Название: A Revolução Portugueza: O 5 de Outubro (Lisboa 1910)
Автор: Abreu Francisco Jorge de
Издательство: Public Domain
Жанр: Историческая литература
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Não é desasisado suppôr que só com esta esperança é que o sr. Alpoim não adheriu desde logo á Republica. Veiu para a Revolução para trabalhar e trabalhou. Mas, no fundo do seu pensar, talvez se convencesse de que o movimento daria apenas em resultado o apeiar o governo João Franco do pedestal que o monarcha lhe erguera nas columnas do Temps. De resto, o sr. Alpoim confessou isso mesmo mais tarde n'estas linhas que recortamos do seu antigo órgão na imprensa:
«O chefe dissidente, e outros seus correligionarios – não a dissidencia progressista como partido – resolveram então collaborar com os republicanos no intuito de aniquilar o regimen dictatorial que assoberbava o paiz. Vinha a Republica? Tudo era preferivel, tudo, fosse o que fosse, á continuação d'este estado de coisas que era um opprobrio nacional.»
Decidido a trabalhar, tomou contacto com os chefes republicanos e avistou-se com os elementos sem rotulo partidario que apoiavam o movimento. Contribuiu immenso, e mais os seus amigos, para a compra de armamento – e d'ahi o espalhar-se um boato insubsistente a que em breve nos referiremos. A sua interferencia na collecta de fundos para o cofre revolucionario exerceu-se com devotamento digno de registo. Os seus amigos auxiliaram bastante a introducção do armamento em Lisboa e a larga distribuição que d'elle se fez por diversos pontos estrategicos. E se no dia primitivamente marcado para a explosão da revolta não a iniciou com um arranco heroico sobre o ninho da realeza, é porque lhe ponderaram a conveniencia de collaborar antes n'outro episodio não menos importante. Por si, satisfazendo apenas o seu desejo ardente, o sr. Alpoim teria defrontado, com as armas na mão, o monarcha provocador.
Dias antes do 28 de janeiro, Affonso Costa e João Chagas tentaram filial-o no partido republicano. N'uma reunião em casa do visconde da Ribeira Brava, a que tambem assistiu o dissidente Egas Moniz, fizeram-lhe vêr que a hostilidade do paço contra o grupo politico da sua chefia era invencivel e que, marchando elle para a Revolução, de mãos dadas com os republicanos, forçoso se lhe tornava ingressar abertamente na democracia. O sr. Alpoim, ás repetidas e persuasivas instancias que lhe dirigiram n'esse sentido, respondeu:
«Que, sendo chefe d'um grupo politico, que tão dedicada e lealmente o havia acompanhado sempre e onde havia um grande numero de individuos com idéas adversas á Republica, não podia, sem praticar uma deslealdade, abandonar esses amigos; que á causa da Revolução dava a sua pessoa; o seu filho e o seu dinheiro. Estava prompto no momento da lucta a occupar o ponto mais perigoso que lhe fosse distribuido; que nada queria, nem pedia, como recompensa, á Republica, mas que não alterava a sua situação politica.»
A seguir, perguntou ao visconde da Ribeira Brava o que tencionava fazer.
– Eu, meu caro Alpoim – retorquiu-lhe o visconde – já não volto para traz.
O inicio dos preparativos para o 28 de janeiro data de julho de 1907. Um mez depois, Machado dos Santos, que collaborava com os officiaes de marinha Serejo Junior e Soares Andréa n'um acanhado projecto de acção anti-monarchica, foi abordado por Marinha de Campos e Mascarenhas Inglez, que o convidaram a tomar parte no grande movimento organisado pelos republicanos e os dissidentes. A principio desconfiado, Machado dos Santos não tardou a acceder e em setembro, n'uma reunião effectuada no escriptorio de Alexandre Braga, foi apresentado a João Chagas e Candido dos Reis, que com aquelle illustre causidico, Serejo Junior, Marinha de Campos e Alberto Costa, discutiam então a necessidade de chamar o exército em auxilio da conjura. No relatorio que o triumphador da Rotunda publicou em 1911 encontram-se estas passagens que pormenorisam essa reunião:
«Pad-Zé queria ir com 50 homens atacar a cidadela de Cascaes; Marinha de Campos desejava sósinho agarrar a monarchia pelo pescoço e apertar-lhe os gorgomilos. Candido dos Reis com a sua evangelica paciencia deitava agua na fervura, aconselhava paternalmente a moderação e João Chagas, contando os insuccessos de anteriores tentativas revolucionarias, de que havia sido alma, dizia, com a auctoridade da sua experiencia, que sem o exercito nada se devia tentar. «Mas o exercito é nosso!» disse eu ingenuamente á illustre assembleia. Os sorrisos que obtive em resposta convenceram-me do contrario.
