De repente Stara vê Srog e Matus virando à esquerda, para uma pequena caverna na borda do precipício. Eles de alguma forma conseguem bater com os pés nas rochas, chegando a uma parada antes de caírem do penhasco.
Stara tenta enfiar seus saltos na lama, mas nada funciona; ela simplesmente gira e continua escorregando, e vendo o precipício se aproximando dela, ela grita, sabendo que ela chegaria ao fim em menos de um segundo.
De repente, Stara sente uma mão áspera agarrar a parte de trás de sua camisa, diminuindo sua velocidade e, em seguida, ajudando-a a parar. Ela olha para trás e vê Reece. Ele está se agarrando a uma árvore frágil, com um braço em torno dela, na beira do precipício, e o outro braço a segurando enquanto a água e a lama continuam a jorrar, empurrando-a para longe dele. Ela está perdendo terreno, quase pendurada sobre a borda do penhasco – ele havia interrompido sua queda, mas ela estava prestes a cair.
Reece não poderia continuar naquela posição, e ela sabe que se ele não a soltasse, em breve ambos morreriam juntos.
"Deixe-me ir!" Ela grita para ele.
Mas ele balança a cabeça com firmeza.
"Nunca!" Ele grita de volta com o rosto molhado pela chuva.
Reece de repente solta a árvore para poder segurar Stara com as duas mãos; ao mesmo tempo, ele envolve as pernas ao redor da árvore, segurando-se por trás. Ele a puxa para ele com toda força, suas pernas a única coisa que mantém os dois no lugar.
Com um movimento final, ele dá um grito e consegue afastar os dois da correnteza, movendo-se para o lado e empurrando Stara na direção da caverna com os outros. Reece então vai atrás dela, rolando para o lado e a ajudando a percorrer o restante do caminho.
Quando eles chegam à segurança da caverna, Stara desaba com a cara na lama, exausta, e muito grata por estar viva.
Enquanto ela fica ali, respirando com dificuldade, toda molhada, ela não se pergunta o quão perto havia chegado a morte, mas sim se Reece ainda a amava. Ela percebe que se preocupa mais com isso do que com sua própria vida.
Stara se senta em torno da pequena fogueira dentro da caverna, com os outros por perto, finalmente começando a secar. Ela olha em volta e percebe que os quatro parecem sobreviventes de uma guerra, com rostos amaciados, observando as chamas os braços estendidos, tentando se proteger do frio constante. Eles ouvem o vento e a chuva – os sempre presentes elementos das Ilhas Superiores, do lado de fora da caverna, e têm a sensação de aquilo não terminaria nunca.
É noite, e eles tinham esperado durante todo o dia para acenderem aquele fogo por medo de serem vistos. Finalmente, todos tinham ficado com tanto frio, cansados e infelizes, que haviam decido arriscar. Stara sente que tempo suficiente havia passado desde sua fuga e, além disso, não havia nenhuma maneira que aqueles homens se atreveriam a arriscar todo o caminho até aquele penhasco. O trajeto era muito íngreme e molhado, e se o fizessem, eles provavelmente morreriam tentando.
Ainda assim, os quatro estavam presos ali, como prisioneiros. Se eles pisassem do lado de fora da caverna, eventualmente, um exército de habitantes das Ilhas Superiores os encontraria e mataria todos eles sem pensar duas vezes. Seu irmão não teria piedade dela – essa não era uma possibilidade.
Ela se senta perto de um Reece distante e chocado, e pondera sobre os acontecimentos do dia. Ela havia salvado a vida de Reece na fortaleza, mas ele a tinha salvado da queda no penhasco. Ele ainda se importava com ela da mesma forma que antes? Da mesma maneira que ela ainda se importava com ele? Ou ele se sentia ressentido pelo que havia acontecido com Selese? Será que ele a culpava? Será que ele um dia a perdoaria?
