Название: Vida De Hospedeira
Автор: Marina Iuvara
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Современная зарубежная литература
isbn: 9788835415206
isbn:
Não obstante uma estrada de centenas de quilómetros agora nos separa, sei sempre de poder contar com ela, e vice-versa.
Nos suportamos, nos criticamos obstinadamente, nos proferimos opiniões, nos elogiamos e nos mandamos passear… sempre com grande afecto, e é difícil, uma viver sem a outra.
A segurança recíproca torna especial esta verdadeira amizade, um ingrediente que normalmente escapa nas relações amorosas.
Nos une uma grande paixão: partir lá para metas distantes.
Sempre adorei viajar, me dá um sentimento de felicidade.
Quando me distancio de tudo e de todos encontrando-me em dimensões e fusos diferentes é como se conseguisse avaliar o resto por fora: de longe, com efectivo destaque seja físico como mental.
Tiziano Terziani escreveu: a nossa destinação não é por acaso um lugar, mas um novo modo de ver as coisas: e é desta forma também para mim, ou melhor para nós os dois.
Viajando consigo reparar melhor dentro de mim, para ver com clareza quem sou, e para eu poder melhorar.
É como se o mundo com todos os seus problemas se distanciasse, mudasse de horizonte, e eu readquiro as minhas forças, as minhas energias.
Afastando-me da realidade rotineira, uma carga de adrenalina reforça-me tanto assim para me dar vitalidade e positividade enormes, ajudando-me a encontrar as respostas certas.
Viajar é uma invasão de mundos que não são os meus, é sempre uma satisfação que me proporciona um emocionante sentimento de liberdade, e me ajuda a descobrir de novo parte da minha autonomia.
Há algum tempo realizei aquele grande desejo que tinha desde criança: tornei-me uma hospedeira de voo.
Passaram anos, mas me lembro como se fosse ontem o momento em que decidi mudar a minha vida. Aquele dia está impresso na minha memória. Estava com Stefania.
Gostaria de ser hospedeira
«Basta, estou farto! Mário tornou-se insuportável, chegou a rastrear-me até quando tomo café com as minhas amigas, não quer que vá no ginásio e me proíbe mesmo só de saudar o meu ex!
Quero pensar mais em mim e me tornar independente.
Por que não criamos algo nosso e abrimos uma actividade juntos?»
«Tu o que prevês para o futuro, Anna? O que gostaria de fazer como profissão?»
Disse-me assim Stefania, no habitual encontro matutino para um café no Bar della Finanza, em frente de casa, desapontada pela sua perspectiva de futura dona de casa, muito desejado pelo namorado muito ciumento mais do que ela.
Nunca colocaram seriamente aquele tipo de pergunta, nem tinha feito exactos projectos profissionais futuros.
Depois de ter frequentado o liceu secção de letras e ter-me inscrito na universidade na faculdade de direito, visto que as disciplinas científicas não eram as minhas preferidas, procurei um trabalho como secretaria para poder suportar os estudos e procurar satisfazer algum pequeno capricho.
Então acordava todas as manhãs à mesma hora e, depois dum rapidíssimo pequeno-almoço, introduzia-me no caótico tráfego da cidade enfrentando os três quartos de hora da interminável fila em frente dos semáforos, e as barulhentas filas de automóveis nos cruzamentos que procuravam ultrapassar-me por toda a parte para conseguir poupar um punhado de minutos, necessários para chegar em boa hora no escritório.
Todos os dias na avenida Barriera del Bosco, onde estava no engarrafamento no habitual ponto quente crucial, no semáforo, durante mais ou menos uma quinzena de minutos, eu encontrava com frequência um homem barbudo sentado numa pequena elevação de terra, forjada com as suas mãos.
Agachado em baixo da sombra de uma árvore, observava aquele interminável vaivém, sempre igual todos os dias.
O olhar deste indivíduo era dum ar sereno, e espiava uma realidade distante da sua: todos aqueles homens, mulheres e crianças que passavam aprisionados dentro dos seus automóveis.
Ele era suficientemente discreto, como se não quisesse deixar notar-se que estava ali a repará-los atentamente, maravilhando-se ao encontrar todas as manhãs as mesmas faces nervosas e exaustas, os mesmos automóveis engarrafados um atrás de outro com engates sempre diferentes, e todas aquelas buzinas que tocavam para protestar: creio que se questionasse como era difícil para estes homens encontrar a tal tranquilidade que ele parecia ter alcançado.
As suas pupilas moviam-se atentas e dirigiam olhares quase de benevolência e indulgencia para aqueles tantos motoristas que, por sua vez, perscrutavam com compaixão e desprezo a ele e os seus trapos depositados no prado, sempre húmido.
Todas as manhãs questionava-me quem dos dois estivesse realmente louco, eu, nervosa motorista ou ele.
Pensei durante toda a noite na questão que me colocou Stefania relativamente ao meu futuro.
A resposta chegou ao final da tarde, na hora de costume regressando do trabalho, dentro do meu carrinho, depois de ter evitado um embate frontal com um imbecil que me tinha cortado a prioridade, no fim de uma interminável jornada laboral a debater-se com um gerente amante de injurias mas também safado, com colegas que teria com todo o gosto evitado de encontrar: falsos e prevaricadores.
Saindo do escritório, abandonei aquele parque de estacionamento muito procurado durante a manhã, conseguido depois de ter brigado duma forma suficientemente violento com um outro mal-educado convencido de ter visto o espaço antes de mim, que me ordenava brutalmente de ir embora obstruindo a minha entrada.
Naquela tarde verifiquei apenas uma pequena arranhadura na carroçaria e o limpa-pára-brisas posterior girava de forma injusta.
Todos os dias, chegado em casa cansada, arrumava de novo e preparava o jantar apressadamente por via daquela fome ávida que conseguia enganar provisoriamente tirando da geladeira restos frios do dia anterior e bocados de queijo amarelecidos, pois que mal repostos nas confecções de plástico permanecido abertas.
«Gostaria de voar!» Gritei de repente.
«Sim! Achei! Gostaria de voar!»
Aquilo que me seduzia absolutamente era evitar a mesma rotina quotidiana, o trânsito da cidade, ver sempre as mesmas caras e os mesmos lugares. Teria amado estreitar relações com pessoas todas as vezes diferentes, mudar os meus espaços, alargar as minhas ideias, ter a possibilidade de girar o mundo de deliciar-me de receitas da cozinha internacional.
Pensei nisto mastigando uma bolacha agua e sal e a ultima azeitona que sobrou.
O meu sonho era aquele de voar, queria ser hospedeira de bordo.
Liguei logo para Stefania.
Stefania ficou entusiasmada pela ideia e me anunciou que queria segui-la também ela, a sua única preocupação era aquela de enfrentar o namorado.
Tempo depois, com os olhos que brilhavam e com a pagina rasgada duma revista na mão, vimo-nos a ler atentamente e cheias de entusiasmo aquelas indicações sobre:
Como tornar-se assistente de bordo.
Assistente СКАЧАТЬ