Название: Spaghetti Paraiso
Автор: Nicky Persico
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Зарубежные детективы
isbn: 9788835400363
isbn:
Mas quando acontecia, eram dores, e aquela vez teria certamente acontecido.
O advogado que patrocinava a «parte contrária», efectivamente, era um certo Paceno. Achille Paceno.
Um gordo filho do papá, muito detestável como incapaz, muito rico (da família) como fanfarrão e cheio de si, muito ignorante quanto idiota. Tam quam sò sete, as qualidades negativas (cortado o «gordo» e o «rico», que sozinhos «não implicam», como se diz em gíria, mesmo porque tenho amigos assim, e são excelentíssimas pessoas). A mesma composição química da Ester nítrica sociológica. Um chato, um gato aferrado nos cancros e por ai adiante.
Mesmo sendo sensivelmente mais jovem que o meu «chefe», o advogado Paceno tinha começado desde cedo a faltar-lhe respeito. Era a clássica maçã podre, como existem em todas as categorias. Sendo incorrecto, sem girar bastante em torno, tinha conseguido fazer-se odiar mesmo pelo Spanna, que foi engordar as filas daqueles que o mantinham, como posso dizer, no estômago.
Uma vez um advogado, dirigindo-se a uma nuvem de colegas, durante a pausa de audiência, tinha dito: «rapazes, se tirarmos proveito daqueles que tem no palerma do advogado Paceno, às administrativas sai certamente um conselheiro comunal».
Mas era uma coisa de algum tempo antes. Hoje diz-se conselheiro regional.
Portanto sucumbir, mesmo que fosse apenas em primeiro grau, nós todos do escritório intuíamos que para Spanna constituía mais ou menos uma infâmia para lavar com o sangue. E só Deus sabe como Paceno tivesse conseguido, para vencer, e como se teria feito gabarolice, vaidoso como era.
Em suma, um mau dia. Mau dia para todos.
Mutolo pareceu tê-lo percebido. Era mais silencioso do normal e, se possível, tornou-se ainda mais invisível. Como o cão de casa, que quando há um nervosismo no ar move-se pouco e com a cabeça baixa, tendo predilecção pelos percursos apoiado nas paredes para não fazer-se notar. O cão de casa é a ultima roda da carroça e, no percurso social do vaso de barro entre aqueles de ferro, sabe que no fim alguém vai ralar-se com ele.
Intuía a sua concentração máxima. Creio que falava consigo mesmo, como uma oração védica, «eu não existo, eu não existo…»
Reparei-o. Temia que se desmaterializasse diante dos meus olhos a fúria de experimentar. Porque para poder ser mais invisível de como era, o desaparecimento material era a única possibilidade.
«Então, Mutolo», mostrou-me sereno, «tive uma relação para o recibo de gás contestada: está tudo resolvido.»
Sorrisos.
Mutolo levantou ligeiramente as pálpebras, e relaxou os músculos da coluna. Para um como ele, tal manifestação exterior era o equivalente do grito de um adepto quando a sua equipa marca.
«Obrigado, advogado», disse. Estava satisfeito, e me estimava.
Estava em condições de percebê-lo.
«Ehm… quanto lhe… quanto devo…» perguntou-me.
Tinha visto abastados empresários a sair do gabinete de Spanna sem por acaso proferida, aquele pedido: se Spanna – dada a espera vã – diziam eles algo movendo a iniciativa a propósito do honorário, mostravam-se confusos, fazendo às vezes mesmo a doce parte de desculpar-se por não tê-lo pedido. O esquecimento. Depois, talvez, pediam desculpa por não ter trazido o livro de cheques, mas de facto pagavam depois de meses.
Não era tão-pouco uma questão de esperteza, mas da falta daquela patologia rara e dramaticamente irremediável da qual Mutolo pelo contrário estava sujeito, denominada cientificamente «dignidade». Aliás agravada do respeito pelo trabalho alheio. Nos casos fulminantes, deixam poucos meses de vida diferenciados por atrozes sofrimentos.
«Nada, Mutolo, está bem assim, fiz apenas um fax, no fundo.»
Ao pronunciar estas palavras, levantei-me e lhe dei uma correspondência, embrulhada numa folha branca grande dobrada ao meio em forma de fascículo.
«Agora tens que me desculpar, mas tenho muito que fazer. Conservar com cuidado estes papéis. No caso de qualquer contestação, um amanhã, poderá exibi-los. Confirmaram o desagravo das somas a meio recomendadas. Quando chegar a chamo, assim vem buscar também aquela.»
Mutolo pegou o pequeno maço de papéis, enfiou com cuidado num bolso interno do casaco enorme, um bolso em forma de bolsa, e desapareceu. Creio que a porta tenha permanecido fechada à sua passagem.
Ele as atravessava sem abri-las, as portas: enfim estava certo.
Voltei aos meus pensamentos.
O dia tinha sido longo, e começava a sentir a fadiga. Devia ainda terminar a examinação dum fascículo. Uma questão do condomínio. Um assunto firmemente pouco cativante.
Mas Spanna tinha dito que devia relacionar eu sobre este novo contencioso recebido pelo escritório há pouco tempo. O cliente tinha brigado com o advogado que o assistia anteriormente e o tinha confiado a ele. Cabia a mim. Era experiencia e devia fazê-lo, e mesmo bem.
Com o mesmo entusiasmo dum condenado que se encaminha ao patíbulo, comecei a ler a ler volumosa documentação duma causa que se arrastava há anos. Quase depois de três horas, sabia (quase) tudo sobre a competência das despesas d o condomínio aferentes as projecções verticais das varandas e as goteiras.
Estava suficientemente, decidido.
***
Tinha fome, estava cansado, e Fanny estava desligando o computador. Sinais claros que para aquela noite era suficiente. Aguardava-me o meu jantar preferido.
Fanny, no entanto, estava quase na porta, e dirigiu um olhar interrogativo para mim, enquanto enfiava o tiracolo da carteira no ombro.
«Sim», disse respondendo à sua pergunta silenciosa, «saio eu também. Para hoje está bem assim.»
Ela extraiu as chaves e, trancada a porta, atrelou-se ao celular. Despedindo-se com um sinal, logo que esteve fora do protão, enquanto ainda estava o interlocutor do outro lado do telefone, desapareceu rapidamente na penumbra das ruas do centro da cidade.
Eu pensei nas enchovas e na cerveja, e pus-me a andar por minha vez.
Vivia com o meu pai. Um tipo tranquilo, tendo obtido a reforma há pouco tempo.
O meu jantar preferido, aquele que me aguardava, era composta por anacárdios, anchovas em azeite, damascos secos e cerveja gelada. Teria consumido lentamente diante da TV, tornado curioso pelo espectáculo da gente que, além do ecrã, agarravam-se pelos cabelos na tentativa de persuadir quem estava «do lado de cá». Uma vez chamava-se wrestling. Agora diz-se «debate»: desafios entre campeões da nova luta do século. O árbitro anuncia com orgulho o primeiro match, e os grupos rivais. «Esta noite temos no ringue o homem merda, da equipa dos patifes, que inicia o combate contra a mulher do mistério, da equipa dos falsos bons». Surpreendentemente ágil e endiabrado não obstante a figura atarracada, com laço e as mangas da camisa arregaçadas até ao cotovelo, o árbitro dava o sinal de inicio.
Deixavam-me mais curiosos, aqueles duelos.
Entre um anacárdio e uma enchova, СКАЧАТЬ