Название: A Deusa Do Oriente
Автор: Barbara Cartland
Издательство: Bookwire
Жанр: Языкознание
Серия: A Eterna Colecao de Barbara Cartland
isbn: 9781782136132
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–Agora estou começando a entender. A senhorita não viajou desde a Inglaterra sem ter a companhia de alguém, não é mesmo?
–Não. Fui assistida com muita dedicação pelo pastor Grant e sua senhora, até Bombaim. Chegaram até mesmo a encontrar alguém que tomasse conta de mim de lá até a cidade de Bhopal, mas infelizmente minha acompanhante ficou doente no último momento e em vez de esperar que eles providenciassem mais alguém decidi vir sozinha.
–Vejo que é uma jovem cheia de iniciativa. Sabe, porém, que é fora de todo e qualquer propósito uma mulher, seja ela casada ou solteira, viajar sozinha na Índia?
–Pensei que os ingleses tinham os indianos sob controle– ela retrucou, em tom de provocação.
–Fazemos o que podemos. Ao mesmo tempo, mal posso acreditar que a senhorita viajaria pela Inglaterra sem uma governanta ou uma criada.
–Sei tomar conta de mim mesma.
–Não duvido, mas é algo que não deve tentar fazer neste país.
Brucena lembrou-se dos revoltosos e da cena tumultuosa que eles haviam aprontado na estação. Não daria ao Major Huntley a satisfação de saber que eles, na verdade, haviam-na deixado terrivelmente assustada e não duvidava de que algo terrível havia acontecido com o bebê.
–Agora que se encontra aqui, posso cuidar da senhorita até o fim da viagem, mas acho que o Capitão ficará muito surpreendido.
–Está trabalhando com ele?
–Estou, sim.
–Então, porque tem um posto mais alto do que o dele?
O Major Huntley sorriu.
–Seu primo é um funcionário público nomeado diretamente pelo Governador-Geral. Administra um território muito extenso, enquanto eu comando os soldados.
Brucena haveria de descobrir mais tarde que ele estava subestimando suas funções, mas naquele momento limitou-se a sorrir.
–Já que está trabalhando com primo William, não quer me falar a respeito dos Thuggee? Fiquei muito interessada no assunto desde que o primo William foi nomeado para este cargo, há três anos, mas é muito difícil saber o que quer que seja a respeito deles.
–E por que está tão interessada?
–Tudo o que diz respeito à Índia me interessa. Na realidade, nasci aqui e apesar de não me lembrar de nada sempre tive vontade de regressar.
O Major Huntley pareceu ter ficado muito surpreendido.
–Meu pai serviu durante alguns anos na fronteira noroeste. Partimos da Índia quando eu tinha um ano de idade e apesar de ele regressar mais tarde, permanecendo aqui durante alguns anos, minha mãe e eu ficamos na Escócia.
–E ainda assim o país a atrai?
–É estranho– disse Brucena, após uma pausa–, mas desde que cheguei a Bombaim tenho como que a sensação de me encontrar em casa.
Ele a encarou com uma certa reserva, como se achasse que ela estava se exprimindo daquele modo para conseguir um certo efeito.
Ela, entretanto, não o olhava e sim para a paisagem, achando que aquelas terras secam e quentes, as aldeiazinhas perdidas em meio às árvores, e os búfalos que aravam a terra eram algo que ela já vira algum dia.
Não tinha a menor ideia dos motivos que a levavam a sentir-se daquele jeito.
–A senhorita me faz uma pergunta a respeito dos Thuggee– disse o Major Huntley e imediatamente ela voltou-se para ele, repleta de interesse. O Major prosseguiu:
–Espero que durante sua permanência na Índia não venha a travar conhecimento com eles. Na realidade, é muito importante que todas as pessoas que vivem nesta região estejam sempre de sobreaviso.
Enquanto falava lembrava-se do que havia visto no templo de Kali, em Bindhaghal, à beira do rio Ganges.
Tratava-se de um santuário procurado no fim da estação chuvosa por todos os peregrinos da Índia, que iam até lá a fim de fazer oferendas à deusa.
Os caminhos que conduziam ao templo estavam atulhados de carros de boi, de mendigos e de peregrinos de pés descalços.
Ao redor das muralhas do templo sentia-se o cheiro de incenso, de flores e nuvens de pó turbilhonavam em torno da construção. No ar pairava também o odor da morte.
Noite e dia sacrificavam-se bodes e seu sangue escorria pelos degraus do templo. Seus balidos assustados misturavam-se aos gritos dos devotos fanáticos, que se flagelavam enquanto suplicavam a bênção dos deuses.
Para Iain Huntley aquela deusa sanguinária, a terrível esposa de Shiva, o Destruidor, negra, furiosa e nua, com sua clava adornada de crânios humanos, era o símbolo de tudo contra o qual ele lutava.
A língua que saía para fora, os olhos injetados de sangue daquele ídolo grotesco, aquele chão fumegante onde a morte e o terror eram festejados. Este era o quadro de abominação a que se entregavam os Thugs .
Aquele era o seu lugar sagrado e dali a irmandade de estranguladores, partia há centenas de anos para aterrorizar aqueles que viajavam pela Índia.
Os adeptos do culto tinham seus rituais próprios, bem como sua tradição e hierarquia e acreditavam, que ao estrangular alguém, estavam matando em defesa da causa de Kali.
Imaginando como poderia falar sobre os Thuggee para aquela garota inocente sentada diante dele, Iain Huntley mergulhou novamente em seus pensamentos e lembrou-se de que a política tradicional da Companhia das Índia s Orientais baseava-se na não interferência nos costumes religiosos da Índia.
Na realidade, o Governo fazia vista grossa sobre as lendas e os feitos sanguinários dos Thuggee, mas as autoridades inglesas, cuja presença na Índia começava a aumentar, possuídas de um zelo reformista, ficavam horrorizadas com os costumes locais, que até então permaneciam inalteráveis.
Os ingleses estavam determinados a eliminar os costumes mais cruéis, por mais antigos ou ligados às divindades. O infanticídio e os sacrifícios humanos foram proibidos, bem como o suttee, a prática que consistia em se queimar as viúvas nas fogueiras.
Era evidente que algo deveria ser feito em relação a Bindhaghal, sede da sociedade secreta dos estranguladores.
O culto não tinha sido profundamente estudado e nem suas ramificações observadas, até que o Capitão William Sleeman, que fazia parte do Exército de Bengala, tornou-se interessado em seus tenebrosos mistérios.
Ficou sabendo que os Thugs, operavam dentro do mais absoluto segredo, de acordo com rituais escrupulosamente obedecidos.
Ficavam de tocaia, à beira das estradas, e todos eles eram treinados para matar, estrangulando suas vítimas por meio de um lenço de seda amarelo.
Em seguida, faziam profundas incisões rituais nos cadáveres, enterravam-nos ou jogavam-nos em poços profundos, queimavam СКАЧАТЬ