O Cidadão Anulado E Outras Histórias. Foraine Amukoyo Gift
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      Jakpo olhou para além do rio com um sentimento de nostalgia e perguntou:

      - Você se lembra uma vez, de como corremos atrás de um coelho até a sua toca?

      - Nós fechamos o buraco. Tínhamos ido buscar lenha na floresta para preparar carne de caça e não conseguíamos encontrar o caminho de volta. - Jessa lembrou.

      - E quase fomos carne de caça quando aquele lobo investiu contra nós. – Jakpo falou isso rindo.

      - Tivemos sorte de o caçador tê-lo matado antes de sermos atacados, - disse Jessa, e bufou a seguir.

      Os dois anciãos riram. Relembraram as ocasiões em que corriam pela comunidade quando crianças, mas seus sorrisos desapareceram quando a realidade se fez presente.

      - Os dias andam cinzentos e difíceis, - Jakpo conjecturou. - Sentirei a sua falta, meu velho amigo. Quando você se for, ficarei muito só. Esses jovens não têm tempo para velhos rabugentos. Quem me fará companhia?

      - Quem me visitará e tomará conta de mim, se eu ficar? Vou perder Jaja e os meus outros filhos, se não for para Ebito. Eles tomaram a decisão. Querem deixar Jagua para sempre.

      Jessa cuidadosamente se curvou e pegou um seixo. Apertou-o com força e sentiu a energia da pedra.

      Jakpo assentiu com a cabeça: - Você tem um grande filho naquele jovem, o Jaja. Gostaria que um dos meus voltasse para casa. Décadas de lembranças irão desaparecer após a sua partida. Adeus, meu amigo; nos encontraremos do outro lado.

      - Sentirei a sua falta. Não posso dizer o quanto e você não pode ver direito, pois meus olhos estão muito secos agora, de tanto eu chorar.

      Desejou boa sorte a Jakpo e o deixou à beira do rio.

      - Espero que você mude de opinião e fique, meu amigo. Não sabia que a situação se tornaria tão complicada assim. Eu só queria o que era meu por direito, - Jakpo sussurrou após a figura de Jessa desaparecer na paisagem.

      Jessa voltou para casa. Algumas crianças vieram brincar e ele compartilhou o dinheiro que tinha no bolso.

      * * * * *

      Antes de amanhecer, Jessa e Jaja estavam prontos para viajar para Ebito. O ancião olhou na direção do riacho com saudades. Imaginou-se caminhando naquela direção com Jakpo e seus apetrechos de pescaria.

      - Não é fácil deixar essas lembranças para trás. - Jessa estava muito triste.

      - Venha, pai. O senhor já se despediu o bastante. Devemos partir antes do nascer do sol, pois a estrada não é boa na hora do trânsito pesado.

      - Sim, algumas estradas não reconhecem as velhas rodas que sempre passaram por elas. Não lhes dão tratamento diferenciado. Vamos. Não somos mais bem-vindos aqui.

      Duas semanas mais tarde, os anciãos da aldeia fizeram um encontro e concluíram que a casa de Jessa seria o novo local de reuniões. Ele a deixara como presente. Porém, no dia da Coroação de Okpako, as retroescavadeiras apareceram.

      A voz do motorista do veículo ressoou em um alto-falante. - Todos nessa casa devem sair! Em pouco tempo, ela será demolida. Vou contar até trinta e avançar.

      Ele começou a contar: - um, dois, três, quatro....

      Ao chegar a dezenove, já estava vazia. A retroescavadeira colocou a casa abaixo, obedecendo as ordens de Jaja.

      As pessoas assistiram com tristeza quando alguns homens quebraram com marretas as paredes restantes. Nenhuma estrutura permaneceu de pé. Os pedaços de cimento foram colocados no reboque e levados dali.

      - Esse é um acontecimento ruim. Como podemos fazer a cerimônia da coroação nessas ruínas? Temos de procurar outro local ou marcar nova data para a coroação. - Disse um jovem.

      - Mas, onde está Jakpo? - perguntou o líder da comunidade, com certa ansiedade.

      - Ele ainda não havia chegado. Será que já sabe da novidade? Esse incidente infeliz irá arrasá-lo. Sua cerimônia foi arruinada e não poderá acontecer hoje. - Mencionou um senhor.

      - Jakpo deve ter ouvido a notícia. Ele sabe tudo. Não foi ele que descobriu que Jessa não era cidadão de Jagua? Vamos fazer uma visita, - disse o líder.

      Não encontraram Jakpo em casa. Sabiam que ele gostava do rio e pensaram que poderia estar lá.

      Ao sair da casa a caminho do rio, encontraram o menino que tomava conta dele. Jakpo saíra ao nascer do sol.

      - Esse é um comportamento estranho. Vamos ver se ele está no riacho.

      Chegaram ao rio e viram Jakpo boiando na margem. Correram e o arrastaram para a terra. Estava morto. Viram seu par de sapatos, óculos de leitura e um livro embaixo de sua árvore favorita. Jessa e Jakpo haviam talhado algumas raízes de árvores próximas à beira d´água para fazer bancos. Seus pertences estavam empilhados sobre a raiz. O menino caiu no choro.

      - Acho que ele cometeu suicídio. Ah, o reino das trevas lançou seus olhos malignos sobre Jagua. Hoje é um dia muito infeliz na nossa história. Quem nos acordará desse pesadelo? - lamentou uma mulher.

      - Olhe aqui, chefe. - O menino limpou as lágrimas com o braço e lhe entregou um bilhete.

      - Onde você encontrou isso? - perguntou, com espanto.

      - O que diz a mensagem? - uma mulher indagou.

      O líder da comunidade leu em voz alta:

      “Eu não posso conviver comigo mesmo após trair o meu melhor amigo, Jessa. Desculpe-me, querido amigo. Meu bisavô havia me contado sobre a sua história. Eu disse aquilo ao Conselho de Coroação porque achei que merecia ser o Okpako. Pequei ao invejar a sua situação. Por favor, me perdoe. Ninguém deve chorar por mim. Eu já fiz isso. Jakpo”.

      Porque cometeu suicídio, a comunidade não fez uma cerimônia de enterro para ele. Seus filhos o carregaram para a floresta do mal e jogaram o corpo para os animais selvagens enterrá-lo em seus estômagos.

      Três

      Eu Enterrarei o meu Pai

      A Prefeitura do povoado estava repleta de pessoas estressadas. Cada um parecia estar cortando a garganta do outro com armas imaginárias.

      Um jovem musculoso correu agressivamente para Ovie, que se preparou para pegar o soco, conseguindo torcer o punho do rapaz até que um senhor separasse a briga. O jovem enraivecido gemeu e sentou-se no chão com o braço pendurado.

      Ovie sorriu com sarcasmo:

      - Vejam os fracos que querem contestar a minha decisão. Eu estrangulo quem ousar me desafiar.

      Um idoso caminhou para frente. Encarou Ovie e sacudiu sua cabeça. Olhou para СКАЧАТЬ