Mestres da Poesia - Florbela Espanca. August Nemo
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Название: Mestres da Poesia - Florbela Espanca

Автор: August Nemo

Издательство: Bookwire

Жанр: Языкознание

Серия: Mestres da Poesia

isbn: 9783969173480

isbn:

СКАЧАТЬ style="font-size:15px;">      E as lágrimas que choro, branca e calma,

      Ninguém as vê brotar dentro da alma!

      Ninguém as vê cair dentro de mim!

      Torre de névoa

      Subi ao alto, à minha Torre esguia,

      Feita de fumo, névoas e luar,

      E pus-me, comovida, a conversar

      Com os poetas mortos, todo o dia.

      Contei-lhes os meus sonhos, a alegria

      Dos versos que são meus, do meu sonhar,

      E todos os poetas, a chorar,

      Responderam-me então: «Que fantasia,

      Criança doida e crente! Nós também

      Tivemos ilusões, como ninguém,

      E tudo nos fugiu, tudo morreu!...»

      Calaram-se os poetas, tristemente...

      E é desde então que eu choro amargamente

      Na minha Torre esguia junto ao Céu!...

      A minha dor

      A Você

      A minha Dor é um convento ideal

      Cheio de claustros, sombras, arcarias,

      Aonde a pedra em convulsões sombrias

      Tem linhas dum requinte escultural.

      Os sinos têm dobres de agonias

      Ao gemer, comovidos, o seu mal...

      E todos têm sons de funeral

      Ao bater horas, no correr dos dias...

      A minha Dor é um convento. Há lírios

      Dum roxo macerado de martírios,

      Tão belos como nunca os viu alguém!

      Nesse triste convento aonde eu moro,

      Noites e dias rezo e grito e choro!

      E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

      Dizeres íntimos

      É tão triste morrer na minha idade!

      E vou ver os meus olhos, penitentes

      Vestidinhos de roxo, como crentes

      Do soturno convento da Saudade!

      E logo vou olhar (com que ansiedade!...)

      As minhas mãos esguias, languescentes,

      De brancos dedos, uns bebês doentes

      Que hão de morrer em plena mocidade!

      E ser-se novo é ter-se o Paraiso,

      É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,

      Aonde tudo é luz e graça e riso!

      E os meus vinte e três anos... (Sou tão nova!)

      Dizem baixinho a rir: «Que linda a vida!...»

      Responde a minha Dor: «Que linda a cova!»

      As minhas ilusões

      Hora sagrada dum entardecer

      De Outono, à beira mar, cor de safira.

      Soa no ar uma invisível lira...

      O sol é um doente a enlanguescer...

      A vaga estende os braços a suster,

      Numa dor de revolta cheia de ira,

      A doirada cabeça que delira

      Num último suspiro, a estremecer!

      O sol morreu... e veste luto o mar...

      E eu vejo a urna de oiro, a baloiçar,

      À flor das ondas, num lençol de espuma!

      As minhas Ilusões, doce tesoiro,

      Também as vi levar em urna de oiro,

      No Mar da Vida, assim... uma por uma...

      Neurastena

      Sinto hoje a alma cheia de tristeza!

      Um sino dobra em mim, Ave Marias!

      Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,

      Faz na vidraça rendas de Veneza...

      O vento desgrenhado, chora e reza

      Por alma dos que estão nas agonias!

      E flocos de neve, aves brancas, frias,

      Batem as azas pela Natureza...

      Chuva... tenho tristeza! Mas porquê?!

      Vento... tenho saudades! Mas de quê?!

      Ó neve que destino triste o nosso!

      Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!

      Gritem ao mundo inteiro esta amargura,

      Digam isto que sinto que eu não posso!!...

      Pequenina

      À Maria Helena Falcão Risques

      És pequenina e ris... A boca breve

      É um pequeno idílio cor de rosa...

      Haste de lírio frágil e mimosa!

      Cofre de beijos feito sonho e neve!

      Doce quimera que a nossa alma deve

      Ao Céu que assim te fez tão graciosa!

      Que nesta vida amarga e tormentosa

      Te fez nascer como um perfume leve!

      O ver o teu olhar faz bem à gente...

      E cheira e sabe, a nossa boca, a flores

      Quando СКАЧАТЬ