Viriatho: Narrativa epo-historica. Braga Teófilo
Чтение книги онлайн.

Читать онлайн книгу Viriatho: Narrativa epo-historica - Braga Teófilo страница 11

Название: Viriatho: Narrativa epo-historica

Автор: Braga Teófilo

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежная классика

Серия:

isbn: http://www.gutenberg.org/ebooks/26850

isbn:

СКАЧАТЬ se arreceiava! O Cabecilha quiz vêr outra vez esse vasto recinto de fortes muros de adobe, considerando que na lucta em que se achava empenhada a sorte da Lusitania, por ventura lhe seria necessario conhecer os seus recursos estrategicos.

      Conhecedor de todas as verêdas e atalhos, facil lhe foi encurtar distancias, e em poucos dias de jornada, elle e os taes companheiros chegaram ao valle do Pavia, fechado na sua vastidão por pinheiraes cerrados de um verde escuro que contrastava com a claridade do horisonte. De longe ainda avistaram a vasta chã, contornada pelas muralhas de terra em fórma de um poligno octogonal irregular, e uma altura de setenta e cinco palmos nos seus muros e aterros. Eram outo muros, tendo para mais de cento e quarenta palmos de espessura, fechando um circuito de mais de trez a quatro mil passos; um largo fôsso o circumvallava exteriormente.

      Ao avançar para a grande muralha d'aquella fortaleza de terra, Viriatho parecia cada vez mais pensativo; um plano estrategico lhe fulgurou na mente:

      – Ah! que se eu conseguisse encurralar no Poço da Cava um general romano com os seus Legionarios todos. Eu lhe converteria o reducto defensivo em ratoeira!

      E descendo das alturas da Esculca por um declive suave, entrou Viriatho na grandiosa Cava, que era como um enorme circo, dez vezes maior que o de Roma. Ahi, no angulo das duas faces do quadrante noroéste via-se um pequeno charco de agua nascente, que se tornava em uma lagoa com as aguas das invernias. Os gados e pastores alli bebiam e se banhavam, pelas fortes calmas; era uma vantagem inapreciavel, sempre aproveitada pelos homens da Mésta. Cabia uma cidade dentro d'essas muralhas.

      Viriatho esteve considerando por longo tempo este fundo do valle, regado por duas ribeiras, abrigado por montes e collinas de um pendor brando.

      – Quantas vezes do cimo da Esculca vigiei, olhando para longe, na defeza dos rebanhos. Como esta Cava, conheço uma outra da mesma configuração aonde me accolhi muitas vezes. Não está aqui ninguem que me tenha acompanhado na transhumação dos gados e recolhido na Cava da Beira, quem vem de Belmonte ao Fundão, por entre essas serras dos Herminios e da Gardunha! Nada fica a dever a esta; mas como refugio desesperado nada ha que eguale a Cava da Beira, um circumvallo inexpugnavel! Póde-se ahi dormir no chão, tendo as estrellas do céo por cobertor; lá o somno é mais agradavel que sobre as fôfas lãs da Salacia.

      Contando com a presteza das armas romanas, Viriatho regressou a Toletum para passar revista ao exercito engrandecido pelos contingentes dos novos alliados, e marchar em seguida para a Carpetania; era para ahi que lhe convinha attrahir o general romano.

      XIII

      As varas consulares espalhadas por todas as tribus, gentes e federações da Hispania Ulterior, annunciando a victoria sobre Caio Vetilio, e a necessidade de sustentar a guerra contra os Romanos, produziram um effeito surprehendente em todos os espiritos, sobretudo nos Chefes das Behetrias, ou Cidades confederadas, que até alli se tinham conservado indifferentes nos seus castellos roqueiros, sem confiança no levantamento do povo, por falta de um commandante prestigioso. E comquanto esses chefes das varias Contrebias se entregavam á caça do javali ou do urso, em luctas de mutuas rivalidades, ou se banqueteavam opulentamente, os Pretores romanos iam estendendo a rêde das estradas militares, conquistando ou destruindo Cidades, e firmando o seu poder inabalavel. As varas dos lictores espetadas por todos os montes e pequenos herminios, acordaram o sentimento vivo da independencia nacional.

      As tribus lusitanas tinham estabelecido as suas cidades, villares e casaes em volta de diversas montanhas, que eram como o centro da área de defeza, e o refugio nos assaltos da guerra inimiga. Essas montanhas eram cercadas de muralhas formadas por grandiosos blocos graniticos, e escavadas em fundos subterraneos, em que se depositavam cereaes e comestiveis, e com cisternas para guardar as aguas pluviaes, tendo além d'isso um escadorio interior e reservado que dava escapula a grande distancia, em geral á beira de um rio, para o caso de ser tomada a fortaleza. Alli é que residia o presidente ou chefe das tribus que viviam em volta do Castro; e pela contagem de todas as familias formavam uma população de mais de dez mil individuos. Era a esse conjuncto, que se dava o nome de Contrebia; os seus chefes ou regedores, eram designados como regulos e duces pelos romanos, que comparavam estes agrupamentos lusitanos com as phraetrias gregas. Como não havia ordem de successão n'este poder presidencial, resultavam conflictos e rixas, que se mantinham por odios de familias, e até de tribus que se hostilisavam, aproveitando do enfraquecimento d'estas dissidencias o invasor romano.

