Название: Storey
Автор: Keith Dixon
Издательство: Tektime S.r.l.s.
Жанр: Триллеры
isbn: 9788873041719
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Paul pensou que talvez ela não quisesse que soubesse onde vivia.
Ficou ali com ela, a sentir a noite arrefecer à volta deles.
Disse: “Não tens de me dizer o que aconteceu ali dentro.”
“Ainda bem.”
“Mas tenho de saber – ele é mesmo teu namorado? Da maneira como o tratas, como um miúdo?!”
“Ele não se incomoda tanto como tu.”
“Como sabes?”
“Tu viste-o – tem um ar um bocado molengão mas é direto. Se tivesse um problema com qualquer coisa dizia-me ou livrava-se de mim”
“Não pareces muito preocupada.”
“Porque é que havia de estar? Há mais Marias na terra, et cetera.” Parecia cansada e talvez começasse a ressentir-se com as perguntas dele.
“Pergunto a mim mesmo como ele se sentirá neste momento” – disse Paul.
“Não percebes nada disto.”
Estava a tentar acabar com a conversa, pensou Paul, não gostava que lhe fizesse perguntas sobre o outro homem.
“Então, porque é que quiseste que eu viesse?” – perguntou, sentindo-se agora irritado com ela e querendo abalar a sua confiança.
“Achei que devias conhecê-lo.”
“Convencer-me de que tinhas um namorado para eu não ter muitas esperanças.”
Virou-se para ele e, por uma vez, o seu olhar era direto, até divertido. “Tens esperanças? És estúpido.”
Ele não sabia o que responder, pelo que abanou a cabeça, deu alguns passos como se estivesse à procura do táxi dela e depois virou-se para trás e viu-a a consultar as mensagens no telefone. Nunca largava a tecnologia. Perguntava a si mesmo se David estaria a observá-los da janela da frente e logo que lhe passou isso pela cabeça soube que era verdade. Fez um esforço para não verificar.
“Que é que faz o David?” – perguntou.
Ela levantou os olhos do telefone. “Estava a perguntar a mim mesma quando virias com essa. És obcecado pelo que as pessoas fazem, pelo modo como ganham dinheiro. Nunca te deixas ir simplesmente ao sabor da corrente, pois não?”
Paul pensou naquilo por um momento e não conseguia negar. Mas disse para consigo que era por ser naturalmente curioso em relação às pessoas, e não por ser abelhudo. “Talvez tenhas razão, mas não respondeste à pergunta” – disse.
“Trabalha para a Câmara que estou a investigar por corrupção. Contacto europeu, a arranjar dinheiro para cidade, daquele espólio todo de Bruxelas. Chega, como resposta? Graças a Deus, cá está o táxi. Tenho as mamas geladas.”
Paul viu o táxi afastar-se e, quando dobrou a esquina, regressou ao caminho e bateu à porta de David, perguntando a si mesmo que diabo estava a fazer e se tinha alguma coisa a ver com aquilo.
Quando David abriu a porta, Paul avançou, tornando claro que queria entrar, e o outro homem deu um passo tímido atrás. Paul entrou sem saber o que ia dizer, mas sabendo também que alguma coisa havia de sair.
David estava a olhar para ele, endireitando-se como que a tentar impor-se um pouco naquela situação, tentando afirmar-se.
Queria, sabe, pedir desculpa por ela. Pediu-me que viesse com ela esta noite mas não sei para quê” – disse Paul.
David estava a olhar pelo vidro martelado da porta de entrada, como se pudesse ver a sombra dela aparecer.
“Onde está ela? Foi-se embora?”
Paul reparou que ele tinha agora óculos, que lhe davam um ar de professor de geografia ou de arquivista. Não tinha mais de trinta anos e Paul perguntava a si mesmo quando arranjara tempo para participar em ralis automobilísticos africanos.
Disse a David que Araminta apanhara um táxi e, a seguir, voltou para o salão. Olhou em redor, à procura de sinais do que acontecera depois de lhe terem pedido que os deixasse a sós.
“Desculpe, que é que queria?” – perguntou David.
“Achei que ela tinha sido grosseira consigo. E quando vocês os dois saíram e se encontraram comigo no vestíbulo, você estava com ar de quem tinha sido atropelado por um camião. Não quero ser muito cruel, mas ela deixou-o?”
David franziu o sobrolho, sentou-se numa cadeira de braços com flores estampadas e inclinou-se para ele, enquanto Paul se sentava à sua frente, pensando que também devia pôr-se à vontade se iam ter uma conversa de homem para homem.
“Não, claro que não me deixou” – disse David. “Não é que você tenha algo a ver com isso.”
“Acontece-me muito.”
“Trabalha com ela, não é?”
“É um arranjo recente.”
“Então, sabe.”
“Sei o quê?”
“Foi por isso que ela veio cá falar comigo. E suponho que você era o apoio moral, caso ela precisasse.”
Paul não conseguia compreender o que estava a ouvir. Sabia que aquilo ia ser o núcleo da questão, o âmago da fraude, mas ainda não compreendia por que razão ela o tinha trazido consigo. Não havia maneira de poder dar-lhe qualquer apoio moral quando, desde logo, não tinha a certeza de que Araminta tivesse alguma moral.
“Que lhe disse ela?” – perguntou.
“Sabe, acerca do cancro.” David fixou o olhar na cara de Paul. “Oh! Talvez você não soubesse. Foi estupidez minha, agora dei com a língua nos dentes.”
Paul achou melhor não dizer nada, pelo que se limitou a olhar para o outro, que estava com o rosto branco como a cal.
David prosseguiu: “Bem, agora é tarde demais. Ela tem um cancro agressivo no pâncreas. Normalmente, não duraria muito, mas está inscrita num programa experimental que custa uma fortuna e está muito em segredo.”
“Que quer dizer com esse ‘em segredo’?”
David molhou os lábios. “Ela recomendou-me que não dissesse a ninguém, mas agora suponho que consigo já não vale a pena. Diz que está a ser desenvolvido em conjunto por uma empresa privada e pelo Ministério da Defesa. Não me pergunte porquê. De qualquer modo, envolve tecnologia genética e ninguém sabe de nada a esse respeito.”
Paul sentiu que estava de olhos esbugalhados mas não podia fazer nada. Para dizer alguma coisa, perguntou: “Que espécie de tratamento?”
David encolheu os ombros, evasivo, talvez a pensar que dissera demasiado. Mas acrescentou: “Só sei que é praticamente um segredo oficial e que ela vai estar inativa durante СКАЧАТЬ