Название: Spaghetti Paraiso
Автор: Nicky Persico
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Зарубежные детективы
isbn: 9788835400363
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Relativamente, porque três, quatro ou mesmo cinco mil euros não eram pouco para um parecer muito fácil.
A empresa, depois, facturava a prestação ao escritório de advocacia, acrescentando a sua boa, enorme, parte de lucro.
Poder-se-ia contestar as escolhas do escritório? Não. É um privado e faz aquilo que lhe convém, dado que o dinheiro é, de acto, subtraído à sua conta dos honorários.
Poder-se-ia contestar as recargas excessivas feitas pela empresa?
Não. Não é justamente uma culpa fazer dinheiro, para uma empresa que nasceu para tal. E tudo fluía simples como óleo.
Com a maioria das quotas da propriedade inseridas numa posterior empresa situada no estrangeiro, depois, a máquina operava em substancial anonimato, para evitar boatos e calúnias de qualquer jornalista metediço. Talvez poderia descobrir que tudo ia parar na irmã do assessor.
Algum sócio, da maioria, de todas as formas aparecia: um manager, pessoa de confiança, exactamente, que bem retribuído e muito satisfeito de não fazer pergunta, servia de fachada, para não dar a impressão que fosse uma caixa vazia. Um sistema perfeito na verdade. Mesmo se tivesse sido descoberto (coisa em si árdua) dificilmente poderia accionar a hipótese de crime. Tangentes, menos que nunca.
E os assessores mudam, mas o truque não. Eram mais que um, aqueles que se tinham sucedidos politicamente, e com algumas limadelas, ou cessão de quotas «estrangeiras às outras estrangeiras», o sistema tinha sido rapidamente reposto em pé. Blindado. Se alguém falava, de acto devia mesmo auto-acusar-se, e o crime não foi dito que teria sido demonstrado. Pelo contrário. E tal alguém, ter-se-ia mesmo encontrado a fazer as contas com as iras do grupinho.
Por isso: silêncio e Porsche para todos.
Único ponto fraco: a primeira fase dos acordos, e alguns ajustamentos durante o decurso. Eram estes, efectivamente, os momentos nos quais era necessária dizer claramente como estavam as coisas, o elemento probatório que podia ligar tudo, revelando a natureza criminosa. Mas com algumas simples precauções, era ao fim e ao cabo um risco nulo. Nada de comparável com aqueles tolos que de vez em quando deixam-se prender com os envelopes cheios de dinheiro, interceptados até aos cabelos, talvez por alguns miseráveis euros, pensava dentro de si o advogado enquanto digitava a soma final do honorário. 350.000,00 Euros. Subtraídas as taxas, as despesas e a «consultoria», 150.000 eram para ele.
Terminado de digitar, o advogado Paceno sentiu-se, como muitas vezes lhe sucedia, um Deus na terra. Não era roubar, o seu. Era a justa retribuição para quem tem uma inteligência superior. Ou melhor, para quem «é» superior.
E tudo isto, principalmente, o ajudava a esconder ao mundo e a si próprio a profunda desgraça da sua alma.
CUSTOMER CARE
Caminhava ao longo duma das estradas perpendiculares ao mar: a partir do passeio sobre o qual me encontrava não podia ainda vê-lo, mas sentia a presença.
Até a uma determinada hora da tarde, mais ou menos as 17, a partir lá para depois do almoço as lojas tinham ainda as grades de enrolar abaixadas.
O começo da tarde.
Também em Bari, um certo momento do dia chama-se assim. Porque passa das «12», números grandes, às 13, dito em gíria: «uma». Recomeço a contagem, e pois «o começo da tarde». Depois o almoço, entremeio tranquilo, com pouco transito e pausa para café.
Nos anos setenta o começo da tarde era um rito social quase sagrado. Parecia que estivesse a jogar a selecção nacional: todas as tardes. O deserto urbano, silencioso. Cristalizado, imóvel, fechado. Hoje é um pouco diferente, houve uma progressiva milanizaçao. Mas sempre «o começo da tarde» permanece.
