Seguiu-o muito mais lentamente e passou de um quarto em penumbra para uma casa de banho grande e luxuosa. Era a casa de banho mais luxuosa que alguma vez tinha visto. O chão, as paredes, o chuveiro… estavam cobertos com um lindo mármore vermelho. O lavatório e a banheira eram de ouro e esta última de um tamanho imenso, pelo menos para duas pessoas, e já cheia de água.
Lazaro deixou-a para que se despisse, mas foi-lhe impossível.
Sentou-se na beira da banheira e contemplou a água quente. Na superfície flutuavam círculos de óleo perfumado. Tinha introduzido algo que cheirava bem. Não era capaz de pensar em nada do que ele lhe tinha dito.
Passaram os minutos e continuava sem se poder mexer.
Bateram à porta. Não respondeu e a maçaneta rodou.
– Estás bem? – a voz de Lazaro chegou desde as sombras do outro lado.
Que pergunta! Se estava bem?
Não, não estava. O seu pai estava a morrer. A sua irmã estava em repouso devido a uma gravidez complicada. Tinha recebido uma proposta de casamento de um velho amigo da família, mais velho que amigo. Se estava bem? «Não», concluiu em silêncio.
Lazaro entrou na casa de banho e olhou para ela. Viu que ainda não se tinha mexido e abanou a cabeça com um gesto imperceptível. Sentiu simpatia por ela e essa era a última emoção que queria ter.
Aproximou-se e pôs-se de cócoras.
– Não te agites. Não te vai acontecer nada de mal. Nem a Daisy. Prometo.
Zoe sentiu a boca tremer. Com o olhar fulminou os olhos dele.
– Como é que posso confiar em ti?
– Não sei – lutou contra o impulso de lhe tocar, contra o desejo de apoiar a mão na sua face. A sua pele parecia tão suave, tão terna. «Como o seu coração», pensou. Jamais teria que ter ficado exposta a um homem como ele.
A culpa era de Dante.
Na sua determinação de proteger Daisy, tinha exposto Zoe, deixando-a vulnerável.
Sentiu uma opressão no peito, uma mistura de ira e revolta. Tinha sentido o mesmo quase toda a vida. O menino sujo e descalço da rua que olhava para as montras. Querer algo e não poder tê-lo, não só uma vez, mas sim a vida toda…
Ele, o proscrito, o intocável, tinha subido na escala social, mas não tinha esquecido nem perdoado. Em todo o caso, a ira ardia com maior intensidade e estava mais decidido que nunca a ter o que por direito era seu.
Mas ao olhar para a jovem Zoe Collingsworth, percebeu novamente que tinha ficado cruel e duro.
Viu como fechava as mãos sobre o ventre e cravava as unhas nas palmas.
– Dá-me a mão – pediu com suavidade. Ela abanou a cabeça. – Dá-me a mão – repetiu.
Para além da incerteza, pôde ver o medo nos seus olhos. Não sabia o que esperar, o que queria dela. Na verdade, nem ele mesmo sabia. Sexo, talvez. Embora houvesse algo mais, algo que não podia definir; mas poderoso, embriagador. Sentia-se atraído por ela. O que não faria mais do que piorar a situação de Dante.
Esperou que lhe desse a mão e lentamente depositou-a sobre a sua. Segurou-a com firmeza e segurança.
– Estás a salvo comigo, Zoe. A minha luta não é contigo, acredita.
Cada vez que lhe tocava, acontecia. Calor, energia, prazer. O seu contacto não era nada parecido com o que já tinha experimentado. Havia algo na sua pele mais quente, forte e real.
Contemplou a sua mão, sentiu a onda de deliciosa sensação percorrê-la, desde a mão até ao coração, dali ao estômago e depois às pernas.
O coração bateu-lhe mais devagar, sentiu o corpo líquido, que os ossos se derretiam, ao mesmo tempo que ficava alerta.
– Daisy é tudo para mim – murmurou, hipnotizada pelo dorso da mão dele, com a pele dourada e os ossos largos e fortes do pulso. – Praticamente foi ela quem me criou. Abandonou a ideia de ir para a universidade por minha causa…
De repente, ele adiantou-se e a cabeça escura bloqueou a luz. Zoe soube que ia beijá-la. Foi como se desde o primeiro momento em que a viu, tivesse sabido que aquilo ia acontecer, que o beijo estava predestinado.
A boca roçou-lhe os lábios. Foi um beijo fugaz, tão ligeiro que o coração lhe doeu. Sentiu a sua respiração na face, a doçura subtil da sua colónia. Era grande, forte e sombrio, mas cheirava a luz, a sol, como a erva da pradaria e as flores depois de uma chuva estival.
Os lábios mal a tocaram uma segunda vez. Deslizou os lábios até ao canto da boca dela.
– Vou esforçar-me ao máximo para proteger também a tua irmã.
Não era a mesma promessa que lhe tinha feito a ela. Receava perguntar, mas não tinha outra alternativa.
– E Dante? – a voz dele tinha endurecido e o tom era frio. – Isto é por causa de Dante.
– Sim.
Saiu debaixo do seu braço e fugiu para o outro lado da casa de banho vermelha. Tinha-a sequestrado para magoar Dante. Tinha feito com que o seu cunhado sofresse.
Mas ela adorava Dante. Era o irmão mais velho que nunca tinha tido. Ele tinha salvo a sua quinta, tinha-se apaixonado por Daisy, tinha tratado do seu pai. Dante era a resposta para os males dos Collingsworth.
Voltou a sentir um frio profundo, como se o medo e a dor tivessem ficado na sua medula.
– Fora – ordenou, apontando em direcção à porta.
Levantou-se devagar e ergueu-se em toda a sua estatura. À luz ténue, a face parecia que tinha cortes angulosos por cima da boca.
– Um dia vais perceber.
– Jamais perceberei isso. Dante é um bom homem. É o homem mais generoso que conheço.
– Não sabes a história toda.
– Vai-te embora – virou-lhe as costas e cruzou os braços.
– Sem me importar com o que aconteça – foi até à porta, – vou manter a palavra que te dei.
Na banheira, Zoe ensaboou-se e esfregou-se, sentindo-se mole depois da viagem, do rapto, do beijo. Não percebia como é que podia sentir tantas emoções desencontradas. Lazaro Herrera inspirava-lhe medo e, ao mesmo tempo, fascinava-a.
Enquanto se limpava, soube que devia transmitir a Dante e a Daisy o que sabia, que o tempo era de vital importância. Procuraria um telefone assim que pudesse.
Metida num roupão, olhou para o armário aberto no quarto. Alguém tinha desfeito a sua mala por ela. Não podia imaginar que fosse Lazaro.
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