Название: Santa María de Montesa
Автор: AAVV
Издательство: Bookwire
Жанр: Документальная литература
Серия: Nexus
isbn: 9788491345107
isbn:
72. Secretorum Johannis XXII, a NLM, 1136, ff. 527r-528v (1332). El papa argumentava de manera semblant en una reclamació perquè el rei de Portugal no es quedés amb les responsions, NLM, 1136, ff. 341, 342 i 343 (1330).
73. NLM, 1136, ff. 529r-v i 530r (1332).
REFLEXOS EM PORTUGAL DE UM «MUNDO»
EM MUDANÇA
A origem da Ordem de Cristo no século XIV
Paula Pinto Costa FLUP - CEPESE
UM «MUNDO» EM MUDANÇA FORA DE PORTUGAL
Acre, ano de 1291. A 28 de maio terá tocado a rebate em Acre, situada em tempos idos no reino latino de Jerusalém e hoje em território israelita. O castelo de S. João de Acre capitulou. Não foi apenas mais um, entre outros que assinalavam a presença ocidental nos territórios latinos, pois foi o palco da última grande derrota. Nesse final de maio, al-Ashraf Salah-ad-Din Khalil, sultão do Egito, com essa vitória sobre os Hospitalários, responsáveis pela fortaleza nos últimos 100 anos, conduziria o reino de Jerusalém, criado em 1099 como resultado da 1.ª cruzada, ao fim de uma etapa histórica. As condições de permanência no território seriam insuportáveis para as poucas pessoas ocidentais que lá se encontravam. A 14 de agosto, os Templários abandonam o chamado Castelo do Peregrino, situado a sul de Haifa, sobre o mar Mediterrâneo. Esta retirada significa a perda do último bastião do Reino de Jerusalém, localizado a uma distância de quase 40 km a sul de Acre. Por força desta sequência de acontecimentos, afastam-se deste território e instalam-se numa minúscula ilha mediterrânica centralizada no castelo de Arwad, situada bem mais a norte, na mesma latitude do Chipre, onde permaneceriam até 1303.1
A associação destes factos com a cruzada constitui um profícuo campo historiográfico. Porém, a escassa clarificação conceptual e a falta de uniformidade no uso do termo cruzada, assumida como a mais famosa e distinta forma de guerra santa cristã, constituem, por vezes, limitações que marcam alguns estudos.2 A derrota de Acre, por alguns considerada o fim das missões cruzadas, não representou, como é sabido, uma interrupção deste tipo de movimentos, embora tenha conduzido ao afastamento definitivo dos cristãos ocidentais desse oriente latino. A cruzada continuou a desenvolver-se no contexto da sociedade e economia tardo-medievais e foi um elemento crucial ao nível das transformações nas relações mediterrânicas nos séculos XIII a XV, em boa medida devido aos interesses que recaíam sobre aquela área, já que uma parte da economia ocidental dependia do controlo dos acessos ao Levante e ao Mar Negro.
