Название: A Estrutura Da Oração
Автор: Diego Maenza
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Драматургия
isbn: 9788835403012
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O padre aceita a derrota da sua alma, renunciou a si mesmo e entrega-se à vontade de Deus. Prostra-se sobre o chão de azulejos frescos e reza, com o rosto caído sobre as mãos. “Meu Pai, se for possível, não me faças beber deste cálice. Contudo, não seja feita a minha vontade, mas sim a tua”. Confrontado por ter iludido a sua responsabilidade espiritual, o padre Misael tenta descansar, mas torna-se impossível conciliar o sono. Aproxima-se da janela e acaba por sentir a brisa que atinge o seu rosto e alivia o calor intenso.
O jovem entrou na profundidade do sono, e com ele a calamidade do pesadelo que não o abandona. Desta vez tenta, apesar da fragilidade da sua fissura, escapar dos suspiros da besta ciclópea que está a um passo de o alcançar com as presas cobertas de baba. Conhece o fim inevitável da sua história. O seu suor serão gotas de sangue que cairão sobre a terra. Uma explosão de calor impregnada no ar circula inutilmente sobre o corpo arrepiado do menino.
Todos sabemos que Deus, ao ser espírito, e o mais supremo de todos, não sente. Pelo menos não como este homem desgraçado, e muito menos como este pobre jovem pecador de um inferno inaugurado que nem sequer se concretiza. Está na hora de dormir, padre, descanse, que amanhã o mundo trará um novo começo. Deus não entende os seus suplícios.
Os ombros do padre Misael recebem um peso colossal. Exausto, prostra-se sobre a cama e fecha os olhos. O pesadelo da navalha e as orelhas voltarão a surgir do canto obscuro da culpa.
SEXTA-FEIRA
Doce e amargo
Panem nostrum quotidianum da nobis hodie…
PRIMEIRA ESTAÇÃO
A boca abre-se num bocejo que quebra um grito inaudível. A língua carregada e espessa obriga-o a engolir em seco com a amargura natural das manhãs. Lembra-se da queda da noite anterior. Não é a primeira vez que imita a antiquíssima prática de Onã, mas pode-se dizer que se afastou do pecado e se redimiu através de um vasto caminho de expiações e dolorosos dias de penitência. Os desejos mais elementares tomaram a forma de um coro agitado que dentro do seu corpo reclama satisfações que a sua alma não está disposta a consentir. E este facto dita a condenação. Sente o corpo sujo, regista a sua alma manchada, detesta a sua virilha. As suas mãos ficaram manchadas pela secreção e contempla sobreposta num ligeiro rasto, a camada rígida que o denúncia. Levanta-se da cama e lava abundantemente as mãos com sabão. Profere uma oração.
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SEGUNDA ESTAÇÃO
“Perdoa-me, Pai amado, são grandes os meus pecados, mas a tua bondade é maior. Aceita a minha oração. Não me afastes de Ti. Juro que tento suportar, Pai, esta carga que pesa sobre os meus ombros e que me oprime. Dá-me a graça da tua ajuda para continuar de pé, não deixes que os meus passos falhem, não permitas que a minha alma caia em pecado. Sê o meu protetor. Sê o meu guia. Ajuda-me, Senhor, a manter-me firme na tua palavra”.
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TERCEIRA ESTAÇÃO
De facto, é bom sentir o respeito que é dirigido à autoridade de um representante de Deus na terra. Estas senhoras asseguraram com êxito a minha ausência nos preparativos e presencio uma representação completa da Via Sacra traduzida pelos movimentos desajeitados dos meninos. Estão tão esbeltos. Principalmente o meu, transformado em homem ferido e seminú, preso no madeiro. Um impulso convida-me a olhar para a cómoda extensão das suas pernas pálidas, os pés que se esticam provocatoriamente, o volume que se forma nas suas calças e que na minha mente articula uma imagem pouco decente que afasto com uma oração renovada. Sinto despertar uma parte de mim. Peço aos céus que acabem com aquela traição do meu corpo.
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QUARTA ESTAÇÃO
“Como evitar, Pai amado, as ciladas do demónio? Como? Dá-me forças. Recorro à tua palavra, à tua sagrada palavra e me consolo”.
Após curtas invocações, surpreendo-me ao encontrar dentro do livro sagrado um selo da Virgem Maria. Observo as linhas que traçam o seu perfil, o olhar emanado para o céu, a magnificência com a qual o menino repousa sobre o seu ombro, inconsciente do destino que o aguarda. O rapaz chama-me. Deixo a Bíblia quase na beira da escrivaninha. Guardo o selo no bolso da camisa e saio. A comida está salgada, mas não reprovo o menino. O queijo, pelo contrário, esmaga-se no meu paladar, atenuando a sensação salgada. A doce amargura do vinho compensa o choque destes extremos.
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QUINTA ESTAÇÃO
Estou atento à atitude do miúdo, cujo lábio demonstra um traço de mímica que me permite pressentir a sua intenção de falar.
“Padre, estive a pensar sobre o que falámos ontem e não quero ir para o inferno. Quero cumprir as ações impostas por Deus”.
Olho para ele, surpreso. As suas palavras são um apoio para suportar este fardo que me atormenta, para fechar de uma vez esta persiana pesada do desejo que se mostra como uma escapatória fácil, imprudente, tentadora e prejudicial, e acabar, finalmente, com as minhas intenções.
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