Cinco minutos. José Martiniano de Alencar
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Название: Cinco minutos

Автор: José Martiniano de Alencar

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежная классика

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isbn: http://www.gutenberg.org/ebooks/44540

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СКАЧАТЬ ir sempre ao theatro.

      O meu binoculo examinava todos os camarotes com uma attenção meticulosa; via moças bonitas ou feias, mas nenhuma d'ellas me fazia palpitar o coração.

      Entrando uma vez no theatro e passando a minha revista costumada, descobri finalmente na terceira ordem sua mãi, a minha estrella, o fio de Ariadne que me podia guiar n'este labyrintho de duvidas.

      A velha estava só na frente do camarote, e de vez em quando voltava-se para trocar uma palavra com alguem, sentado no fundo.

      Senti uma alegria ineffavel.

      O camarote proximo estava vazio; perdi quasi todo o espectaculo á procurar o cambista incumbido de vendêl-o. Por fim achei-o, e subi de um pulo as tres escadas.

      O coração queria saltar-me quando abri a porta do camarote e entrei.

      Não me tinha enganado; junto da velha vi um chapéozinho de palha com um véo preto rocegado, que não me deixava ver o rosto da pessoa á quem pertencia.

      Mas eu tinha adivinhado que era ella; e sentia um prazer indefinivel em olhar aquellas rendas e fitas, que me impediam de conhecêl-a, mas que ao menos lhe pertenciam.

      Uma das fitas do chapéo tinha cahido do lado do meu camarote, e, em risco de ser visto, não pude soster-me e beijei-a á furto.

      Representava-se a Traviata, e era o ultimo acto; o espectaculo ia acabar, e eu ficaria no mesmo estado de incerteza.

      Arrastei as cadeiras do camarote, tossi, deixei cahir o binoculo, fiz um barulho insupportavel, para ver si ella voltava o rosto.

      A platéa pedio silencio; todos os olhos procuráram conhecer a causa do rumor; porém ella não se moveu; com a cabeça meio inclinada sobre a columna, em uma languida inflexão, parecia toda entregue ao encanto da musica.

      Tomei um partido.

      Encostei-me á mesma columna, e em voz baixa balbuciei estas palavras:

      – Não me esqueço!

      Estremeceu e, abaixando rapidamente o véo, conchegou ainda mais o largo bornou de setim branco.

      Cuidei que ia voltar-se, mas enganei-me; esperei muito tempo, e debalde.

      Tive então um movimento de despeito e quasi de raiva; depois de um mez que eu guardava a maior fidelidade á sua sombra, ella me recebia assim friamente.

      Revoltei-me.

      – Comprehendo agora, disse eu em voz baixa e como fallando á um amigo que estivesse á meu lado, comprehendo porque ella me foge, porque conserva esse mysterio; tudo isto não passa de uma zombaria cruel, de uma comedia, em que eu faço o papel do amante ridiculo. Realmente é uma lembrança engenhosa! Lançar em um coração o germen de um amor profundo; alimental-o de tempos a tempos com uma palavra, excitar a imaginação pelo mysterio; e depois, quando esse namorado de uma sombra, de um sonho, de uma illusão, passear pelo salão a sua figura triste e abatida, mostral-o á suas amigas como uma victima immolada aos seus caprichos, e escarnecer do louco! É espirituoso! O orgulho da mais vaidosa mulher deve ficar satisfeito!

      Emquanto eu proferia estas palavras, repassadas de todo o fel que tinha no coração, a Charton modulava com a sua voz sentimental essa linda aria final da Traviata, interrompida por ligeiros accessos de uma tosse secca.

      Ella tinha curvada a cabeça, e não sei si ouvia o que eu lhe dizia ou o que a Charton cantava; de vez em quando as suas espaduas se agitavam com um tremor convulsivo, que eu tomei injustamente por um movimento de impaciencia.

      O espectaculo terminou, as pessoas do camarote sahiram, e ella, levantando sobre o chapéu o capuz de seu manto, acompanhou-as lentamente.

      Depois, fingindo que se tinha esquecido de alguma cousa, tornou á entrar no camarote, e estendeu-me a mão.

      – Não saberá nunca o que me fez soffrer, disse-me com a voz tremula.

      Não pude ver-lhe o rosto; fugio, deixando-me o seu lenço impregnado d'esse mesmo perfume de sandalo e todo molhado de lagrimas ainda quentes.

      Quiz seguil-a; mas ella fez um gesto tão supplicante que não tive animo de desobedecer-lhe.

      Estava como d'antes; não a conhecia, não sabia nada á seu respeito; porém ao menos possuia alguma cousa d'ella; o seu lenço era para mim uma reliquia sagrada.

      Mas as lagrimas? Aquelle soffrimento de que ella fallava? O que queria dizer tudo isto?

      Não comprendia; si eu tinha sido injusto, era uma razão para não continuar á esconder-se de mim. Que queria dizer este mysterio, que parecia obrigada á conservar?

      Todas estas perguntas e as conjecturas á que ellas davam lugar não me deixáram dormir.

      Passei uma noite de vigilia á fazer supposições, cada qual mais desarrazoada.

      III

      Recolhendo-me no dia seguinte, achei em casa uma carta.

      Antes de abril-a conheci que era d'ella, porque lhe tinha imprimido esse suave perfume que a cercava como uma aureola.

      Eis o que dizia:

      «Julga mal de mim, meu amigo; nenhuma mulher póde escarnecer de um nobre coração como o seu.

      Si me occulto, si fujo, é porque ha uma fatalidade que á isto me obriga. E só Deus sabe quanto me custa este sacrificio, porque o amo!

      Mas não devo ser egoista e trocar sua felicidade por um amor desgraçado.

      Esqueça-me.

C.»

      Essa assignatura era a mesma lettra que marcava o seu lenço, e á qual eu desde a vespera pedia debalde seu nome!

      Reli não sei quantas vezes esta carta, e, apezar da delicadeza de sentimento que parecia ter dictado suas palavras, o que para mim tornava-se bem claro é que ella continuava á fugir-me.

      Fosse qual fosse esse motivo que ella chamava uma fatalidade, e que eu suppunha ser apenas escrupulo, sinão uma zombaria, o melhor era aceitar o seu conselho e fazer por esquecel-a.

      Reflecti então seriamente sobre a extravagancia da minha paixão, e assentei que com effeito precisava tomar uma resolução decidida.

      Não era possivel que continuasse á correr atrás de um fantasma que esvaecia-se quando ia tocal-o.

      Aos grandes males os grandes remedios, como diz Hippocrates. Resolvi fazer uma viagem.

      Mandei sellar o meu cavallo, metti alguma roupa em um sacco de viagem, embrulhei-me no meu capote e sahi, sem me importar com a manhã de chuva que fazia.

      Não sabia para onde iria. O meu cavallo levou-me para o Engenho-Velho, e eu d'ahi encaminhei-me para a Tijuca, onde cheguei ao meio-dia, todo molhado e fatigado pelos máos caminhos.

      Si algum dia se apaixonar, minha prima, aconselho-lhe as viagens como um remedio soberano e talvez o unico efficaz.

      Deram-me um excellente almoço no hotel; fumei um charuto, e dormi doze horas, sem ter um sonho, sem mudar de lugar.

      Quando СКАЧАТЬ