Название: Tempo de esperança
Автор: Daphne Clair
Издательство: Bookwire
Жанр: Языкознание
Серия: Sabrina
isbn: 9788413485737
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– Uma mulher que não penso ver mais.
– Não me surpreende… se a deixaste sozinha a meio da refeição – replicou ela, sentindo uns ciúmes que não tinha o direito de sentir. – Que desculpa lhe deste?
– Desculpei-me, paguei o jantar e disse-lhe que telefonaria amanhã.
Roxane quase que soltou uma gargalhada.
– Terás sorte se voltar a dirigir-te a palavra.
– Envio-lhe um ramo de flores.
– Ah, claro, e então fica tudo esquecido. Irá logo comer na tua mão.
– Já te disse que não penso voltar a vê-la. É apenas uma conhecida… nada mais.
Que seguramente esperava ser muito mais, Roxane não tinha dúvidas. Essa mulher não sabia que tinha escapado por um fio.
Mas estava a ser injusta. Uma mulher mais velha, mais sofisticada, mais segura de si própria poderia ter sido muito feliz com Zito… e poderia tê-lo feito muito feliz.
– No que pensas, Roxane?
– Em nada. Não comi nada desde o almoço. Tenho fome.
Essa resposta, que devia ter saído do seu subconsciente, por alguma razão, pareceu deixá-lo zangado.
– Quando vais aprender a cuidar de ti própria?
– Já o faço – replicou ela. – Se não me tivesses atacado estaria agora mesmo a jantar tranquilamente.
– Onde está a cozinha?
– O quê?
– É indiferente – disse Zito, levantando-se. – Eu encontro-a.
– Zito… – murmurou Roxane, seguindo-o pelo corredor. – Espera um momento, não preciso que me faças o jantar.
Ele voltou-se, com um sorriso nos lábios. Gerações de carismáticos italianos tinham produzido aquele sorriso irresistível.
Pegando-lhe no braço, meteu-a na cozinha e sentou-a numa das cadeiras de madeira.
– Eu também tenho fome. Não precisas de cozinhar. Senta-te aí e diz-me onde está tudo.
Zito tirou o casaco e a gravata, que deixou sobre uma cadeira, e arregaçou as mangas da camisa, mostrando uns antebraços morenos e fortes, enquanto lavava as mãos.
Aquilo não podia estar a acontecer. Não podia ser. Devia de ter ficado a dormir no escritório. Era um pesadelo. Zito Riccioni não estava na sua cozinha a abrir os armários para mexer nas caçarolas, perguntando-lhe se tinha tomates, cebolas, alhos…
– No cesto, ao lado do frigorífico – respondeu automaticamente.
Ele pegou num punhado de alhos e levou-os até ao nariz. Faz sempre isso, procurar a frescura dos produtos, como lhe tinha ensinado o seu avô.
Durante o dia livre dos empregados da sua mansão de Melbourne, levava-a à espectacular cozinha para fazerem o jantar juntos.
«Cheira isto», dizia aproximando algo à sua cara: pimenta recém moída, algumas especiarias exóticas ou alguma erva recém encontrada no mercado.
Cortava alguma fruta ou verdura e provava-a antes que ela a provasse.
Às vezes, Roxane mordiscava os seus dedos, convidando-o a que fizesse o mesmo. Mais tarde, ele prometia-lhe um erótico castigo, na cama.
Mas nem sempre esperava pelo fim do jantar e, às vezes, voltavam para a cozinha depois de revolverem os lençóis. Então, a comida ainda sabia melhor.
Fazer a comida tinha sido uma espécie de jogo sexual, uma arte que Zito praticava com a mesma alegria, com a mesma satisfação com que fazia amor.
Uma arte que não desaparecia com os anos, pelos vistos. Apesar da sua casa ser pequena, demonstrava a mesma competência que na sua enorme cozinha com metros e metros de comprimento e vários electrodomésticos..
Um pesadelo? Não, melhor, um bonito sonho, mas insuportavelmente nostálgico.
Uma vez disse-lhe que o seu estilo de cozinhar era como o de um bailarino russo, disciplinado e ocasionalmente extravagante.
«Nem todos são homossexuais?», tinha-lhe perguntado ele.
«Nem todos», protestou ela.
Zito fazia-se passar por ciumento, exigindo saber como sabia e, por fim, levava-a para cama para provar que ele era inegavelmente heterossexual.
Capítulo 3
Inconscientemente, Roxane sorriu ao recordar aquilo.
Zito não tinha que provar a sua orientação sexual. Tinha sido evidente desde o primeiro dia. Apesar da sua inexperiência, Roxane encontrou nele um inegável desejo.
Um desejo que a tinha consumido, deixando apenas as brasas de um casamento desfeito.
Umas brasas que, teve que admitir, o facto de se mudar para outro país e construir uma vida sem ele não tinha conseguido apagar totalmente. O som da sua voz, o roçar dos seus lábios na mão, era suficiente para despertar esse desejo novamente.
– Tens uma boa garrafa de vinho no salão – disse Zito, colocando a pasta numa caçarola.
Roxane alegrou-se absurdamente do seu bom gosto. Ele próprio tinha-lhe ensinado a reconhecer um bom vinho.
– Vou buscá-lo.
– Não, fica – disse Zito, saindo da cozinha.
Mas Roxane levantou-se de todas as formas. Precisava fazer algo para borrar aquelas recordações amargas. Zito voltou com a garrafa de vinho e ela tinha posto a mesa.
E estava a olhar para ele como que dizendo: «Por que é que estou a fazer isto? Se tivesse princípios, tinha-lhe dito que se fosse embora e que nunca mais voltasse ».
Ele serviu o vinho em dois copos que Roxane tinha tirado do armário.
– Senta-te, por favor.
Roxane obedeceu.
Habitual, pensou para si própria, observando-o a cortar cebola. Durante os três anos que durou o seu casamento acostumou-se a que ele lhe dissesse o que tinha que fazer.
Zito pegou num tomate e cortou-o com facilidade. «Há que haver sempre boas facas». Outra coisa que ele lhe tinha ensinado.
Inconscientemente, continuava sob o feitiço de Zito Riccioni.
Mas aquilo devia acabar, pensou. Depois de jantar pedia-lhe que se fosse embora.
Zito deitou um pouco de СКАЧАТЬ