Название: Spaghetti Paraiso
Автор: Nicky Persico
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Зарубежные детективы
isbn: 9788835400363
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Pausa. Tinha opção da palavra. A colhi.
«É que o direito, as vezes, é bastante estéril, esquemático, anacrónico». Argumentei, «e não é fácil habituar-se a isso.»
Tive a pura sensação de ter dito uma clamorosa treta, não obstante tivesse expresso uma opinião plausível. Mas não sabia concretamente onde estivesse o erro. Duas palavras, e já estava em dificuldades.
O advogado tirou os óculos, e pareceu duvidoso.
«Estéril, esquemático e… ah sim… anacrónico.»
Repetia as minhas palavras, falando pausadamente com os olhos baixos enquanto dava-se massagens suavemente na têmpora.
«Pois», acrescentei com um mal disfarce da desorientação de quem sabe de ter sido imprudente, colocando-se na posição justa para receber um tiro de canhão em plena cara.
Depois ergueu o olhar e fixou-me.
«O que é a máfia?» tinha disparado a queima-roupa.
«Hum… em sentido, advogado?»
«Procurei saber de ti o que é a máfia. És um advogado estagiário. És licenciado em direito. São seis meses que frequenta este escritório de advocacia e os tribunais. O que é a máfia? Explica-mo.»
Bastardo.
«Pois, eis, a máfia é… portanto…» procurei recordar o artigo. «O… o… 416 do código penal… ou melhor não o 416 bis… sim… associação de índole mafiosa. É uma forma agravada da associação para o crime… quando, digamos, apresenta diversos agravantes… sim… enfim…»
O advogado Spanna relaxou, quase alucinado. Era talvez a primeira vez que o via desta forma.
«Fiz a mesma pergunta às muitas pessoas», disse num tom calmo e com uma expressão quase desiludida no rosto (mais que desiludida, pareceu insatisfeito. Ligeiramente insatisfeito. Mas creio que fosse apenas uma minha secreta esperança) «e muito delas não souberam responder. Outras responderam em termos vagos. Um pouco como fizeste agora. Embora fala-se muito, da máfia. É uma palavra notável para todos. Luta «contra máfia», medidas contra «máfia», protestos e marchas, iniciativas. Contra «a máfia». Muitos respondem, de qualquer modo, a esta pergunta: mas muitos, substancialmente, procuram uma definição no momento em que lhes questionam, surpresos pela aparente evidência da questão. É como se lhes tivesse perguntado donde vem o leite, ou de que cor é o alcatrão. Depois, diante da minha espera imóvel, começou a dar-se conta de não saber, mas não se capacitam. E tiram fora tudo: bandos armados, homens organizados em gangues, que pedem comissões, matam, roubam, controlam o tráfico de droga, gerem actividades lícitas para lavar dinheiro "sujo". Dizem coisas desta forma. Mas eu insisto, e lhes faço notar que aqueles que estão a descrever são elementos que definem o fenómeno da associação para o crime, aplicáveis a qualquer bando armado de criminosos, e proponho de novo a questão: o que é a "máfia"? Quando e por que uma associação criminal pode ser definida "mafiosa"? Ou melhor ainda: "de tipo mafioso" o estado pune muito severamente a associação de índole mafioso. O que é que o estado combate, exactamente, e por que razão, vistas as medidas adoptadas, o julga tão perigoso?»
Estava absolutamente possuído pelo seu discurso, e curioso para perceber onde quisesse chegar. «Vejo-os, muitas vezes, render-se à evidência, e admitir por si próprios de não saber nada de algo que, paradoxalmente, acreditavam de conhecer muito bem: a máfia. Mas obviamente, nem todos sabem tudo. E esta é uma verdadeira evidência.» Reparou-me de novo, directamente nos olhos.
«Mas tu, que sabes destas coisas bem de tal forma para definir o direito estéril, e… ah… anacrónico, deverias saber dar-me uma resposta concreta, não achas?»
Tinha lido um dístico, na Tv. Estava escrito: «a máfia é uma montanha de merda».
Eis, naquele momento sentia-me exactamente em baixo, daquela montanha.
O meu silencio foi mais eloquente que qualquer resposta. Não estava molestando. Não estava me dizendo «és um pequeno sacana arrogante». Estava deixando-me sentir, que é pior.
«Veja, muitos sabem de não saber muitas coisas: a fórmula química do magnésio, o peso específico do plutónio. Não sabem e basta, não faz do seu trabalho, ou talvez não lhes é por acaso acontecido de ouvir falar, ou então nunca tiveram a necessidade de sabê-lo. E não há nada de errado, em tudo isto. Mas se lhos questionas, a resposta deles será "não sei". Ao contrário, a real diferença, quando fala-se de máfia, é que praticamente todos estão convictos de saber seja o que for, e pelo contrário este fenómeno é ainda fugaz, impalpável, imperceptível.»
Não deixava uma ruga, e mais, nunca tinha visto tanta loquacidade, no Spanna.
Eu, enfim, estava como um que, começado a ver o filme, não via a hora de saber quem fosse o assassino.
«Mas a passagem mais difícil para acreditar, para perceber, para explicar, é que tudo isto não acontece por acaso. Porque muitas vezes, independentemente do que se diga, a máfia "não existe". Ou melhor: a máfia não deve existir, segundo os seus filiados. Sabias que é por isso, segundo alguns, que se chama "Cosa Nostra/Nossa Coisa"? Parece que ao começo do fenómeno – falo de muitíssimos anos atrás – a todos os filiados é proibido dar um nome a esta organização. Porque o tornaria mais identificável, e pois contrastável. É muito mais difícil combater um inimigo, se não te parece como tal. Quando não sabes nem tão-pouco como é feito. Para combater um fenómeno complexo, de resto, é necessário compreender os traços gerais.
Além da sintomatologia, que constitui os elementos do crime. Se conheces apenas alguns aspectos, aos solavancos, o fenómeno conseguirá dar a volta, desfrutando a tua ignorância. Este é o mecanismo dissimulado das associações de carácter mafioso. E quem aprendeu a reconhecê-lo, e a desvendá-lo, sabes também quais são os seus verdadeiros pontos fracos. Tais pontos fracos que na realidade a máfia conhece bem, e tenta de ocultar, desviando-te. Os homens do estado que perceberam, aqueles que podiam revelar a identidade deste monstro invisível, suportaram a ira furiosa e nefasta, e muitos deles é isto que pagaram com a vida. Porque a máfia não quer ser desvendada, e quando alguém está em condições de compreender os reais mecanismos, de revelá-la, a máfia mata. Mata para não ser morta.»
Estamos quase, pensei. Agora vai-me explicar. Oxalá.
«Agora, Alessandro, voltando a nós, não penses que um como tu, com todas as qualidades que possui, ao ponto de sentir-se capaz de definir o nosso direito anacrónico, deveria estar em condições de dar uma resposta a esta simples pergunta? Sabes que no código existe uma resposta, ou não? E certamente sabes também que o código dá a precisa descrição…»
Não. Não me disse, quem era o assassino.
A partir da montanha de merda despontou a minha voz, flébil.
«Sim, creio que deveria ver melhor o código, advogado.» Estava arruinado. Fizera-me vida negra, e merecera.
Quis ir embora, mas ele mandou-me parar.
«Espera, tenho algo para te dizer.»
«Sim, advogado…»
«Gostaria de confiar-te um caso. Escuta atentamente.»
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