Os olhos entreabertos, procurando de fixar um instante. Era um quadro perfeito, no fundo, e uma sensação agradável é absolutamente impressa na memória todas as vezes que se apresenta a possibilidade.
A vida é feita de instantâneos, que se sucedem incessantemente uma depois da outra, com uma cadência precisa e contínua, que cada um de nós, inconscientemente, sente como o ritmo da vida. As instantâneas são de tal forma aproximadas para não poder ser percebidas singularmente. Estando em rapidíssima sequência, formam um fluxo uniforme. É aquela coisa que eu chamo o princípio dos irmãos Lumière, que não sei se faziam cinema ou psicologia.
Aqui está.
Quanto a mim isto é o fluxo da vida «que desliza como um lenço de cabeça de seda, entre os dedos» e que, no seu deslizar, dá-te uma única sensação «que sentes apenas quando inicia, ou quando termina».
Deste cadenciar, de todas as formas o ser humano tem a plena consciência desse facto, e isto explica o prazer da música, linguagem universal que percorre, une e destaca algumas instantâneas deste variável fluxo, tornando-as perceptíveis. Apodera-se do teu deslize, torna-to perceptível, e guia-te nas emoções.
É aquela que muitas vezes é definida visão de conjunto, interpretando, com esta expressão, o considerar dinamicamente mais elementos colocando-os em comparação entre eles e portanto colhendo posteriores aspectos de forma dedutiva. Funciona também com as sensações.
Estes aspectos, se avaliados particularmente, não poderiam por acaso ser sugeridos ou indicados pelos mesmos elementos.
As instantâneas, a sequência, o fluxo.
O resultado da correcta dedução projectiva e perspectiva destes aspectos, destes fotogramas espalhados que colocados juntos sugerem um movimento, é o que se define clarividência. Às vezes, pelo contrário, trata-se de verdadeiros e próprios sinais previstos, ocultos apenas a quem vem as coisas uma por uma, particularmente. Mas a visão de conjunto necessita da essência dum elemento: a ignorância. Pode-se buscar como exemplo o jogo de xadrez: enquanto alguns vêem apenas um pedaço em forma de paulito que se move um quadradinho de cada vez, ou um outro em forma de torre que se desloca apenas sobre directrizes rectilíneas, quem conhece as dinâmicas do xadrez compreende o que está realmente acontecendo, e tem a noção daquilo que vai acontecer dentro dum certo número de movimentos.
Sobre estes princípios estava perfeitamente de acordo com o advogado Spanna: «para combater um fenómeno complexo, de resto, é necessário compreender as linhas gerais. Além da sintomatologia, que constitui os elementos da criminalidade. Se conheces, apenas alguns aspectos, desconexamente, o fenómeno conseguirá enganar-te, desfrutando a tua ignorância. Este é o mecanismo dissimulado das associações de carácter mafioso. E quem aprendeu a reconhecê-lo, e a desvendá-lo, sabe também quais são os verdadeiros pontos fracos. Tais pontos fracos que na verdade a máfia conhece bem, e tenta ocultarem, desviando-te».
Abrindo de novo os olhos, voltei para mim. Com uma SMS comuniquei ao Cerrati que o teria esperado num bar ali perto, pouco distante do escritório.
Dirigi-me com um passo lento mas decisivo, atravessando a rua, e entrei no café deserto. O empregado do balcão não pareceu ter notado, ainda que estivesse orientado lá para a entrada. Pude intuir pelo inconfundível tilintar que estava arrumando os copos naquela zona obscura habitualmente situada sob a prateleira onde são servidas as bebidas, uma zona ocultada à vista dos clientes, da qual, como por magia, sai dali para fora tudo, desde rodelas de limão até saquetas de adoçantes que em certos lugares aparecem apenas sob um explicito pedido («… não as deixam a disposição porque senão roubam-nas as senhoritas que estão em dieta…»).
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