Stara não pode imaginar a dor que ele estava sentindo enquanto ele fica sentado ali, a cabeça entre as mãos, olhando para o fogo como um homem que desolado. Ela se pergunta o que estaria passando pela mente dele. Ele parece um homem com nada a perder, um homem levado ao limite do sofrimento e que ainda não tinha retornado. Um homem atormentado pela culpa. Ele não se parece com o homem que ela conhecia, um homem cheio de amor e alegria, de sorriso rápido, que a tinha coberto de amor e carinho. Agora, em vez disso, é como se algo tivesse morrido dentro dele.
Stara olha pra frente, com medo de encontrar os olhos de Reece, mas com necessidade de ver seu rosto. Ela espera secretamente que ele estivesse olhando para ela, pensando nela. No entanto, quando ela olha para ele, seu coração se parte ao ver que ele não está olhando para ela. Em vez disso, ele apenas encara as chamas, com o olhar mais solitário e triste que ela já tinha visto.
Stara não pode deixar de se perguntar pela milionésima vez se o que existia entre eles tinha sido arruinado pela morte de Selese. Pela milionésima vez, ela amaldiçoa seus irmãos – e seu pai – por colocar em ação um enredo tão tortuoso. Ela sempre quis Reece para si mesma, é claro; mas ela nunca teria aprovado o plano que levou à sua morte. Ela nunca quis que Selese morresse, ou até mesmo que se machucasse. Ela esperava que Reece lhe desse a notícia de uma forma suave e que, embora chateada, ela fosse entender – e ela certamente não esperava que ela fosse tirar a própria vida – ou destruir a de Reece.
Agora todos os planos de Stara, todo o seu futuro, havia desmoronado diante de seus olhos, graças à sua horrível família. Matus é o único membro racional que resta em sua linhagem. No entanto, Stara se pergunta o que aconteceria com ele, com todos eles. Será que eles apodreceriam e morreriam ali naquela caverna? Eventualmente, eles teriam que deixar aquele lugar. E os homens de seu irmão, ela sabe, são implacáveis. Eles não desistiriam até que tivessem matado todos eles, especialmente depois que Reece havia matado seu pai.
Stara sabe que deveria sentir algum remorso por seu pai estar morto, mas ela não sente coisa alguma. Ela sempre havia odiado seu pai, e se qualquer coisa, ela se sente aliviada – até mesmo grata a Reece pode tê-lo matado. Ele tinha sido um guerreiro e um mentiroso e sem qualquer honra durante toda a sua vida, e jamais tinha sido um pai para ela.
Stara olha para aqueles três guerreiros, todos sentados ao redor da fogueira parecendo distraídos. Eles estavam em silêncio há horas, e ela se pergunta se algum deles tinha um plano. Srog estava gravemente ferido, e Matus e Reece tinham sido feridos também, embora seus ferimentos fossem menores. Todos parecem congelados até os ossos, abatidos pelo clima daquele lugar, pelas chances de sobrevivência diante deles.
"Então, vamos todos ficar sentados nessa caverna para sempre, para morrermos aqui?" Pergunta Stara, quebrando o silêncio, incapaz de suportar a monotonia e o clima pesado.
Lentamente, Srog e Matus olham para ela. Mas Reece ainda não olha para cima para encontrar seus olhar.
"E onde você gostaria de ir?" Perguntou Srog na defensiva. "Toda a ilha está cheia dos homens do seu irmão. Que chance temos contra eles? Especialmente agora que estão enfurecidos com a nossa fuga e pela morte de seu pai."
"Você nos meteu em uma enrascada, meu primo," diz Matus, sorrindo, colocando a mão no ombro de Reece. "Isso foi um ato corajoso de sua parte. Possivelmente, o ato mais ousado que já vi em minha vida."
Reece dá de ombros.
"Ele roubou minha noiva. Ele merecia morrer."
Stara se irrita com a palavra noiva . Isso parte seu coração. Sua escolha de СКАЧАТЬ