Название: Vida De Hospedeira
Автор: Marina Iuvara
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Современная зарубежная литература
isbn: 9788835415206
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Durante o curso encontrei três raparigas e ficamos amigas:
Eva, Valentina e Ludovica.
Partilhamos durante aquele período o mesmo quarto do hotel e, depois de ter sido assumidas, decidimos de alugar uma casa em Fregene, localidade marítima situada perto do aeroporto de Roma Fiumicino, a nossa base de partida.
Começou desta forma a nossa aventura.
Eu, Eva, Valentina, Ludovica.
A casa tinha dois quartos, cada uma com uma cama casal, e a única casa de banho era frequentadíssimo: difícil conseguir encontrá-lo livre, assim como o telefone de casa.
Procuramos de adaptarmo-nos àquela situação e conseguimos conviver não sem pequenas divergências, procurando descer para qualquer mínimo compromisso, aquele mais difícil era decidir quando e quem tivesse que lavar os pratos sujos.
Eva tinha uns lindíssimos cabelos ruivos, ondulados e macios que caiam nos ombros, os seus olhos cor castanho claro pareciam verdes nos dias mais ensolarados, a sua fisionomia era franzina e esbelta; provinha de Bergamo alta, como dizia ela, e tinha um espírito de napolitana verídica, comunicativa e calorosa; amava a sua desordem, trazia sempre uma máscara para o rosto para experimentar e frequentemente girava pela casa com a sua preferida, aquela de argila ventilada de cor verde, e aplicava o óleo de amêndoas doces para amolecer os cabelos.
Ludovica não cessava por acaso de falar e não sabia em nenhuma ocasião como fazer para bloquear aquele rio totalmente cheio de palavras mal tivesse aberto a boca.
Ela era loira com uns lindíssimos caracóis, olhos dum azul intenso e uma pele lisa e clara, as suas formas eram amanteigadas e harmónicas; muito arrumada e cuidada – o oposto de Eva – trajava fatiotas de marcas e conservava as suas camisolas de lã, cada uma no saco plástico transparente; cozinhava muito bem.
Provinha da Sardenha, e namorava com um rapaz, seu conterrâneo, que muitas vezes parava na nossa casa, de vez em quando forçando a companheira do quarto, Eva, a dormir no sofá da sala.
Ludovica era fanática pela ondulação artificial dos cabelos.
Eu dormia no outro quarto com a Valentina que era uma rapariga cheia de vida e entusiasmo, muito sensível, honesta e generosa.
Os seus cabelos eram escuros e direitos, cortados à tigela, os olhos pretos, muito profundos e sensuais, a conformação física era magra e bem moldada.
Valentina gostava, à noite, ficar até tarde antes de ir à cama, melhor se na companhia do seu aperitivo aromático preferido: Montenegro com gelo. De manhã contemporizava na casa de banho porque as suas lentes de contacto lhe davam muita maçada.
Éramos muito chegados.
«Hoje fomos convidados à festa de bem-vindos em casa daqueles pilotos que vivem na rua Masotta, em frente da nossa casa!» exultou Eva.
«Por que não dar um salto?» disse.
«Sim» consentiu Valentina.
»Estou curiosa para conhecer melhor os nossos vizinhos.»
Ludovica foi logo para secar o cabelo, eu experimentei quase todos os vestidos que estavam dentro do guarda-vestidos e questionei-me se nunca teria conseguido fechar o zipe nos lados daquelas fantásticas calças azuis. Eva aplicou o seu novo óleo perfumado a lírio-do-vale e Valentina correu para maquilhar-se em primeiro lugar.
Felizes, efectuamos os primeiros passos em direcção daquele pequeno mundo em si, até então desconhecido: o reino dos voadores, diferente daquele dos únicos passageiros, como usa distinguir quem trabalha nos aviões.
O que notamos logo neles foi o conhecimento e a frequentação de lugares que nós tínhamos apenas sonhado de visitar e a felicidade extrema ao alcançá-los devido ao hábito de viajar; a capacidade de adaptar-se em qualquer parte do mundo dada ao conhecimento da população e dos territórios, da cultura e das tradições; elevado número de amizades em diversos lugares que podíamos manter na vida pois que constantemente frequentados; a abertura mental necessária para estar em contacto com o mundo e os seus habitantes, a capacidade de entrar imediatamente em empatia com estranhos mal conhecidos sem os usuais embaraços iniciais, para além de tantas manias e fixações que cada um levava consigo da própria residência dentro da mala, a sua pequena segunda casa.
Uma vez que se tornarão voadoras, o serão por toda a vida, nos disse em voz baixa, como se fosse uma verdade ocultada, uma marca que levaríamos para sempre. Percebemos que começar a voar teria sido como viver duas vidas paralelas que se alternam todas as vezes que se parte para o trabalho e mal se regressa na única realidade privada, teria sido como falar uma nova língua, incompreensível aos outros, onde o mundo é a tua casa, e a casa é o teu mundo.
Descobrimos que quase todas as noites organizava-se alguma coisa.
Éramos uma espécie de grande família que se reunia entre aqueles que regressavam dos voos e repousam entre um turno e o outro, mas se o dia seguinte precisava partir nos prometia de novo, todas as vezes, de ir a cama cedo e de não exceder com a comida e bebidas, para evitar nojentas dores de cabeça e náuseas matutinas que, a bordo, seriam duplicadas com a altitude e o ar condicionado.
Durante o trabalho era preciso ser impecável, os voos e os passageiros por enfrentar teriam sido uma dura prova, sabíamos bem.
Depois de ter assinado o contracto de admissão na ampla sala de um majestoso prédio e, com uma grande surpresa, designada o destinatário da polícia de segurança em caso de morte, com forte emoção constatamos que mesmo nós íamos nos tornar logo aves voadoras.
O primeiro voo
O primeiro voo é para todos, inesquecível.
Atribuíram-me uma rotação para Paris, estava emocionadíssima, embaraçada ao entrar primeiramente naquele avião, todo vazio, pronto para acolher a nossa tripulação antes dos passageiros.
Fiquei a conhecer finalmente os segredos do galley, que seria uma espécie de cozinha a bordo, onde se encontram os fornos para aquecer as refeições, frigoríficos para manter as bebidas frescas, todos os carrinhos com a comida, a zona destinada para conter os resíduos, e as dotações necessárias para o andamento do voo. Nesta área é preparado todo o serviço antes do seu inicio e, para as hospedeiras, é o lugar mais confidencial e íntimo, o único lugar suficientemente reservado que concede poucos minutos de separação com os passageiros, graças à uma cortina que oferece preciosos momentos de privacidade sobretudo nos voos excessivamente longos. Revelações e confidências efectuadas em voz baixinha são com frequência narradas e desvendadas aqui, no baú dos segredos das hospedeiras.
Verifiquei, junto da tripulação, que tudo tivesse sido limpo de forma cuidada, que o catering tivesse abastecido como deve ser todos os carrinhos, os fornos e o frigorífico, que os equipamentos e as luzes de emergência estivessem eficientes e em ordem.
Eu era o oposto das minhas colegas, tão desinibidas e seguras nos movimentos, já antigas da companhia, diz-se assim.
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