Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III. Luis de Camoes
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Название: Obras Completas de Luis de Camões, Tomo III

Автор: Luis de Camoes

Издательство: Public Domain

Жанр: Зарубежные стихи

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СКАЧАТЬ por vós a vida

      Ha de ser todo meu bem.

– oOo —Á MESMA DAMA

      Vejo-a n'alma pintada,

      Quando me pede o desejo

      O natural que não vejo.

Glosa

      Se só de ver puramente

      Me transformei no que vi,

      De vista tão excellente

      Mal poderei ser ausente,

      Em quanto o não for de mi.

      Porque a alma namorada

      A traz tão bem debuxada,

      E a memoria tanto voa,

      Que se a não vejo em pessoa,

      Vejo-a n'alma pintada.

      O desejo, que s'estende

      Ao que menos se concede,

      Sôbre vós pede e pretende,

      Como o doente que pede

      O que mais se lhe defende.

      Eu, qu'em ausencia vos vejo,

      Tenho piedade e pejo

      De me ver tão pobre estar,

      Qu'então não tenho que dar,

      Quando me pede o desejo.

      Como áquelle que cegou,

      He cousa vista e notoria,

      Que a natureza ordenou

      Que se lhe dobre em memoria

      O qu'em vista lhe faltou:

      Assi a mi, que não vejo

      Co'os olhos o que desejo,

      Na memoria e na firmeza

      Me concede a natureza

      O natural que não vejo.

– oOo —MOTE ALHEIO

      Sem vós, e com meu cuidado,

      Olhae com quem, e sem quem.

Glosa

      Vendo Amor que com vos ver

      Mais levemente soffria

      Os males que me fazia,

      Não me pôde isto soffrer;

      Conjurou-se com meu Fado;

      Hum novo mal me ordenou:

      Ambos me levão forçado,

      Não sei onde, pois que vou

      Sem vós e com meu cuidado.

      Não sei qual he mais estranho

      Destes dous males que sigo,

      Se não vos ver, se comigo

      Levar imigo tamanho.

      O que fica, e o que vem,

      Hum me mata, outro desejo:

      Com tal mal, e sem tal bem,

      Em taes extremos me vejo:

      Olhae com quem, e sem quem!

– oOo —AO MESMO

      Amor, cuja providencia

      Foi sempre que não errasse,

      Porque n'alma vos levasse,

      Respeitando o mal d'ausencia,

      Quiz qu'em vós me transformasse.

      E vendo-me ir maltratado,

      Eu e meu cuidado sós,

      Proveo nisso de attentado,

      Por não me ausentar de vós,

      Sem vós, e com meu cuidado.

      Mas est'alma, qu'eu trazia,

      Porque vós nella morais,

      Deixa-me cego, e sem guia;

      Que ha por melhor companhia

      Ficar onde vós ficais.

      Assi me vou de meu bem,

      Onde quer a forte estrella,

      Sem alma, qu'em si vos tem,

      Co'o mal de viver sem ella:

      Olhae com quem, e sem quem!

– oOo —MOTE ALHEIO

      Sem ventura he por demais.

Glosa

      Todo o trabalhado bem

      Promette gostoso fruito;

      Mas os trabalhos, que vem,

      Para quem dita não tem

      Valem pouco, e custão muito.

      Rompe toda a pedra dura,

      Faz os homens immortais

      O trabalho quando atura;

      Mas querer achar ventura,

      Sem ventura, he por demais.

– oOo —MOTE ALHEIO

      Minh'alma, lembrae-vos della.

Glosa

      Pois o ver-vos tenho em mais

      Que mil vidas que me deis,

      Assi como a que me dais,

      Meu bem, ja que mo negais,

      Meus olhos, não mo negueis.

      E se a tal estado vim

      Guiado de minha estrella,

      Quando houverdes dó de mim,

      Minha vida, dae-lhe a fim,

      Minh'alma, lembrae-vos della.

– oOo —MOTE ALHEIO

      Tudo póde huma affeição.

Glosa

      Tẽe tal jurdição Amor

      N'alma donde se aposenta,

      E de que se faz senhor,

      Que a liberta e isenta

      De todo humano temor.

      E com mui justa razão,

      Como senhor soberano,

      Que Amor não consente dano.

      E pois me soffre tenção,

      Gritarei por desengano:

      Tudo póde huma affeição.

– oOo —TROVA DE BOSCÃO

      Justa fué mi perdicion;

      De mis males soy contento;

      Ya no espero galardon,

      Pues vuestro merecimiento

      Satisfizo mi pasion.

Glosa

      Despues que Amor me formó

      Todo de amor, cual me veo,

      En las leyes, que me dió,

      El mirar me consintió,

      Y defendióme el deseo.

      Mas el alma, como injusta,

      En viendo tal perfeccion,

      Dió al deseo ocasion:

      Y pues quebré ley tan justa,

      Justa fué mi perdicion.

      Mostrándoseme el Amor

      Mas benigno que cruel,

      Sobre tirano traidor,

      De zelos de mi dolor,

      Quiso tomar parte en él.

      Yo СКАЧАТЬ