«Chagas, o eterno sacrificado das revoluções frustradas, Chagas que, melhor do que eu, melhor do que Candido dos Reis, conhecia os nossos navios de guerra, por n'elles ter sido hospedado pela monarchia, Chagas disse-me que não tivesse illusões, que era necessario trabalhar e trabalhar muito para que alguma coisa se fizesse, e alvitrou uma immediata convocação dos officiaes do exercito, para se saber se estavam dispostos a sahir comnosco para a rua. Candido dos Reis encarregou-se de os reunir e essa reunião ficou assente que se effectuaria tres dias depois, para se conseguir que ella fosse bastante concorrida afim de lhes dar uma impressão de força, que, reunidos em pequeno numero, os officiaes não podiam ter.
«Chamando de parte o almirante, perguntei-lhe se os officiaes da marinha com que contava estavam em commissão de embarque ou no quartel; respondeu-me que poucos, muito poucos, estavam n'essa situação e que d'um momento para o outro podiam ser transferidos e postos na condição de nada nos poderem valer. Perguntei-lhe então se concordava na organisação de fortes nucleos de marinheiros nas differentes unidades, afim de podermos empregar os nossos officiaes no caso do governo os deslocar das situações que tinham.
«Respondeu-me que isso seria optimo, mas que não via quem se quizesse encarregar d'essa organisação, que achava perigosa para a pessoa que a tentasse e que podia expôr o movimento a ser delatado pelo primeiro tagarella de camisola de alcaxa que aparecesse. Disse-me egualmente que via inconvenientes pelo lado da disciplina, porque se o movimento não lograsse exito havia de ser difficil mantêl-a a bordo e para a conseguir muitos teriam que soffrer; comtudo concordava em que sem os fortes nucleos de marinheiros nos diversos navios nunca a Revolução se poderia levar a cabo.
«Ficou assente entre os dois que eu me incumbiria d'isso, declarando ao almirante que me parecia que nenhum movimento os marinheiros deveriam fazer sem a presença d'um official, limitando-se elles a passarem a receber as ordens do official ou officiaes que fossem a bordo ou ao quartel a uma hora combinada…»
D'ahi a dias, Machado dos Santos encetou a tarefa de alliciamento e, dedicando-se especialmente aos frequentadores do bairro de Alcantara, conseguiu juntar oitenta marinheiros, devotadissimos, que, por seu turno se abalançaram, á conquista de novos camaradas, attrahindo-os cuidadosamente á conjura.
CAPITULO IV
A policia descobre um dos fios do «complot»
Emquanto a preparação do combate proseguia sem desfallecimentos por parte dos republicanos, dos dissidentes e d'uma fracção dos libertarios, a policia, reforçada com uma nova remonta de espiões, espreitava anciosa a agitação que percebia na sombra. De vez em quando, julgava apanhar uma nesga de luz e ficava amarrada por instantes a um rasto sem valor. Para não perder de todo o tempo e o feitio, vigiava impertinentemente as creaturas em evidencia no partido republicano, sem seleccionar de entre ellas as que conservavam realmente n'essa occasião estreitas ligações com os revolucionarios. Marchava ás apalpadelas. Embasbacava ante o menor grupo de transeuntes pacificos. Percorria os cafés, disfarçada em padres, mestras, mendigos e moços de esquina, escutava ás portas, farejava o ambiente e esquecia-se exactamente de topar com um dos muitos caixotes de bombas que, em pleno dia, e ás costas de gallegos, se entrecruzavam nas ruas de Lisboa.
Alcantara, СКАЧАТЬ