente a retirada das forças mobilisadas. O dr. Egas Moniz, sabendo que o sr. Affonso Costa e o visconde da Ribeira Brava tinham entrado no elevador, foi ao seu encontro. N'esse mesmo instante, a policia principiava a cercar a casa do tenente Furtado. Era evidente que se preparava para capturar o sr. Alpoim e os seus amigos, como d'ahi a pouco capturou os srs. Affonso Costa, dr. Egas Moniz e visconde da Ribeira Brava. Impunha-se a fuga.

      O porteiro do edificio, informado do caso, communicou ao sr. Alpoim a existencia d'uma sahida pelo lado da calçada de S. Francisco. Os dissidentes aproveitaram-na, mas com dificuldade. A portinha era estreita e o corredor que ali conduzia era lobrego e cheio de teias de aranha. Os dissidentes desceram-no, cautelosamente, quasi roçando pelos policias, que começavam então a invadir as escadas. Em baixo, novas difficuldades e sobresaltos. A fechadura não servia desde annos e foi um trabalhão para fazer girar a chave. Na calçada de S. Francisco não havia um unico policia… O sr. Alpoim e alguns dos seus amigos foram ao centro dissidente, no largo das Duas Egrejas. Ali souberam das prisões effectuadas dentro do elevador da Bibliotheca. O visconde do Ameal encaminhou-se logo para a estação do Rocio, d'onde fugiu para Villa Franca e depois para Hespanha; o visconde de Pedralva imitou-o, e o sr. Alpoim, mettendo-se n'um trem, foi para casa. Mas, calculando que ia egualmente ser preso, passou, momentos antes da policia o procurar, para a residencia do sr. Teixeira de Souza e no dia seguinte, á noite, abrigou-se no palacete do sr. Henrique de Mendonça, d'onde se escapuliu, em automovel, para o paiz visinho.

      Quasi á mesma hora em que os dissidentes abandonavam a casa do tenente Furtado, o dr. José d'Abreu corria ao Club dos Caçadores a convencer os revolucionarios que ali se encontravam da inutilidade do seu esforço, visto que o dr. Affonso Costa já tinha cahido nas garras da policia. Egual prevenção era feita aos grupos capitaneados pelo engenheiro Antonio Maria da Silva, professor Ferrão e tantos outros, que só esperavam o signal combinado para luctarem com energia, coragem e decisão em prol da liberdade politica. Depois, seguiram-se: o esboço de ataque á esquadra do Rato, onde morreu um policia, a fusilaria na rua da Escola Polytechnica e na rua Alexandre Herculano, a tentativa de ataque á esquadra do Campo de Sant'Anna, os incidentes de Alcantara, etc., emfim varios episodios que mostraram claramente aos profanos boquiabertos a extensão do movimento projectado.

      Porque falhara? Já o dissemos: porque, dependendo em absoluto da prisão do dictador e não tendo o grupo civil a isso compromettido levado a cabo a sua missão, todos os elementos a postos se conservavam inactivos ou procuraram escapar com presteza á desforra do governo franquista. Todos… não dizemos bem. Affonso Costa, dentro do elevador da Bibliotheca e cercado pela policia, puxou d'um revolver para resistir até á ultima. O visconde da Ribeira Brava impediu-o de o desfechar. Machado dos Santos, Serejo Junior e Helder Ribeiro pensaram, como ultimo recurso, sublevar caçadores 2 e com esse regimento e o corpo de marinheiros tentar a libertação dos chefes revolucionarios encarcerados pela dictadura. Marinha de Campos alvitrou a sublevação da fragata D. Fernando e declarou-se prompto a fazel-o sem outro auxilio de militares. Machado dos Santos tentou tambem approximar-se das baterias de Queluz, onde os revolucionarios contavam um apoio fortissimo.

      E descreve elle no seu relatorio de 1912:

      «N'essa tragica noite tudo fugiu! O commandante audacioso d'um regimento teria salvo o seu paiz. As portas do quartel de marinheiros estavam completamente fechadas. Só o 2 de caçadores, que fôra reforçar a guarda do paço (onde estavam officiaes nossos) o poderia ter feito. O terror era grande na cidade. Encontro-me no Rocio com Candido dos Reis, Moura Braz e Tito de Moraes, se não estou em erro; dirigimo-nos ao Club Militar; o almirante Botto e um outro cujo nome me não occorre ouviram Candido dos Reis tentar leval-os para o nosso lado. João de Freitas Ribeiro gritava que uma dictadura nos não devia impôr um rei; os almirantes e um capitão de mar e guerra que lá estava (cujo nome tambem ignoro) ficaram mudos e quedos e nós retiramo-nos, ouvindo eu dizer a um dos tenentes que comnosco se encontravam:

      « – Almirantes de borra, que nem para um acto de dignidade servem!..

      «Candido dos Reis (ainda não era almirante) dirigiu-se a casa do dr. Bernardino Machado, levando-me em sua companhia; lá, falsas noticias nos chegam, e, entre ellas, duas de calibre superior; infantaria 5 tinha-se revoltado e tomado o Cabeço de Bolla e o 16 tinha-se batido contra a guarda e vindo para a rua. Candido dos Reis ordena-me que vá averiguar da verdade e, n'esse momento, chorando de raiva, lembro-me de ter sido menos correcto com o dr. Bernardino Machado, o qual muito paternalmente se não melindrou com isso, dizendo talvez no seu fôro intimo que eu era um visionario e que, como tal, era muito desculpavel o meu estado de exaspero. Ambos tinhamos razão; cada um via as coisas pelo seu prisma. Elle estava informado do retrahimento dos officiaes e eu imaginava que todos, até final, tinham obrigação de honrar os seus compromissos.»

      Cumprindo a ordem de Candido dos Reis, Machado dos Santos encaminhou-se para Campo de Ourique. Em volta do quartel de infantaria 16, agglomeraram se muitos populares que affirmavam que o regimento tinha sahido, levando tudo adeante de si. Machado dos Santos, incredulo, approximou-se do edificio e perguntou á sentinella quem ia a commandal-o.

      – Vá para o largo – foi a resposta que obteve.

      E, quasi ao mesmo tempo, a guarda do quartel fez uma descarga de fusilaría, seguida de alguns tiros espaçados que obrigaram o triumphador da Rotunda a fugir até o largo da Estrella e depois até o Rato. Aqui formava pacatamente o 16, commandado pelo respectivo coronel. Mais adeante, em frente da casa do dictador, uma companhia d'aquelle regimento fraternisava com um esquadrão da guarda municipal. Não havia que duvidar; o 16 sahira do quartel, mas para defender a monarchia.

      Em resumo; apesar do insuccesso palpavel da insurreição, é justo consignar que, na noite de 28 de janeiro, muitas das creaturas n'ella implicadas quizeram desobedecer á ordem do comité revolucionario e lançar-se corajosamente na revolta. Houve momentos de amargura, em que esses homens attribuiram a responsabilidade do adiamento, sine die, da insurreição, ás hesitações СКАЧАТЬ