Название: Cian
Автор: Charley Brindley
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Приключения: прочее
isbn: 9788835410249
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Ela não respondeu; só me olhou de novo com um reflexo nos olhos, como se estivesse me desafiando a lhe dar um soco.
Se o mosquito era um espectador inocente de um avanço insolente ou se a mulher estava me salvando de um caso de malária eu não tinha certeza. Reconheci, no entanto, as marcas distintas das asas de um Anopheles Punctipennis, uma fêmea, é claro, e portadora conhecida da temida doença.
Se o tapa na cara era sua maneira primitiva de me manter saudável, então com que propósito? Eu nunca tinha ouvido falar de canibalismo naquela parte da Amazônia, mas também nunca havia visto uma donzela seminua bonita alimentando ratos com piranhas.
Quando ela se abaixou para pegar seu arco e aljava de flechas, senti um impulso há muito adormecido dentro de mim. Antes que esse sentimento se fundasse, ela endireitou-se e disse algo para mim, acenando para a outra bolsa. Isso eu entendi; algumas coisas não precisam de tradução.
Respirei fundo para acalmar meu coração acelerado, depois peguei o saco de ratos e a segui pelo cais, combinando meus passos com os dela. Enquanto caminhávamos, notei as fileiras de pequenos dentes ao redor da marca d' água na perna de madeira; se feita por ratos ou piranhas, eu não saberia dizer.
Chegamos a uma pequena canoa, e ela a apontou. Eu disse que estava viajando com outras pessoas.
Usando um poico de mímica, ela fez uma pergunta. Eu assumi que era sobre minha companhia.
– Duas – respondi – uma delas é dessa altura – Estendi minha mão, na altura dos ombros, para indicar a altura da minha irmã Kaitlin – E uma assim – eu disse, com a mão ligeiramente mais baixa para a altura da minha sobrinha, Rachel – E um cachorro estúpido desse tamanho.
Ela balançou a cabeça e encolheu os ombros me conduzindo a uma canoa um pouco maior. Puxei um mapa da minha mochila. Mostrava uma Manaus às margens do rio Madeira, não na confluência do rio Negro e da Amazônia, como ela realmente é. E Alichapon-Tupec estava marcada vinte e cinco quilômetros a jusante da junção dos dois rios. Se isso fosse verdade, deveríamos ter passado por Alichapon-tupec no dia anterior enquanto viajávamos rio acima no barco, o que não aconteceu; por isso minha pergunta para a jovem do cais.
Eu queria localizar a vila o mais rápido possível, para que Kaitlin pudesse coletar suas amostras de plantas, aprender o uso medicinal das folhas, e poderíamos estar voltando para o Rio de Janeiro. Se perdemos o Borboleta quando partisse para Lisboa, ficaríamos várias semanas à procura de outro transporte.
Entreguei meu mapa para a mulher, que desenrolou e estudou com grande interesse, enquanto eu observava o rosto dela passar por uma progressão de caretas, beicinhos e sobrancelhas franzidas. Meus olhos começaram a vagar, e a National Geographic Magazine veio à mente. Quando eu era criança, a única maneira de ver os seios nus de uma mulher era na biblioteca, na seção de arquivos da revista, onde anos e anos daquelas revistas de capa amarela eram armazenados.
– Bem, senhor Saxon Lostasia – dizia a bibliotecária enquanto eu tentava passar por ela enquanto saía da biblioteca.
– Estamos explorando um pouco hoje, não é?
Ela então sorria e piscava um olho enquanto eu corria para a porta. A senhorita Pentava parecia velha para mim, mas não podia ter mais de vinte e cinco anos.
Essa mulher sob meus olhos de agora seria uma ótima garota de revista, mas não uma bibliotecária muito boa.
Levei meus olhos de volta para o mapa, o tirei das mãos dela e virei com o lado direito para cima devolvendo-o. Mais uma vez, depois de um olhar de soslaio para mim, seu rosto realizou um exercício quase idêntico de expressões como antes.
Inacreditável, pensei. Ela deve estar memorizando a coisa toda; primeiro da perspectiva do sul, e agora do norte! Memória fotográfica, provavelmente.
Atrás de mim, ouvi um cachorro latindo e pude ver Rachel e Hero correndo em nossa direção. A mudança que ocorreu com a mulher quando a criança e o cachorro chegaram até ela foi surpreendente.
Capítulo Dois
Quando a jovem se ajoelhou para se elevar ao nível de Rachel, seu rosto parecia tão altivo e cativante quanto o da criança. O rosto sério e pensativo de adulta foi sumindo completamente e ficando aparentemente esquecido. Eu pensei que ela era linda antes, mas agora, estava ensolarada, envolvente, quase angelical.
–Oi.– Disse Rachel.
A jovem sorriu para Rachel e tocou Hero com a mão, o que o levou a cair no cais, rolar de costas e expor sua barriga para ser esfregada. A mulher riu e agradeceu alegremente.
– O que aconteceu com a sua perna? – Rachel perguntou em português enquanto se ajoelhava e ajudava a colocar Hero em estado de êxtase.
A mulher sorriu para Rachel, balançou a cabeça e deu de ombros. Rachel tentou a mesma pergunta em francês, mas a mulher ainda não entendia. Destemida, a garota usava língua de sinais. A mulher fez sinais para ela.
Eles estavam tendo uma conversa silenciosa, mas eu não tinha ideia do que estavam dizendo.
Kaitlin se juntou a nós e eu vi a sobrancelha direita da minha irmã subir, com um pequeno sorriso curvando seus lábios enquanto me olhava. Talvez a marca vermelha de uma mão ainda estivesse visível na minha bochecha.
Quando a jovem se levantou, desta vez não pegando minha mão para obter assistência, sua expressão mudou mais uma vez. Ela estava bastante triste quando olhou da minha irmã para mim e de volta para Kaitlin.
–Essa é minha mãe. —Disse Rachel, voltando ao português, o idioma mais confortável entre nós três.
Kaitlin era uma cópia maior de Rachel; cachos loiros, olhos cinzentos, esbeltas. Suponho que alguém possa descrever minha irmã como bem definida, mas em suas calças cargo, blusa cambraia folgada, bolsos cheios de canetas, lápis, blocos de notas, repelente de insetos e uma lupa, era difícil perceber sua silhueta.
A jovem olhou para Rachel e com uma expressão interrogativa disse algo para ela.
–Mãe. —Explicou Rachel.
A mulher franziu as sobrancelhas, obviamente sem entender.
–O nome dela é Kaitlin – disse Rachel – minha mãe. Ela juntou os braços, balançou-os no berço e apontou para si mesma.
Isso me fez sorrir. Muitas vezes no passado, nós três colidimos com a barreira do idioma. Alguns meses antes, na cidade de Antalaha, em Madagascar, estávamos tentando comprar em um movimentado mercado de carne. Depois de dez minutos usando todas as palavras e gestos que conhecíamos, Rachel mugiu como uma vaca. Isso deixou todos na loja em um silêncio atordoado enquanto olhavam para a garotinha fazendo sons estranhos. O rosto do açougueiro se iluminou enquanto respondia com algumas palavras em seu idioma, mugindo como uma vaca também logo em seguida. Seus clientes começaram a rir e vários deles vieram ao nosso auxílio com sugestões sobre vários cortes de carne que poderíamos gostar. O açougueiro feliz trouxe bifes, carne moída e peito para nossa inspeção.
A jovem notou minha expressão divertida e me deu um olhar severo.
– Ele é meu tio Saxon – СКАЧАТЬ