      Agora parecia, que uma intelligencia da missão dos Castellãos se revelára subitamente com o conhecimento da derrota de Vetilio; e as tribus, suscitadas pela vista das varas dos lictores, reclamavam que sahissem da inacção; que prestassem o seu apoio ao extraordinario Cabecilha, o vingador da matança de Galba. Constava que Viriatho, depois da sua victoria se recolhera á cidade de Toletum, preparando-se para novo combate ao Pretor que em breve chegaria de Roma com aguerrido exercito; resolveram todos esses chefes dirigirem-se a Toletum, levando ao pescoço os seus colares de ouro, como a insignia do poder senhorial; os seus braceletes, e lanças de prata com que presidiam aos sacrificios, e ao tribunal em que arbitravam sentenças sobre a vida e bens dos seus clientes ou ambactes. Partiram de todos os principaes cantões da Lusitania esses chefes acompanhados dos seus soldurios, ou guarda-costas valentões, para conhecerem Viriatho e lhe fallarem deliberadamente sobre a defeza e independencia do Territorio patrio.

      Quando chegaram a Toletum, ainda Viriatho estava ausente, em uma exploração do territorio em que uma grandiosa Cava se prestava a imprevistos planos estrategicos, a que em futuro proximo teria de recorrer. Mas esses optimates cantonaes fôram encontrar na cidade a que se accolhera o exercito um grupo de homens, a que davam o nome honorifico de Anciãos, EN, e cuja palavra era inspirada e eloquente, por isso nas velhas linguas britonicas se exprimia por D-eirim. O povo, pelo costume antigo, chamava Endre a cada um d'esses homens, a quem acatavam como depositarios de um maravilhoso poder espiritual. E de facto os Endres eram propriamente os Antigos das tribus, os que conservavam a norma e sentido moral ou historico dos costumes; não formavam um corpo sacerdotal, nem mantinham a estabilidade de qualquer dogma theologico, mas possuiam um saber do passado, que os tornava oraculos vivos, conselheiros em todos os momentos arriscados, e conciliadores nas luctas intestinas e separatistas das varias tribus. Os Endres eram queridos do povo; despidos de toda a hypocrisia de classe e de odios doutrinarios dos sacerdocios, mofavam com o seu bom senso dos ritos e dogmas dos Druidas das Gallias, que elles desprezavam como macaqueadores das normas cultuaes da religião oriental dos Mobeds de Mithra, que se propagava pela Europa. O caracter e ascendente moral dos Endres estabelecia-se espontaneamente, quando o povo reconhecia em um Ancião das tribus o bom conselho, o saber pratico da vida, e o conhecimento das Tradições do passado; era então considerado como unico e como inspirado. Apontavam-se na Lusitania numerosos Endres, venerandos pela sua edade e saber: uns conservavam de memoria as Runas, ou propriamente as tradições locaes e da raça, e tendo na mão o ramo da Azinheira coberto de l'andras, presidiam ao sorteio annual das terras, evitando prudencialmente todos os conflictos; outros sabiam as Sagas, ou narrativas históricas, as Aravengas, que recitavam nos banquetes dos regedores cantonaes e nas festas consagradas a perpetuar successos memoraveis das tribus; outros conheciam as Sentenças da moral gnomica, Singvan, os aphorismos ou dictados, que exercem justa auctoridade nas resoluções da vida, porque condensam em breves phrases, ás vezes em um só verso, a experiencia de seculos; outros interpretavam o sentido dos velhos Symbolos, resolviam os mais intrincados Enigmas, e penetravam a materia numerica dos Quadrados magicos. D'entre todos esses Endres destacava-se um, pelo saber maravilhoso reunido em sua mente incomparavel; conhecia as mais vetustas tradições da terra da Lusitania, quando ella ainda se estendia até á falda occidental dos Pyreneos, as terras de Lez, que as convulsões do tempo fôram tornando cada vez mais ribeirinhas; só elle recitava Poemas de mais de seis mil annos de antiguidade; conhecia as cavernas e arcas cavadas nas rochas em que estavam occultos thesouros; e o que mais assombrava, tinha o segredo da leitura dos Quadrados magicos e dos Bastões runicos, que lhe davam uma fé inabalavel na independencia e missão vindoura da Lusitania. Esse Endre СКАЧАТЬ