A sucessão de várias derrotas militares cristãs e a consequente perda contínua de posições territoriais contribuiu para a deterioração da situação militar e económica, ao longo do século XIII, impondo o reforço da colaboração do Ocidente com verbas e com recursos humanos. O Papa Gregório X convocou um concílio ecuménico, onde foi discutido sobretudo o problema do domínio da Terra Santa e a união das Igrejas latina e ortodoxa. Com efeito, em 1274, no II Concílio de Lyon, foi criada uma taxa a aplicar na Cristandade para subsidiar a cruzada. Gregório X (1271-76) conferiu a esta taxação uma base institucional firme, através da definição da atuação de 26 coletores. Na verdade, este concílio redefiniu o papel da cruzada no plano interno da Cristandade, tendo em conta a defesa do que restava dos estados cruzados da Terra Santa.3
Nestas circunstâncias, desenvolveram-se formas de atuação que favoreceram a tomada de consciência em relação a estes assuntos. No II Concílio de Lyon estiveram presentes, entre outros, Guilherme de Beaujeu, Mestre do Templo, e Guilherme de Corceles, cavaleiro do Hospital, este último que há mais de 30 anos servia no Leste, sendo profundo conhecedor da situação que aí se vivia. A sua missão era discutir a forma de ajudar a Terra Santa e de defender as Ordens Militares das críticas episcopais. Perante o avolumar dos problemas, as Ordens Militares queriam continuar a enviar pequenos contingentes (enquadrados na categoria do que se designou por passagium particulare) para reforçar a posição no Levante.4
Apesar de todos os esforços, Acre capitulou e os Estados Latinos da Terra Santa foram desmantelados. As reações fizeram-se sentir de imediato. A partir destes factos, desenvolveram-se várias opiniões sobre a prossecução da cruzada,5 embora, na sua maioria, de cunho utópico. O tema da «recuperatio» da Terra Santa foi abordado em diversos tratados escritos entre os anos 70 do século XIII e inícios do seguinte.6 Ramon Llull no «Tractatus de modo covertendi infideles», redigido pouco depois da tomada de Acre, propõe que Templários, Hospitalários e Teutónicos dividam áreas de influência e de competência no cenário mediterrânico. Porém, este mesmo autor, um pouco mais tarde, na «Epistola summo pontifici Nicolao IV pro recuperatione Terrae Sanctae», propõe que se organize uma única Ordem, a partir dos Templários, Hospitalários, Teutónicos, Santiaguistas e Calatravenhos, que poderia ser designada por «Spiritu Sancto». De acordo com o tratadista, esta nova Ordem seria encabeçada por um filho de um rei, que seria chamado «rex bellator» e seria confirmado pelo rei de Jerusalém.7 Esta solução teria algum eco em Portugal no reinado de D. João I, o primeiro monarca que entregaria a administração das Ordens Militares aos seus próprios filhos. Por outro lado, quando no Concílio de Vienne foi decretada a supressão do Templo, a consequente entrega dos seus bens aos Hospitalários poderia ser interpretada como uma forma de união, como já salientou Alan Forey.8 Em 1309, no tratado sobre a cruzada, intitulado «Liber de acquisitione Terrae Sanctae», Ramon Llull mantem-se firme na defesa da recuperação da cruzada,9 em função da enorme influência que recebe por parte dos interesses aragoneses e franceses.10
O nexo de causalidade entre o desfecho de Acre e a supressão da Ordem do Templo é fácil de estabelecer. Em palavras sucintas, a Ordem, que tinha assumido como objetivo crucial da sua missão a defensa da Cristandade, tinha acabado de dar provas da sua incapacidade militar no Mediterrâneo oriental. Esta razão, a par de outras mais específicas relacionadas com o seu percurso histórico junto da corte capeta, tornava evidente a acumulação de pretextos que ameaçavam o futuro dos Templários. As Ordens Militares (umas mais do que outras) ficaram expostas ao que podemos designar por crise de identidade sem precedentes, em virtude do falhanço de uma das suas missões primordiais. A procura de soluções foi, desde logo, ensaiada e as reações não tardaram. O próprio Mestre Jacques de Molay, em 1305, opôs-se à união dos Templários com os Hospitalários, argumentando que estes últimos tinham sido criados para tratar de doentes. Ao apontar esta especificidade fomentou, como é óbvio, o destino negativo da sua própria instituição.
A partir de 13 de outubro de 1307, altura em que Filipe IV de França mandou deter os Templários,11 criou-se o ambiente que conduziu ao Concílio de Vienne, reunido entre outubro de 1311 e maio de 1312, sobretudo para discutir o destino da Ordem do Templo. Como resultado, a Ordem do Templo foi suprimida em 22 de março de 1312, pela bula «Vox in excelso»,12 СКАЧАТЬ