Cian. Charley Brindley
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Читать онлайн книгу Cian - Charley Brindley страница 15

Название: Cian

Автор: Charley Brindley

Издательство: Tektime S.r.l.s.

Жанр: Приключения: прочее

Серия:

isbn: 9788835410249

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СКАЧАТЬ eu assobiei através do tabuleiro de xadrez quando percebi que estava prestes a perder minha rainha – isso de uma posição de sorte da sua parte.

      Eu já tinha perdido meus dois cavalos nos quatro movimentos anteriores.

      – Mate em três – disse o capitão, estudando o tabuleiro sobre meu ombro e aguardando ansiosamente sua chance de dar uma surra em Dortworthy.

      Ele não disse isso de maneira maldosa ou sarcástica, era apenas uma afirmação, uma certeza que, de fato, um momento depois reconheci, colocando meu rei ao seu lado.

      Cian sentou ao meu lado, observando atentamente. Ela sabia que eu não gostava de responder perguntas sobre xadrez enquanto jogava contra outra pessoa, então permaneceu em silêncio, embora eu soubesse que estava bastante entusiasmada para saber o que era um garfo e por que deveria levar ao final do jogo tão rapidamente.

      O capitão tomou o meu lugar quando concedi o jogo ao homem. O capitão Sinawey durou um pouco mais que eu, mas, ainda assim, naufragou em menos de vinte minutos.

      Eu me perguntava, como poderia esse traficante de couros e perfumes rude e vulgar jogar um xadrez tão devastador?

* * * * * *

      Naquela tarde, sentamo-nos, empoleirados em banquinhos de três pernas, encarando o vento, para que os fios de cabelo se afastassem de nós. Estávamos no topo da casa de leme, a estibordo, o lugar favorito de Rachel no Borboleta, pelo menos entre os lugares que ela podia ir. Eu esperava um dia sair do convés e ouvi-la me chamando e rindo do cesto no alto da gávea. Ela adorava o teto da casa de leme porque podia ver quilômetros ao redor. Convencida de que seria capaz de ver a Europa à frente e a América do Sul atrás de nós da Gávea, ela sempre implorou para ir até lá. Eu ainda não havia desistido e proibi Cian de ceder aos modos inteligentes de persuasão da criança. Mas eu sabia que era apenas uma questão de tempo até que as duas subissem lá, nem que fosse apenas pela diversão boba de me aflorar os nervos.

      Com um pedaço de pano de vela em volta do pescoço e cobrindo meus ombros, Cian cortou meu cabelo. Depois de muitos meses sem um corte de cabelo real, fiquei feliz por me livrar dele. Eu nunca gostei de ir ao barbeiro, mas me pareceu que havia algo muito sensual em uma mulher aparando os cabelos de um homem. Não estava apenas sentindo as mãos dela no meu cabelo, mas a carícia ocasional em meu pescoço enquanto ela trabalhava, bem como o calor dela tão perto das minhas costas. O banco, sem encosto, tornava o contato de nossos corpos muito mais íntimo do que uma cadeira comum.

      Kaitlin tinha apresentado as tesouras à Cian quando ainda estávamos na Amazônia, minha irmã guardava uma tesoura em um de seus muitos bolsos, além de vários outros instrumentos e apetrechos. Quando ela notou o fascínio de Cian pela ferramenta de corte, ela deu de presente a tesoura a ela e mostrou como usá-la.

      As três crianças sentaram-se de pernas cruzadas aos meus pés e ouviram com muita atenção enquanto Cian contava uma de suas histórias enquanto aparava meus cabelos. Billy Kane, também necessitando de um corte de cabelo, sentava-se com o queixo em concha, quase sem piscar enquanto aproveitava cada sílaba. Magnalana MeCinco, uma garotinha adorável que, já tendo desfrutado de umas cem escovadas nos cabelos ruivos, parava Cian com perguntas a cada momento, assim como Rachel. Billy e Magnalana tinham a idade de Rachel e os três haviam se tornado grandes camaradas. Eles brincavam o dia inteiro do convés ao porão, onde encontraram esconderijos maravilhosos e muitas coisas curiosas entre a carga.

      Cian falava e eu, com correções ocasionais de Rachel, traduzíamos para Billy e Magnalana, que entendiam francês muito bem. Ela usava uma mistura de Yanomami e português, enquanto eu aliviava a história em língua francesa pelo bem das crianças.

      – Estava no meio da estação seca nas profundezas da floresta tropical – disse Cian enquanto cortava e penteava meu cabelo – quando a velha Miki-Leya estava ofegante nas margens verdes e quebradiças do rio Mãe. As piscadas de seus olhos foram ficando cada vez mais longas enquanto o sol ia se pondo na floresta, na margem oposta do canal de água verde e preta. O som de pássaros brigando levantou sua cabeça, e ela se esforçou para se concentrar nos galhos de uma andiroba morta, pendurada sobre o rio. Agora havia mais urubus do que antes, e um recém-chegado estava repreendendo e bicando seu irmão por um lugar no galho onde cravar suas garras e esperar.

      – O que são urubus, afinal? – perguntou Magnalana.

      – Urubus são pássaros – explicou Cian – que vêm comer a carne dos animais quando morrem.

      – Eles comem pessoas mortas também? – perguntou Rachel.

      – Sim, pessoas também.

      – Ei, espere um pouco – disse Magnalana – As pessoas morrem?

      Bem, essa era uma pergunta inesperada da garota. Obviamente, pelo tom de sua voz e expressão, ela não tinha sido informada acerca da finitude humana. É claro que ela tinha apenas nove anos de idade, então poderia ser que ninguém próximo a ela tivesse falecido ainda.

      Eu acho que a taxa de mortalidade na selva deve ser bem maior do que a que conhecemos, devido à falta de hospitais e organizações de apoio social, além de estar mais perto do limite da incerteza. Eu me perguntava como Cian lidaria com a questão. Ela responderia de maneira grosseira e prosaica como eu imaginava que faria a uma criança Yanomami, que provavelmente já havia testemunhado a morte muitas vezes, ou mostraria compaixão por uma menininha que pode ter levado uma vida protegida até esse ponto e pode não estar totalmente preparada para a ideia de perder a mãe ou o pai para a morte? Mas eu precisava ter me preocupado menos.

      – Na primavera —começou Cian – flores amarelas e vermelhas, como crianças, crescem a partir das sementes que seus pais plantaram amorosamente no solo próximo. A mãe e o pai assistem orgulhosamente seus filhos crescerem durante o verão, enquanto os protegem da melhor maneira possível do sol brilhante.

      As três crianças ouviram atentamente sem interromper.

      –Pouco antes do início da estação das chuvas, quando os filhos das flores crescem até a altura dos pais e estão prontos para fazer sementes e produzir suas próprias pequenas flores, o corpo dos pais retorna à terra. Feliz em saber que eles completaram suas tarefas aqui neste mundo, seus espíritos voam longe para estar com seus… – Cian hesitou e olhou para mim.

      – Deus? – eu perguntei.

      – Sim – ela disse – os espíritos voam para ficar com o Deus deles.

      – Você quer dizer – disse Magnalana e piscou antes de continuar – que mamãe e papai vão morrer?

      Antes que Cian pudesse dizer alguma coisa, Rachel respondeu por ela

      – Todo mundo morre. Mesmo nós, crianças.

      – Todo mundo morre?! – Magnalana exclamou – Mas que plano estúpido, quem pensou nisso?

      – E se nenhuma das flores morresse, como seria? – Cian perguntou – Ou suponha que todos os animais pudessem viver para sempre? Em breve, estaríamos todos cobertos por camadas e camadas de animais famintos, se mordendo em meio a pilhas de flores murchas. Por isso, Magnalana, todos os antigos devem morrer para dar espaço aos novos, como vocês três. – Ela acenou com o pente na direção das crianças —Em breve, vocês tomarão nossos lugares quando nossos espíritos retornarem à terra. A morte não é uma coisa ruim, é necessário que a terra tenha espaço para gerar nova vida e é por isso que precisamos СКАЧАТЬ